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terça-feira, 31 de maio de 2011

A GRAÇA E A DEPENDÊNCIA - Parte 1 de 2


("Cresçam, porém, na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" - II Pedro 3:18-a)

            O sentimento de auto-confiança e independência que se observou no primeiro casal da história originou-se das falácias do pai da mentira, o qual foi retirado da presença de Deus por causa de sua presunção de querer ser igual a Deus, ou melhor, maior do que Ele. Tal sentimento foi transmitido em Adão, sendo a marca de uma natureza pecaminosa (iníqua). No universo, nenhum ser é ou pode ser independente. O Criador, o Soberano e Absoluto, o Todo-Poderoso, o Deus triúno, é o único ser totalmente independente dos demais. A trindade age sempre de comum acordo e, nesse aspecto do agir conforme o Seu propósito, ela é por assim dizer dependente de si mesma. Por isso, o Filho não veio fazer a Sua vontade enquanto esteve entre os homens, e o Espírito Santo não foi enviado para falar de Si mesmo, mas para revelar Cristo, que é a própria verdade.
         A graça e a verdade reveladas em Cristo são instrumentos da ação divina no universo e constituem-se fatores imprescindíveis na regeneração do espírito humano e na santificação da alma. Sem a manifestação da graça e sem a revelação da verdade não há fé, nem salvação, nem liberdade. Por isso, Jesus declarou: "E conhecerão a verdade, e a verdade vos libertará". E, ainda: "Se o Filho os libertar, vocês de fato serão livres" (João 8: 32 e 36). Entre Cristo e a verdade há perfeita simbiose e identificação. Ele veio cheio de graça e verdade, e faz-se revelar em nós por graça e por intermédio da verdade da Palavra de Deus. Somos regenerados pela Palavra (a verdade) e pelo Espírito (João 3:5).
            Em Filipenses 2: 5 a 10 lemos que a natureza de Cristo é uma natureza de submissão e obediência. Cristo é a expressão máxima da dependência que Deus-Pai quer dos Seus Filhos. Conquanto Seu nome tenha sido posto acima de todo nome, sendo dEle, por Ele e para Ele todas as coisas (tudo converge para Cristo), o Filho entregará todas as coisas que lhe foram sujeitas ao Pai, conforme determinado pela própria Trindade. Sem dúvida, Cristo é a essência da dependência, e a base dessa dependência é a união proveniente do amor, que é a própria essência de Deus. Quando somos alcançados por esse amor, podemos dizer como TER STEGEN: "Necessito de alguma lei para manter-me cativo a Ti? Cativo exulta meu coração; jamais quero ser livre aqui". GLÊNIO PARANAGUÁ, a propósito, escreveu:
"A vida cristã é um relacionamento de profunda liberdade nos limites do amor. A amizade do cristão é fruto do amor incondicional de Deus e da alegria prazerosa em obedecer a vontade de Deus determinada pela lei da liberdade e pelos ditames do amor. Como ensinava Sto. Agostinho: Ama e faze o que queres. Não há outro postulado nem outro mandamento capaz de tornar a vida mais significativa. Deus nos chamou para andarmos na liberdade do amor e assim provocarmos relacionamentos que evidenciem a natureza de sua graça inconquistável" (in Jornal "Semeador", estudo "Regulamento ou Relacionamento?", Ano 7, n°. 79, Maio/2002).
            A dependência e a obediência nos limites do amor é algo divino que nos é compartilhado por graça. Não é do homem natural depender nem obedecer. Para uma vida de dependência da vontade de Deus é preciso a operação da graça, isto é, a manifestação da vida de Cristo em nós. Cristo não é um exemplo a ser seguido; antes, uma pessoa que precisa viver em nós. Por isso, como bem observou J. E. CONANT, "a vida cristã não é vivermos com a ajuda de Cristo, é Cristo vivendo a Sua vida em nós". Crescimento na graça, portanto, implica necessariamente crescimento na dependência de Deus. Como Cristo se submeteu em tudo à vontade do Pai, a vida cristã normal é um viver de submissão constante aos desígnios da vontade divina. Quanto mais graça, maior a dependência. Quanto mais dependência, maior a operação da graça. Disso decorre a conclusão de que não somos chamados para um viver "feliz" do ponto de vista humano. Aos olhos dos homens, a vida cristã pode ser muito penosa, e de fato o é. JOHN BLANCHARD asseverou: "O chamado para o compromisso cristão não é basicamente um chamado para a felicidade, e sim um chamado às dificuldades". 
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CONTINUA...
 


segunda-feira, 30 de maio de 2011

A GLÓRIA DA SANTIFICAÇÃO - Parte 4 de 4


            DeVern Fromke afirmou: "Outros nunca encontraram o caminho da morte através da cruz, e ficam desapontados e confusos porque o velho homem recusa-se a ser purificado. A única solução de Deus para o velho homem é a morte. Deus não nos pede que tenhamos fé em algo que não funciona. Não podemos convencer-nos por muito tempo que o Sangue purificou quando o velho homem continua a reivindicar suas paixões impuras. Mas nossa fé pode descansar com segurança no fato de Deus ter aceitado o sangue aspergido; nossa consciência está limpa; fomos lavados na água pura da Palavra. Se estamos "vivendo e caminhando na Luz como Ele (mesmo) está na luz, temos comunhão... e o sangue de Jesus Seu Filho (continuamente) nos purifica (nossa consciência) do pecado e da culpa" (I João 1:7, trad. A. N. - as palavras em parênteses são do autor)" ("O Supremo Propósito", p. 86).
            A preocupação exacerbada que alguns têm em relação ao processo de santificação revela a tendência de o homem natural querer fazer as coisas por conta própria, inclusive ensinar a Deus como Ele deve agir em sua vida. Às vezes, nós mesmos, embora regenerados, enveredamos por esse caminho. Ora, o sacrifício de Cristo foi suficiente para nos tornar perfeitos nEle. Em Cristo, já fomos aperfeiçoados para sempre. Quem está em Cristo já é uma nova criatura (a Palavra não diz "será" uma nova criatura). O espírito do homem foi vivificado juntamente com Cristo. Cristo passou a ser a nossa vida. Se estamos sendo santificados na alma e no corpo, é por obra da graça, segundo a vontade de Deus.
          A propósito, o exemplo do chamado "bom ladrão"; aquele que foi salvo "na" cruz e "ao lado" da cruz. A salvação daquele homem se deu por fé, manifestada por graça nos últimos momentos de sua existência. Assim, aquele ex-ladrão sabe tanto do que é graça quanto eu, e na eternidade futura não disputarei com ele para saber quem é mais santo, porque o sacrifício de Cristo o aperfeiçoou tanto quanto a mim, e para Deus ele se tornou tão santo quanto Deus queria que ele fosse.
            Na realidade, a cruz exclui qualquer jactância. Retirou a do "bom ladrão", tem retirado a minha, e tem poder para retirar a de quem quer que seja. De fato, só o homem "crucificado com Cristo", morto para o "eu" e para o pecado tem condições de deixar de reivindicar qualquer glória para si. O homem natural, portador da natureza adâmica, da natureza do "querer ser igual a Deus" não admite a soberania de Deus, embora ela esteja explícita nas Escrituras e testificada pelas obras de Suas maõs.
PARA ELE
            A obra do calvário é poderosa o bastante para redimir a Igreja de Cristo e para santificá-la, a fim de apresentá-la perante Ele mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e sem defeito, cf. Efésios 5: 25 a 27. Em Colossenses 1: 22 e 23 lemos: "Mas agora ele os reconciliou pelo corpo físico de Cristo, mediante a morte, para apresentá-los diante dele santos, inculpáveis e livres de qualquer acusação, desde que continuem alicerçados e firmes na fé, sem se afastarem da esperança do evangelho, que vocês ouviram e que tem sido proclamado a todos os que estão debaixo do céu. Esse é o evangelho do qual eu, Paulo, me tornei ministro" (destacamos).
            Vemos que o propósito de Deus é fazer nova criação em Cristo, reconciliando consigo todas as coisas, tanto as que estão no céu quanto as que estão na terra, estabelecendo a paz pelo Seu sangue derramado na cruz (Colossenses 1: 19 e 20). Convergir todas as coisas em Cristo é o que Deus efetivamente tem feito ao longo da história do mundo. Isso é o veredicto do conselho da Sua vontade. Não nos cabe questionar, mas glorificá-lo por saber, através de Sua Palavra, que Ele nos quis fazer participantes do Seu Reino e de Sua natureza. Somos santos porque Ele é santo. Seremos tão santos quanto Ele nos queira fazer. Mais que isso: seremos apresentados perante Ele mesmo santos, sem defeitos, inculpáveis e livres de qualquer acusação. Quanto descanso encontramos nessa verdade!
        Deus nos livre de querermos produzir santidade por nosso esforço próprio. Certamente, ficaremos frustrados; as tentativas serão inócuas. Se ainda resta algum dúvida quanto à suficiência do tratamento gracioso da cruz que nos torna perfeitos em Cristo, que o Deus de toda misericórdia retire-nos do terreno da ignorância, desfaça qualquer jactância, e nos conduza pelo Caminho firme do Seu propósito, para que toda a glória, e a glória toda, sejam dAquele que nos providenciou tão grande e completa salvação.
 


sexta-feira, 27 de maio de 2011

A GLÓRIA DA SANTIFICAÇÃO - Parte 3 de 4

            ANDREW MURRAY comenta: "Um conhecimento superficial dos planos de Deus leva ao pensamento de que, sendo a justificação obra de Deus por meio da fé em Cristo, a santificação (crescimento) é obra nossa, a ser executada sob a influência da gratidão que sentimos pela libertação que experimentamos, e com a ajuda do Espírito Santo. Mas o cristão mais sincero logo descobre como a gratidão é fraca para fornecer o poder. Quando pensa que mais oração vai resolver, descobre que, ainda que seja indispensável, a oração não é suficiente. Muitas vezes o crente luta desesperadamente durante anos, até que ouve o ensino do Espírito, que glorifica Cristo novamente e O revela como nossa santificação, a ser apropriada somente pela fé". 

DELE

            A santificação é obra de Deus, e para que não reste dúvida, verificaremos outros textos da Palavra: "Disse ainda o Senhor a Moisés: "Diga aos israelitas que guardem os meus sábados. Isso será um sinal entre mim e vocês, geração após geração, a fim de que saibam que eu sou o Senhor, que os santifica" (Êxodo 31: 12 e 13); "Obedeçam aos meus decretos e pratiquem-nos. Eu sou o Senhor que os santifica" (Levítico 20:8); "Vocês serão santos para mim, porque eu, o Senhor, sou santo, e os separei dentre os povos para serem meus" (Levítico 20:26); "Ele é o Deus que me reveste de força e torna perfeito o meu caminho" (Salmos 18:32); "Que o próprio Deus da paz os santifique inteiramente. Que todo o espírito, a alma e o corpo de vocês sejam preservados irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Aquele que os chama é fiel, e fará isso" (I Tessalonicenses 5: 23 e 24) (todos os grifos nossos).

POR ELE

            A nossa santificação decorre do caráter santo de Deus. Ele quer nos tornar santos, porque só assim poderemos conviver com a Sua santidade. Como já dissemos, a vida de Cristo em nós é que nos torna santos. Cristo é o "verbo de Deus". Ele é a própria verdade através da qual somos santificados: "Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revertir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade" (Efésios 4: 22 a 24). Na oração sacerdotal, Jesus ora pelos discípulos: "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade" (João 17:17). E, ainda: "Em favor deles eu me santifico, para que também eles sejam santificados pela verdade" (João 17:19). O autor da carta aos Hebreus declara: "Ora, tanto o que santifica quanto os que são santificados provêm de um só. Por isso Jesus não se envergonha de chamá-los irmãos" (Hebreus 2:11); "Pelo cumprimento dessa vontade fomos santificados, por meio do sacrifício do corpo de Jesus Cristo, oferecido uma vez por todas" (Hebreus 10:10); "Porque, por meio de um único sacrifício, ele aperfeiçoou para sempre os que estão sendo santificados" (Hebreus 10:14) (os grifos não constam no original).
            Vemos que é através da Palavra que estão sendo santificados os que Cristo já aperfeiçoou por Seu sacrifício. Quando diz "fomos santificados", o autor alude à separação, à morte do pecado (e da morte) na morte de Cristo. Isso é um fato do passado, de efeitos eternos, que se manifesta mediante a fé que nos é dada continuamente. Entretanto, quanto mais mergulharmos na Palavra de Deus, quanto mais a verdade operar em nossas vidas, mais santo seremos, pois a Palavra é a água que promove o lavar regenerador e santificador.
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CONTINUA...

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A GLÓRIA DA SANTIFICAÇÃO - Parte 2 de 4


            DeVern Fromke explica que a salvação do homem envolve 4 estágios: 1°.) a libertação da punição do pecado (morte); 2°.) a libertação da tirania do pecado (escravidão); 3°.) a libertação do poder do pecado (lei); 4°.) a libertação da presença do pecado (quando recebermos a redenção do corpo). Em todas essas etapas, a ação de Deus é soberana, graciosa e eficaz. O homem nada pode fazer para obter a redenção, a libertação, a santificação ou a glorificação.
            No aspecto da santificação, o homem é tão impotente quanto no que diz respeito à redenção. Se o homem pudesse fazer algo para salvar-se a morte de Jesus seria desnecessária. De igual modo, se a santificação pudesse ser operada pelo próprio homem, quão desgraçado ele seria! Inócuas são todas as tentativas de o homem santificar-se. A santificação é obra da graça divina, operada mediante a vivificação pela Palavra de Deus: "Este é o meu consolo no meu sofrimento: a tua promessa dá-me vida" (Salmos 119:50); "Conforme as tuas ordens, tudo permanece até hoje, pois tudo está a teu serviço. Se a tua lei não fosse o meu prazer, o sofrimento já me teria destruído. Jamais me esquecerei dos teus preceitos, pois é por meio deles que preservas a minha vida" (Salmos 119:93); "Passei por muito sofrimento; preserva, Senhor, a minha vida conforme a tua promessa" (Salmos 119:107); "Dirige os meus passos conforme a tua Palavra, e não permitas que nenhum pecado me domine" (Salmos 119:133). Se somos regenerados pela Palavra, também por ela somos santificados. A santificação é, pois, um estágio da salvação operado pela graça, pela manifestação da Palavra de Deus, da verdade, da vida de Cristo em nós: "Se quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu filho, quanto mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua vida" (Romanos 5: 10 e 11).
            Tenho aprendido uma verdade que me consola: Deus não me fará mais santo do que Ele quer que eu seja. Paulo é um exemplo claro disso. Conquanto muito se especule sobre o que seria o "espinho na carne" do apóstolo, o que interessa notar de sua experiência é que esse seu problema não lhe agradava, e ele instava com Deus para que o espinho fosse retirado. A resposta de Deus talvez não tenha sido aquilo que Paulo esperava, mas certamente foi aquilo de que ele necessitava: "A minha graça te basta, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza" (II Coríntios 12:9-a). É necessário que entendamos o quanto somos fracos e incapazes de produzir por conta própria qualquer "fagulha de santidade". É preciso entendermos que Cristo foi feito por Deus para nós não apenas redenção, mas também sabedoria, justiça e santificação (ou santidade). Se quisermos ser mais santos é necessário que haja uma maior manifestação ou revelação de Cristo em nós, e isso só se dá por graça. Importa que Cristo cresça e que o "eu" diminua, o que representa a "cruz diária", o "levando por toda parte o morrer de Jesus, para que a vida de Cristo se manifeste em nossos corpos mortais". É necessário que bebamos constantemente do "cálice da morte", o qual só encontramos na Palavra de Deus, e dEle nos apropriarmos pela fé que a nós é outorgada por graça, pela ação graciosa da Palavra e do Espírito. Eis o motivo da conclusão de Paulo em sua experiência antes indicada: "Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim" (II Coríntios 12:9-b). Note que Paulo diz "eu me gloriarei nas minhas fraquezas", não em "minhas forças", ou em "minha capacidade de realização", ou "minha inteligência", ou em "minha experiência". Alguém já disse que a glória de Paulo era não ter glória. Essa deve ser a glória de todo cristão, pois toda a glória pertence a Deus, quer admitamos ou não.
            Conforme o texto base, dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas. Se "toda" a glória é dEle, como poderemos excluir de Deus a glória da santificação? Por intermédio do profeta Jeremias, Ele testifica: "Não se glorie o sábio em sua sabedoria nem o forte em sua força nem o rico em sua riqueza, mas quem se gloriar, glorie-se nisto: em compreender-me e conhecer-me, pois eu sou o Senhor e ajo com lealdade, com justiça e com retidão sobre a terra, pois é dessas coisas que me agrado, declara o Senhor" (Jeremias 9: 23 e 24). Por isso, o ensinamento de Paulo: "Quem se gloriar, glorie-se no Senhor" (I Coríntios 1:31). 
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CONTINUA...

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A GLÓRIA DA SANTIFICAÇÃO - Parte 1 de 4


("Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre! Amém" - Romanos 11:36)

            Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo representam um ser único, absoluto, infinito e ilimitado. Sua onisciência, onipresença e soberania são atributos que extrapolam a capacidade de compreensão de nossa mente humana finita, limitada e, com o perdão da expressão, estúpida. A revelação do Espírito Santo é imprescindível no mister de entendermos um pouco que seja da grandeza daquele que nem os altos céus podem conter. Ninguém conhece os pensamentos de Deus, senão o Espírito de Deus, o qual por graça vem regenerar o ser humano morto, condenado, caído e escravizado pelo pecado. Uma vez regenerado, o homem passa a entender, ainda por revelação da Palavra e do Espírito, um pouco da realidade de Deus, pois afinal ele se torna participante da natureza divina.
            Nessa condição, passamos a aprender na experiência cotidiana a enorme distância entre a santidade de Deus e a perversidade da natureza humana. O pecado fez estragos profundos no ser humano. Ele é o motivo do caráter rude da cruz. Se o representante primeiro da raça humana tivesse livre e espontaneamente procurado partilhar da natureza divina, alimentando-se da árvore da vida, ao invés de buscar a "grandeza" da árvore do conhecimento do bem e do mal, a cruz não teria sido tão cruel nem para Jesus nem para o próprio homem. O projeto de Deus para a humanidade sempre foi a cruz. Bem por isso, Cristo é o Cordeiro que foi imolado antes da fundação do mundo. "Façamos o homem à nossa imagem e conforme à nossa semelhança" foi a conclusão do "concílio da trindade". Tal decisão não foi revogada com a queda do homem, e nem havia sido implementada inteiramente antes dela. Adão e Eva foram feitos à imagem de Deus apenas (Gênesis 1:27), e tal imagem foi perdida na queda, tendo Adão transmitido aos seus descendentes tanto sua imagem quanto sua semelhança de pecador (Gênesis 5:3). A imagem e semelhança de Deus só podem ser obtidas em Cristo, este sim a "imagem do Deus invisível" em quem habita "toda a plenitude da divindade" (Colossenses 1: 15 e 19).
            A cruz, portanto, não foi um incidente na história. Ela faz parte dos planos eternos da divindade. Ela é a própria essência do caráter de Deus. A semelhança de Deus não poderia ser partilhada com o homem sem a cruz. A queda do homem, antes que ele participasse da natureza de seu Criador, só veio revelar ao próprio homem o caráter rude daquela cruz, pois a obediência, a submissão e a humildade tornaram-se coisas tão absurdas quanto inatingíveis ao pecador. Assim, ainda que não pecasse, Adão teria de partilhar da cruz, mas certamente a operação não seria tão traumática, nem para o Deus Filho nem para os filhos que Ele teve de redimir pela manifestação desse sacrifício no tempo da história.
            A cruz sempre foi a posição proposta para o homem. Adão não entendeu o propósito divino, tendo escolhido em lugar da obediência a auto-suficiência. Essa é a marca do pecado: a independência de Deus, que gera inevitavelmente a separação de Deus (morte espiritual). O propósito de Deus, todavia, continuou firme, porquanto não poderia ser abalado por nenhum acontecimento da história. A queda do homem, conquanto lamentável, fez surgir o caráter redentivo da cruz, o qual certamente fazia parte dos planos de Deus, do contrário ele não teria criado um ser dotado de livre-arbítrio; seria mais fácil criar robôs. É certo que com o pecado o homem perdeu a liberdade de escolher obedecer ou não a Deus: a escolha entre o bem e o mal. Com efeito, o pecador só é livre para pecar. Esta passou a ser a característica de sua natureza: a escravidão do pecado. Portanto, tudo o que diz respeito à salvação desse ser desgraçado pelas conseqüências do pecado depende unicamente de Deus.
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CONTINUA...
 

terça-feira, 24 de maio de 2011

ONDE ELE ESTÁ? - Parte 3 de 3

            Ora, se o reino de Deus está dentro de nós; se somos o santuário do Espírito Santo, o santuário do Deus vivo, onde Cristo pode ser encontrado? A resposta é: Dentro de nós, entre os que estão vivos, não entre os que estão mortos. Como se pode saber quem está vivo ou morto? ROMANOS 8: 9-B - "Quem não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele"; JOÃO 3: 3 e 5 - "Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo". "Digo-lhe a verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito". Quando alguém nasce de novo passa a enxergar o Reino de Deus, que é um reino espiritual, mediante a ação do Espírito Santo. Cristo passa a ser a vida do regenerado, porque o Espírito de Cristo foi nele implatado; fez dele habitação, morada, santuário. Então, é possível saber se alguém vive a partir do seu testemunho. Você já nasceu de novo? Então você já está "morto para o pecado e vivo para Deus em Cristo Jesus", conforme lemos em ROMANOS 6:11.
             Se Cristo é a vida, só posso dizer que estou vivo se Ele habitar em mim. Como ele passa a habitar em uma pessoa? Mediante a vivificação pela Palavra e pelo Espírito Santo, que nada mais é do que a regeneração, o novo nascimento. JOÃO 3:6 - "O que nasce da carne é carne; o que nasce do Espírito é espírito". Para termos vida precisamos nascer do Espírito; não basta nascer da carne. Não basta nascer uma vez, é preciso nascer de novo, nascer do Alto, nascer de Deus (expressões correlatas). Como pode Cristo ser encontrado entre os que estão vivos nele? Mediante a manifestação da Palavra de Deus. O regenerado, aquele que está vivo em Cristo, alimenta-se da Palavra de Deus, que é o próprio Cristo: JOÃO 6:53 - "Eu lhes digo a verdade: Se vocês não comerem a carne do Filho do homem e não beberem o seu sangue, não terão vida em si mesmos". Assim, só temos vida porque o Espírito de Cristo habita em nós e, assim, passamos a nos alimentar de Cristo. Cristo é a nossa vida. Ele é o nosso sustento.
             Alguém poderá indagar: O que significa comer a carne e beber o sangue? Sem dúvida, tratam-se dos dois aspectos da alimentação: Comida e Bebida. A alimentação é fundamental para a manutenção da vida. Portanto, só podemos viver porque nos alimentamos de Cristo, o qual é a nossa vida. "Comer a carne" significa vir a Cristo; "beber o sangue" significa crer em Cristo: "Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede" (João 6:35). É mister considerar que nós não vamos a Cristo por conta própria, mas o Pai nos atrai a Ele, mediante a obra de fé. Confira-se os textos a seguir: JOÃO 6: 29; 44; 45; 63 a 65. É preciso crer que Cristo nos atraiu em seu corpo, fazendo-nos participantes da sua morte e da sua ressurreição, conforme declara a Palavra nos textos a seguir: JOÃO 12: 32 e 33; II CORÍNTIOS 5: 14 e 15; COLOSSENSES 3: 1 a 3; EFÉSIOS 2: 4 a 7. Deus nos atrai a Cristo, operando em nós a vivificação e outorgando-nos a fé para crermos em nossa morte e ressurreição com Cristo.

CONCLUSÃO

            Não procure Cristo entre os mortos. Se procurá-lo entre os vivos, notará que só poderá achá-lo na Palavra, que é o próprio alimento dos vivos, e pela ação da mesma graça e misericórdia que os alcançaram. Note que o Cristo que habita na nova criatura é a própria Palavra de Deus, conforme lemos em JOÃO 1: 1, 10 e 14. Assim, não o busque em religiões, denominações, igrejas ou grupos de pessoas, mas procure-o na Palavra, que é Cristo e, por conseguinte, manifesta Ele mesmo. SINVAL TEÓFILO foi feliz ao pontuar: "Entre Jesus e a Palavra, há perfeita harmonia e identificação. Ambos procederam do Pai: Cristo, como o eterno Verbo encarnado; e a Escritura, como o eterno Verbo falado e escrito. Cristo identificou-se com a Verdade e a Verdade ajustou-se a Ele. Está impresso nas Escrituras a marca da eternidade, imutabilidade, infalibilidade e suficiência de Cristo, no que concerne à Redenção do pecador e a reconciliação universal com Deus. Todo aquele que reconhece o senhorio absoluto do Senhor Jesus, fundamenta a sua fé e obediência na Sua Palavra".

            NORMAN DOUTY, por sua vez, aconselha:

"Simplesmente olhe para Ele através da Palavra. Abra a Palavra com um só propósito que é o de encontrar o Senhor. Não para abarrotar a sua mente de coisas a respeito da Palavra santa, mas abra-a para encontrar-se com o Senhor. Que ela seja um meio, não de educação bíblica, mas de comunhão com Cristo. Olhe para o Senhor".

                        Que possamos continuar firmes, crendo e nos alimentando dessa Palavra, a qual revela Cristo, a qual se confunde com o próprio Cristo.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

ONDE ELE ESTÁ? - Parte 2 de 3


NEM AQUI, NEM ALI, MAS NA PALAVRA

            Se é verdade que há muitos "mortos" procurando por Cristo, em nossos dias, não é menos verdade que muitos estão correndo para os templos das igrejas em busca de muitas coisas, menos de Cristo. Dentre essas, destacamos sinais (línguas estranhas, sopro do espírito, dente de ouro); curas (das enfermidades da alma e das doenças do corpo); libertação (dos demônios reais e imaginários); prosperidade material; prosperidade nos relacionamentos (há uma igreja em Brasília que promove toda semana um culto para a prosperidade dos homens e outro para a fertilidade das mulheres - fertilidade não apenas no aspecto biológico, mas também sentimental, emocional, relacional); marido/esposa; namorado/namorada; amizades; convívio social; entretenimento para a alma; divertimento para o corpo e relaxamento para a mente (Pasmem! há muitas igrejas promovendo danças, boites, esporte e lazer durante os cultos e programações de jovens, a exemplo de skate e escalada na parede dentro do templo. Sou testemunha ocular dessas peripécias).
             Por outro lado, dentre aqueles que estão em busca do Cristo, da verdade, de um sentido para as suas vidas, muitos sabem que só podem ir a Deus por intermédio do Filho. Todavia, não conseguem encontrar o Filho, ou o Cristo que procuram. Isto porque "aquele que vive" não pode ser achado entre os mortos. Há muitas pessoas procurando por Cristo em coisas, pessoas e lugares nos quais não se detectam sinais de vida. Vivemos aquele tempo profetizado por Jesus em MARCOS 13:22 - "Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão sinais e maravilhas para, se possível, enganar os eleitos". Aqui fica claro que os eleitos não podem ser enganados. Se há algum eleito de Deus sendo enganado é porque ele ainda não recebeu o "chamado do alto". Tão logo a redenção subjetiva seja uma realidade, quando ele for regenerado, quando Cristo for revelado nessa pessoa (a eleição é em Cristo), as escamas dos seus olhos cairão e tal pessoa passará a enxergar, como aquele cego de nascença descrito em JOÃO 9, sendo capaz de discernir onde Cristo está e onde Ele não está.
             Falsos profetas e falsos cristos têm proliferado por toda parte. Nos arraiais cristãos (católicos, evangélicos, ortodoxos...) e fora deles. Surge, de quando em vez, algum maluco dizendo ser ele próprio o Cristo, o que seria mais trágico se não fosse cumprimento de profecia. Em MARCOS 13:21 lemos: "Se alguém lhes disser: "Vejam, aqui está o Cristo". Ou "Vejam, ali está ele" não acrediteis". É muito comum encontrarmos placas, até outdoors, em frente aos templos sugerindo não apenas a presença de Cristo, mas de uma vida que muitas vezes não existe: "A PAZ TEM NOME: JESUS. VENHA CONHECÊ-LO"; "VENHA FAZER PARTE DA FAMÍLIA DE DEUS CONOSCO"; "UMA IGREJA VIVA PARA O DEUS VIVO" são expressões usadas para indicar a presença de Cristo, de vida, nas comunidades ditas evangélicas. O incauto, o desavisado, fica confuso: "Se Cristo Jesus é um só" - pergunta ele - "como ele pode estar em religiões tão diferentes, e em denominações da mesma religião tão inimigas umas das outras?".
             É preciso esclarecer (e as igrejas de um modo geral omitem, por ignorância ou por má-fé) que Cristo não está confinado em religiões, denominações ou templos religiosos. A igreja na qual certamente Cristo está é a igreja dele mesmo, o seu corpo, a sua noiva. Tal igreja não está limitada nem no tempo, nem no espaço, conquanto esteja sendo redimida na história do tempo e no tempo da história. Ela é, por assim dizer, universal e atemporal - ATOS 17: 24 e 25: "O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há é o Senhor dos céus e da terra, e NÃO HABITA EM SANTUÁRIOS FEITOS POR MÃOS HUMANAS. Ele não é servido por mãos de homens, como se necessitasse de algo, porque ele mesmo dá a todos a vida, o folego e as demais coisas" (destacamos); I CORÍNTIOS 3:16 e 17 - "Vocês não sabem que são santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vocês?". Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; pois o santuário de Deus, que são vocês, é sagrado"; I CORÍNTIOS 6: 19 e 20 - "Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de si mesmos? Vocês foram comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o seu próprio corpo"; II CORÍNTIOS 6:16 - "Que acordo há entre o templo de Deus e os ídolos? Pois somos santuário do Deus vivo. Como disse Deus: 'Habitarei com eles e entre eles andarei; serei o seu Deus e eles serão o meu povo". A Palavra santuário nesses textos tem o sentido de habitação (naió, "habitar", derivada de naos). LUCAS 17: 20 e 21 - "Certa vez, tendo sido interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus respondeu: "O Reino de Deus não vem de modo visível, nem se dirá: 'Aqui está ele, ou 'Lá está'; porque o reino de Deus está entre vocês".
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sexta-feira, 20 de maio de 2011

ONDE ELE ESTÁ? - Parte 1 de 3


("Amedrontadas, as mulheres baixaram o rosto para o chão, e os homens lhes disseram: "Por que vocês estão procurando entre os mortos aquele que vive?"" (Lucas 24:5)



INTRODUÇÃO 


            As boas novas de que Cristo ressuscitara foram anunciadas às primeiras visitantes de seu túmulo, a saber: Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago. Os anunciadores foram anjos, mensageiros dos céus, cujas roupas "brilhavam como a luz do sol". Na manhã do primeiro dia da semana tudo era luz. A Luz que estava no mundo brilhava, e brilharia ainda mais. A viva esperança haveria de pulsar, viver para sempre no coração do povo de Deus, pois Cristo ressuscitara. O autor da vida não poderia ser retido pela morte. A promessa do Messias teve seu cumprimento na obra acabada do Cristo, que mais tarde ascenderia (como de fato ascendeu) aos céus, dando início ao ministério do Espírito Santo. Perto estava de se cumprir em nós o que Jesus prometera: "Porque eu vivo, vocês viverão" (João 14:19).
            Nesse pensar, podemos entender quão abrangente pode ter sido a pergunta dos anjos contida na passagem bíblica em epígrafe. Trata-se, ao nosso ver, de uma indagação que não se limita às circunstâncias em que foi feita, mas se projeta para uma realidade espiritual eterna. É uma pergunta profunda, séria (conquanto adornada de felicidade pela realidade que encerra), intrigante, revolucionária. Trazendo para nossos dias, cumpre-nos indagar: por que tantas pessoas estão em busca dAquele que vive entre os mortos? Por que tantos buscam a Cristo em meio a tantos impostores, falsos mestres, profetas enganadores, púlpitos enganosos, curandeiros, sabotadores e adulteradores da Palavra de Deus? Como se pode pretender encontrar vida em um "cemitério espiritual"? Há incontáveis igrejas modernas que mais parecem o "vale dos ossos secos" da visão do Profeta Ezequiel: uma multidão de "ossos" sem vida, sem expressão, sem afeição, sem fé, sem o futuro que dizem ter. Se Deus não usar de misericórdia, e não regenerá-los, esses ossos jamais poderão viver.

MORTOS QUE ENTERRAM MORTOS

            Não podemos nos impressionar com a rotina dos "mortos que enterram mortos", nem nos embaraçar com ela. Somos chamados para seguir a Cristo Jesus. Ele é a porta pela qual entramos, e o caminho que hoje trilhamos; a verdade da qual não nos afastamos; a comida que nos alimenta; a vida pela qual nos movemos, e respiramos, e existimos; o jugo que compartilhamos; o fardo que carregamos. Nele encontramos descanso para as nossas almas. Ele é o único e verdadeiro alívio para os que estão cansados e sobrecarregados de si mesmos.
            Todos aqueles que pertencem a Cristo foram vivificados pelo Seu Santo Espírito. Quem tem o Espírito de Cristo a Ele pertence. Quem não tem o Espírito permanece morto (no aspecto espiritual), separado da glória do Pai, alheio à Sua vontade e propósito. Estes são aqueles de quem Jesus testificou: "Onde houver um cadáver, ali se ajuntarão os abutres" (Lucas 17:37). Que tristeza é ver tantos cadáveres ambulantes em busca de solução para os problemas mais ordinários e mesquinhos à parte da graça de Deus!. Pior ainda é ver tantos "abutres" se alimentando da ignorância, da miséria, da pretensa piedade e do efêmero contentamento alheio. Todos esses, os que enganam e os que são enganados, serão deixados para trás quando Cristo vier buscar Sua igreja, por não possuirem o azeite em suas lâmpadas, o "selo do Espírito". 
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quinta-feira, 19 de maio de 2011

A CULPA É DOS CONDENADOS - Parte 4 de 4


           A solução da morte, ademais, adequou-se às exigências da lei que o próprio Deus criou e que, portanto, não poderia ser revogada. Somos justificados por meio da nossa co-morte com Cristo. Cristo não veio revogar a Lei, mas cumpri-la. Eis porque Ele declarou em João 12: 32 e 33 que atrairia todos os pecadores em Sua morte, satisfazendo assim os ditames legais originados nas recâmaras do poder legislativo divino.
            O escrito de dívida que nos exigia a morte foi cravado na cruz, precisamente porque a natureza pecaminosa, isto é, nosso pecado, foi crucificado com Cristo. Cristo atraiu o nosso “eu” a si mesmo em Sua morte, destruiu nossa natureza pecaminosa, enterrou o pecado juntamente com Seu corpo, e na Sua ressurreição nos deu a Sua vida. Disso decorre que o homem precisa ser regenerado, não apenas justificado. A justiça satisfeita, por si só, nos deixaria na morte de Cristo. Mas a graça revelada em Seu sacrifício nos propiciou algo mais: a vida eterna. O apóstolo Pedro deixa transparecer em sua primeira carta que nós fomos regenerados através da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos (I Pedro 1:3). Ou seja, a morte de Cristo foi a minha morte, assim como a Sua ressurreição foi a minha ressurreição, oportunidade em que me foi outorgada a vida eterna, que é a própria vida de Cristo em mim.
            A libertação do pecado é uma realidade àquele que foi regenerado em Cristo. Ela se verifica quando perdemos a natureza do pecado e ganhamos a vida de Cristo. A lei do pecado é substituída pela lei do Espírito de vida. Aquele que está em Cristo é nova criatura. Sabemos que estamos em Cristo, e ele em nós, mediante o Seu Espírito que nos foi dado (I João 4:13), o mesmo Espírito que nos vivificou juntamente com Cristo e que nos outorgou a fé em nossa identificação com Cristo, em nossa união eterna com Ele. As cadeias da morte e do pecado foram desfeitas. A prisão que parecia perpétua foi transformada em liberdade e vida eterna. Não que enquanto em vida não estejamos mais sujeitos ao erro. Ao contrário, sabemos exatamente onde falhamos; reconhecemos a finitude e as limitações do corpo; detectamos a fraqueza da alma; enxergamos o que é imperfeito, mas agora sob a ótica do Perfeito que vive em nós através do Seu Espírito.
            Nada pode tornar alguém justo perante Deus, exceto a fé que Ele mesmo concede aos que regenera. Quem crê em Cristo não é condenado, mas quem não crê já está condenado, e todos nós somos incrédulos por natureza, e condenados desde o nascimento. “Este é o julgamento”, diz a Palavra, “a luz veio ao mundo, mas os homens amaram as trevas, e não a luz, porque as suas obras eram más” (João 3: 18 e 19). Esta é a razão de tanta culpa no seio do mundo moderno: o amor às trevas. A iniqüidade tem aumentado em progressão geométrica, e muito poucos são os que crêem de fato. Há muitos falando em fé sem tê-la e sem conhecê-la. Há muitos condenados que se julgam justos em sua própria noção de justiça. Mas a verdade da Palavra de Deus é imutável, de sorte que não há justiça fora da morte de Cristo.
            O que nos alegra é gozar da paz que é fruto da justiça divina, e saber que em meio a tantos condenados ainda vemos pessoas justificadas, cuja culpa foi apagada mediante a fé em Sua morte e ressurreição com Cristo. Nada que o ser humano faça pode ser tão grave que não possa ser perdoado por Deus, pois a fonte de todos os pecados, que é o pecado, foi destruída na cruz de Cristo. Assim, aqueles que advogam a irrecuperabilidade de criminosos, a pena perpétua ou a pena de morte não conhecem o caráter do perdão de Deus, nem a sua extensão, e ignoram que a verdadeira pena de morte pesa sobre toda a humanidade. É preciso verificar nossa situação diante de Deus. Ou estamos mortos em delitos e pecados, ou estamos mortos para o pecado, e assim vivos para Deus em Cristo (Romanos 6:11).
            A culpa não assola os regenerados porque o sangue de Jesus Cristo purifica constantemente as suas consciências do pecado. Não podemos olvidar tão grande salvação, que abrange a libertação da condenação, do poder e da presença do pecado, garantindo-nos desde já a paz e a alegria de uma consciência isenta da culpa dos condenados: "Olhou do alto do seu santuário; dos céus olhou o Senhor para a terra, para ouvir o gemido dos cativos, e libertar os condenados à morte" (Salmos 102: 19 e 20); "Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é que os condena? Cristo Jesus é o que morreu, ou antes, o que foi ressuscitado; o que está à mão direita de Deus e que também intercede por nós" (Romanos 8: 33 e 34); "Agora veio a salvação, o poder e o Reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo, pois foi lançado fora o acusador dos nossos irmãos, que os acusa diante do nosso Deus, dia e noite. Eles os venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do testemunho que deram; diante da morte, não amaram a própria vida" (Apocalipse 12: 10 e 11); "Sendo assim, aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada, e tendo os nossos corpos lavados com água pura. Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que nos prometeu é fiel" (Hebreus 10: 22 e 23).

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A CULPA É DOS CONDENADOS - Parte 3 de 4


            Para a culpa do homem não há remédio nos consultórios nem nos templos religiosos, mas em Cristo. Nem a ciência nem a religião conseguem por um ponto final na questão. É uma ilusão pensar que qualquer religião ou qualquer líder religioso poderá remover o sentimento de culpa de quem quer que seja. A culpa advém do próprio pecado que está arraigado à natureza adâmica. Por isso, o Salmista declarou: “Como é feliz aquele que tem suas transgressões perdoadas e seus pecados apagados. Como é feliz aquele a quem o Senhor não atribui a culpa e em quem não há hipocrisia. Enquanto eu mantinha escondidos os meus pecados, o meu corpo definhava de tanto gemer. Pois dia e noite a tua mão pesava sobre mim; minhas forças foram-se esgotando como em tempo de seca” (Salmos 32: 1 a 4). Outras versões trazem o termo “pecado” no singular, significando o que o texto realmente quis mostrar. O pecado não é uma questão de atos ou atitudes, mas de natureza. Pecado escondido gera culpa incessante; faz a alma enferma e o corpo doente. Pecado confessado e perdoado gera paz, felicidade e saúde, tanto física quanto mental.
            No texto-base, o apóstolo Paulo revela que não há condenação para os que estão em Cristo Jesus, pois a lei do Espírito de vida nos liberta da lei do pecado e da morte. A lei do pecado é de longe muito mais rigorosa do que qualquer outra. O decálogo e todos os outros mandamentos divinos, bem como os que têm sido criados por homens, não são capazes de solucionar, nem de esconder, o problema do pecado. Ao contrário, só têm o condão de revelá-lo e exacerbá-lo ainda mais. Com efeito, conforme Deus mesmo revelou por meio do apóstolo: “A lei foi introduzida para que a transgressão fosse ressaltada. Mas, onde aumentou o pecado, transbordou a graça, a fim de que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reine pela justiça para conceder vida eterna, mediante Jesus Cristo nosso Senhor” (Romanos 5:20).
            Do texto acima convém destacar as seguintes expressões: PECADO, MORTE, GRAÇA, JUSTIÇA e VIDA ETERNA. A seqüência é elucidativa: pelo pecado reina a morte, assim como pela graça reina a justiça que traz a vida eterna, isso por meio de uma pessoa: JESUS CRISTO. A condenação do pecado é morte, afinal a lei do pecado declara que “aquele que pecar é que morrerá” (Ezequiel 18: 4 e 20). Quantos pecaram? Todos pecaram, porque todos os homens nasceram ou nascem com a natureza pecaminosa herdada do primeiro exemplar da raça. Nossa condenação está diante de nós. Ainda que não admitamos, é a Palavra de Deus que revela que “o salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23) e que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3:23).
            O diagnóstico da culpa não é de difícil constatação. Na Palavra de Deus ele está bem claro. Sem embargo, seríamos miseráveis, e Deus um sádico, se este na qualidade de “Médico dos médicos” apresentasse o problema, mas não desse a solução; revelasse a doença, mas não prescrevesse a receita. Aquele que faz o diagnóstico preciso tem o prognóstico adequado. Seu nome: morte. Isso mesmo! Só há um remédio para a culpa do pecado, e para o próprio pecado em si, e este remédio é a morte. Alguém já disse com muita propriedade: “Se não fosse pelo pecado, a morte jamais teria tido princípio. Se não fosse pela morte, o pecado nunca teria fim”. De fato, a justificação do pecado se dá pela morte, pois “quem está morto está justificado do pecado” (Romanos 6:7). A culpa é dos condenados, e todos os descendentes de Adão estão, por herança genética, incluídos nesse grupo. Há um livro com o título “A culpa é da Genética” onde o autor procura mostrar que tudo de bom e de ruim que caracteriza o ser humano está ligado ao gene. Com razão o autor, cabendo ressaltar que a culpa da culpa também é da genética, porque o pecado é transmitido via espermatozóide humano. Os jornalistas da VEJA que citamos concluíram que muitas vezes até quando faz o que é certo (sob o ponto de vista humano, é claro), o homem pode sentir culpa, porque supõe não raro que poderia agir melhor. Ora, isso é uma escravidão e um tormento que aflige o homem natural (aquele que ainda não foi justificado), cujo viver é de intranqüilidade consigo mesmo, sempre se cobrando além do necessário e muito mais do que pode suportar.
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terça-feira, 17 de maio de 2011

A CULPA É DOS CONDENADOS - Parte 2 de 4

            Na revista VEJA, edição de 31 de julho de 2002, encontramos uma reportagem de capa com o seguinte título: “CULPA: POR QUE ESSE SENTIMENTO SE TORNOU UM DOS TORMENTOS DA VIDA MODERNA”. Os autores da matéria procuram fazer uma análise bem abrangente do tema, mas por vezes lançam mais confusão do que luz à questão. Isso se dá por um indisfarçável desconhecimento da Palavra de Deus, chegando ao cúmulo de confundirem-na com a tradição judaico-cristã, e de tratar a história do pecado (originado em Adão e Eva) como parábola. Nada obstante, os jornalistas responsáveis trazem algumas idéias interessantes sobre a problemática da culpa, dentre as quais queremos destacar as seguintes:
1a.) “Nos dias de hoje, ninguém, exceto aqueles com personalidade psicopática, está livre do sentimento de culpa”;
2a.) “O fato de sabermos que somos finitos faz com que a questão da escolha seja fundamental. E, nesse processo, o indivíduo deixa alguma oportunidade para trás. Isso pode gerar muita culpa”;
3a.) “O remorso que gera impotência e sofrimento é o principal sintoma da culpa. Trata-se de uma das sensações mais insuportáveis que o ser humano pode vivenciar”;
4a.) “A incapacidade de aceitar as próprias falhas também gera culpa. Ela é de tal forma uma tortura que a pessoa tende a jogar a responsabilidade pelo erro sobre alguém à mão, um colega, o chefe, o subordinado”;
5a.) “Acredite: a culpa é parte essencial da natureza humana”;
6a.) “A culpa ultrapassa os limites da normalidade e torna-se uma doença quando as lembranças do que se fez, ou ainda do que se poderia ter feito, ficam remoendo incessantemente os pensamentos. É uma espécie de tortura mental”;
7a.) “Quando ultrapassa os limites e se torna exagerada, a culpa é devastadora. Mantém o indivíduo amarrado ao passado, corrói a qualidade de vida do presente e o impede de fazer planos e se lançar no futuro”;
8a.) “Não há remédio comprovado para o sentimento de culpa, e isso é o que o torna um dos problemas de tratamento mais difícil nos consultórios médicos. No máximo, consegue-se aliviar seus efeitos”;
9a.) “Em algumas situações, o terapeuta cumpre a função de padre e ouve a confissão da pessoa. Mas ele não age como um representante divino e não pode oferecer graça nem perdão” (sobre essa última idéia, diga-se: nem o terapeuta, nem o padre o podem; só Deus).
            A leitura do tema fez-me refletir sobre esse grande mal que aflige a humanidade desde que o pecado entrou no mundo. Não se trata de um problema da modernidade, como quiseram fazer crer os seus autores. A culpa existe desde que o pecado foi introduzido na história da humanidade. AUGUSTUS STRONG assevera: “A culpa relaciona-se com o pecado da mesma forma como o lugar queimado relaciona-se com a labareda”. Pecado é iniqüidade. Eis porque Jesus declarou certa feita que o aumento da iniqüidade inibiria o amor de muitos. Nada mais lógico, pois a natureza iníqua é inimiga do amor. E não havendo amor, não haverá graça; não havendo graça, não haverá perdão; não havendo perdão, a culpa prevalecerá. A iniqüidade é a própria expressão do pecado, sendo este a natureza pecaminosa inoculada por satanás em Adão, e transmitida a partir deste a todos os homens (Romanos 5:12). É por essa razão que, mesmo sem sabê-lo, concluíram os autores do artigo supra citado: “a culpa é parte essencial da natureza humana”.
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segunda-feira, 16 de maio de 2011

A CULPA É DOS CONDENADOS - Parte 1 de 4

("Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus, porque por meio de Cristo Jesus a Lei do Espírito de vida me libertou da lei do pecado e da morte” – Romanos 8: 1 e 2)

            Tenho observado como Defensor Público atuando na área criminal a dura realidade daqueles que são submetidos a processo e julgamento em razão de algum crime cometido. A lei dos homens é implacável, mormente quando se trata de punir o criminoso. É latente, e por vezes visível, o sentimento preconceituoso e discriminatório em relação ao acusado, tanto na sociedade em geral quanto naqueles que compõem o palco do processo penal.
            Já ouvi comentários de amigos, até de pessoas que se dizem crentes, de repúdio, velado ou não, à minha atuação como defensor de supostos criminosos. Antes mesmo de saber se o sujeito é culpado já está selada sua sentença na mente de muitos, que não apenas o mantém isolado fisicamente como também privado de qualquer sentimento de amor, perdão, respeito ou consideração. Tal reação se verifica na grande maioria das pessoas que tomam conhecimento de um caso criminal. É uma espécie de repulsa natural, e isso me tem impressionado deveras.
            A situação não seria tão grave se não fosse a realidade do “tribunal da consciência” do próprio acusado. Nele muitas vezes o criminoso, eventual ou não, se condena com sentença transitada em julgado à pena de tortura mental, muito mais rígida do que qualquer outra que acaso lhe imponham. Por esse motivo, e na mor das vezes, aquele que pratica algum crime segundo a lei dos homens, além de ter que enfrentar um processo criminal no qual o fato ocorrido será constantemente lembrado em audiências públicas, também lida com o próprio sentimento de culpa e de remorso. Não se diga que os criminosos têm a consciência cauterizada pela reiterada prática de crimes. Só os psicopatas; só aqueles que padecem de algum desvio mental não se afligem com os crimes cometidos, principalmente quando estão sendo processados ou segregados preventivamente pela prática dos mesmos, agravando-se a situação com eventual condenação a uma pena privativa de liberdade.
            Assim, um criminoso condenado cumpre geralmente dupla pena: a da sentença judicial e a imposta pela própria consciência. Isso varia em proporções de caso para caso, de acordo com o tipo de delito e com a própria consciência de cada um, mas é uma verdade insofismável.
            Se o problema da culpa se limitasse aos condenados em processo criminal, a humanidade seria mais feliz, e tudo se resolveria com leis penais bem elaboradas, uma justiça bem aparelhada, e sistemas penitenciários eficientes. Todavia, a culpa é um problema universal e atinge a todos os que foram gerados de espermatozóide humano. Os cientistas procuram analisar a culpa e suas nuances de acordo com sua área de estudo e interesse, a exemplo da medicina, psiquiatria, psicologia, sociologia, antropologia, e até mesmo da teologia (sim, porque existe uma teologia meramente científica e humana). Paradoxalmente, o problema da culpa está em todas essas áreas e em nenhuma delas. A culpa jaz na natureza pecaminosa que é comum a todos os descendentes de Adão, e só no “Manual do Fabricante” encontramos explicação satisfatória sobre o tema.
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sexta-feira, 13 de maio de 2011

CRISTO E A IGREJA: UM CASAMENTO MISTERIOSO - Parte 5 de 5


          De pecadores, passamos a santos, regenerados pela fé que nos é dada em nossa união com Cristo: "Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade, para o que também vos chamou pelo nosso evangelho, a fim de alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo" (II Tessalonicenses 2: 13 e 14). Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas" (Tiago 1:18). "Nele (em Cristo) temos a redenção pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça, que ele derramou profundamente sobre nós em toda a sabedoria e entendimento. E desvendou-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra  Nele, digo, em quem também fomos feito herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade, a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo. É também nele que vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação. Tendo nele crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa, o qual é o penhor da nossa herança, para redenção da propriedade de Deus, em louvor da sua  glória" (Efésios 1: 7 a 14).

         Esse matrimônio espiritual assim se mantém: casamos com Cristo, fomos unidos a Ele na cruz e somos preservados fiéis ao "noivo" pelo Espírito que em nós habita. Antes, esse mesmo Espírito foi o responsável pela nossa vivificação, nos fazendo ressuscitar juntamente com Cristo e nos levando ao conhecimento e à fé na verdade. NEla (na verdade) permanecemos, porque o Espírito imprime em nós o caráter de Cristo, a mente de Cristo e, assim, Cristo passa a ser a nossa vida.
         Grande é esse mistério: Cristo e a Igreja. Como todos os grandes mistérios da humanidade, só Deus pode revelá-lo (João 6: 29; 36 a 40; 44 a 46; 63 a 65) e Ele o faz por intermédio de Sua Palavra e de Seu Espírito Santo (vide I Coríntios 2: 9 a 12). Desse modo, temos a certeza que Cristo não morreu em vão, pois o Deus que providenciou os meios é o mesmo que revela essa tão grande salvação àqueles por quem Cristo morreu. Não há surpresas desagradáveis nesse casamento, porque o Espírito assegura que todos os que farão parte da "Eleita" efetivamente venham à celebração, e digam "sim", e permaneçam fiéis àquele que os conquistou na cruz.
         A Oséias Deus já anunciara a felicidade e a eternidade dessa união: "Desposar-te-ei comigo para sempre; eu te desposarei comigo em justiça, em juízo, em benignidade e em misericórdias. Eu te desposarei comigo em fidelidade, e conhecerás ao Senhor. Naquele dia eu responderei, diz o Senhor, responderei aos céus e estes responderão à terra; e a terra responderá ao trigo, ao vinho e ao óleo, e estes responderão a Jezreel. Semeá-la-ei para mim na terra, e mostrarei amor à Não-amada. Direi a Não-meu-povo: Tu és meu povo, e ele dirá: Tu és o meu Deus" (Oséias 2: 19 a 23).

quinta-feira, 12 de maio de 2011

CRISTO E A IGREJA: UM CASAMENTO MISTERIOSO - Parte 4 de 5

         RICARDO BARBOSA DE SOUZA, com muito propriedade, observa: "Deus nos chama para participarmos da eterna comunhão que o Pai, o Filho e o Espírito Santo gozam. Este relacionamento é a razão primeira e última da teologia. Quando perguntaram para Jesus qual era o maior de todos os mandamentos, sua resposta apontou para uma dimensão relacional e afetiva: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos". Este era o fim da teologia, a razão de ser dos mandamentos e dos profetas. O apóstolo João nos dá a resposta mais simples e ao mesmo tempo profunda sobre o conhecimento de Deus. Ao afirmar que "Deus é amor" ele define a natureza pessoal do Deus bíblico". Defendendo uma espiritualidade mais teológica, afirma o referido escritor: "O propósito da espiritualidade cristã é o nosso crescimento em direção a Cristo, ser conformados à imagem de Jesus Cristo. Não se trata de um ajustamento sociológico ou psicológico, de sentir-se bem emocionalmente ou socialmente, mas de um processo de crescimento e transformação. Para Paulo isto significa caminhar em direção à perfeita varonilidade, à medida de estatura de Cristo. Ele mesmo afirma que a vida encontra-se oculta em Cristo e, por esta razão, devemos buscar as coisas do alto onde Cristo vive". O processo de crescimento em Cristo, continua ele, "é o processo no qual somos transformados pela Palavra de Deus participando cada vez mais da vida em Cristo. O apóstolo Paulo diz que uma vez que fomos ressuscitados com Cristo, nossa vida está oculta em Cristo. Portanto, a vida espiritual não é um processo de ajuste aos valores sociais dominantes, mas um caminho que envolve crise e transformação, onde a tensão entre a Palavra de Deus e o mundo estará sempre presente" ("Espiritualidade e Espiritualidades").
         A Igreja, como corpo de Cristo, como união daqueles que foram crucificados com Cristo, não pode ser lugar de pecadores, porque os verdadeiramente salvos, os que são de Cristo Jesus, já crucificaram a carne com suas paixões e concupiscências (Gálatas 5:24). Cristo não é ministro do pecado (Gálatas 2:17), nem casou com uma "noiva volúvel" e "morta em pecados" sem antes purificá-la, pela lavagem da água, que é a Palavra de Deus. Essa Palavra é capaz de vivificar. Não a letra, mas o Espírito que através dEla se manifesta.   
      Aqui vale dizer: do ponto de vista de Deus, estando em Cristo, estamos sem pecado (natureza); do ponto de vista humano, enquanto no corpo desta carne, sempre seremos pó e sujeitos a praticar atos pecaminosos (atitudes), embora a nossa propensão seja buscar as coisas do Alto. Eis o motivo da aparente antinomia dos textos de I João 1: 8 e 9, e I João 3: 2 a 10. Romanos 8 nos revela que o homem espiritual busca as coisas do Espírito, e o carnal, inclina-se para as coisas da carne, do homem.
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