Eu
era um desses que julgava ter "aceitado a Cristo", tendo trabalhado
desde pequeno em uma igreja evangélica, ocupando os cargos mais diversos,
freqüentando dominicalmente os cultos, sem, contudo, ter vida em mim mesmo,
porque não me havia sido pregada a minha morte e ressurreição com Cristo. Não
era regenerado; era iludido. Pensava que era salvo, mas era perdido. Pecador,
sem graça, cheio de obras enfadonhas e infrutíferas, o inferno era destino
certo. "Tão perto do reino, mas sem salvação", como diz a letra
daquela canção que tantas vezes cantei, sem me dar conta de que era o retrato
de mim mesmo. Mas, quando aprouve a Deus revelar Seu Filho em mim, quando cri no Evangelho da graça,
entrei no descanso do Senhor e descobri que a graça de Deus me é bastante. A fé
que Ele me deu tem produzido obras que não causam fadiga, que não me consomem,
que não me esgotam. Ao contrário, dão alegria, prazer e gozo no Espírito Santo,
sendo até mesmo difícil enxergá-las como tais. As boas obras da graça produzem
os resultados almejados por Deus, por isso não há necessidade de preocupação
com os mesmos. Ademais, elas não produzem a minha exaltação, nem a minha glória,
mas a glória de Deus.
Quem
está morto com Cristo (e vivo nEle) está justificado do pecado.
Logo, considero-me bem-aventurado, pois já não me é mais imputado pecado. Não
existe mais nudez que precise ser coberta, porque não tenho mais a consciência
escravizada, mas, sim, a mente de Cristo. As minhas obras
de religião ficaram para trás desde que me foi concedido, pela graça, o crer no
evangelho, e por essa fé eu fui justificado. Assim, Deus resolveu o maior
problema que me afligia, a saber, a escravidão do pecado: "Pois não
recebestes o espírito de escravidão para outra vez estardes em temor, mas
recebestes o Espírito de adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai!".
Em
suma: a justificação é pela fé que Deus mesmo manifesta através de sua Palavra
e de Seu Espírito Santo, pois o homem natural, morto em delitos e pecados, por
si mesmo não pode crer nas verdades espirituais, pois não pode sequer
discerni-las, precisando, primeiramente ser vivificado. Tal vivificação (pela
Palavra e pelo Espírito) é manifestação da graça de Deus, que opera em nós
tanto o querer quanto o efetuar, de maneira que Ele, e somente Ele, é o
responsável por nossa justificação, salvação e santificação, sendo nossas obras
a conseqüência da manifestação da graça de Deus em nossas vidas. Essa graça, em
última análise, é a própria vida de Cristo em nós, manifestada e mantida por
intermédio do Espírito Santo que em nós habita, o qual recebemos, nos foi dado;
não comprado, nem escolhido, embora o tenhamos buscado insistentemente após a
manifestação do "querer" de Deus (aqui me refiro, evidentemente, aos
verdadeiramente justificados e salvos). Creio nessas verdades, por isso as
prego, pois sei que só Deus pode livrar das obras da religião muitos dos que
estão lotando as igrejas sem o conhecimento da Palavra de Deus, e só Deus pode
conduzi-los ao pleno conhecimento de Sua graça, a qual Ele nos dá gratuitamente
em Cristo.