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quinta-feira, 31 de março de 2011

O FRACASSO DA TEOLOGIA HUMANA - Parte 1 de 6


("Respondeu Jesus: Vocês estão enganados porque não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus!" - Mateus 22:29; "Quero conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos" - Filipenses 3: 10 e 11) 

            A teologia define-se como "o estudo das questões referentes ao conhecimento da divindade, de seus atributos e relações com os homens, e à verdade teológica". Também é definida como "o estudo racional dos textos sagrados, dos dogmas e das tradições do cristianismo" ("Novo Aurélio", o Dicionário da Língua Portuguesa, Século XXI).


            A teologia é, assim, uma ciência pela qual se estuda, à luz da ratio humani, isto é, da razão humana, os textos sagrados, os dogmas e as tradições do cristianismo. Essa é a teologia que chamamos de humana, pois é o estudo racional feito pelo próprio homem da Bíblia e de manuscritos considerados sagrados, com o intuito de conhecer a Deus. Em contraposição, temos a teologia divina, que é a própria revelação de Deus ao homem através de Sua Palavra e através do Seu Espírito Santo. O conhecimento adquirido através do estudo da teologia humana é meramente intelectual. O conhecimento de Deus através da teologia divina é espiritual. Aquele que estuda a teologia humana pode vir a conhecer a teologia divina, desde que Deus se torne propício e revele a Sua Palavra por meio de Seu Espírito Santo. O conhecimento da teologia divina, portanto, pressupõe uma experiência espiritual, a qual a própria Palavra de Deus trata como novo nascimento, ou nascimento do Alto, ou nascimento do Espírito.


            Dessas duas espécies de teologia surgem diferentes teólogos: o teólogo ateu, o teólogo religioso e o teólogo verdadeiro. Os dois primeiros são formados pela teologia humana, ao passo que o último é um eterno aprendiz da teologia divina. Ao chamarmos este de "teólogo verdadeiro" queremos dizer que os outros dois são pseudoteólogos. De fato, um ateu pode ser um teólogo, mas um teólogo-cientista que procura descobrir através do estudo sistemático das doutrinas que tratam da divindade aparentes defeitos ou mesmo bases de sustentação de sua filosofia de vida. Em outros termos, através do estudo dos textos sagrados o teólogo ateu busca provar exatamente o que os textos ou as verdades deles extraídas não querem indicar: que Deus não existe. O teólogo religioso é o mais comum: é aquele que diz acreditar em Deus, que pertence a uma igreja, e que resolve estudar sistematicamente a teologia com vistas a um maior conhecimento do Divino. Muitos desses teólogos são os que dizem terem recebido um "chamado" para o ministério pastoral, que buscam nos cursos de teologia o aprofundamento do seu conhecimento intelectual de Deus. Chamo esses de pseudoteólogos porque sem passar pela experiência do novo nascimento, ou seja, sem vida espiritual, sem o conhecimento espiritual de Deus, procuram o aperfeiçoamento de seu intelecto e de seus dons de oratória e de interpretação de textos para progredir em seus projetos terrenos.


            É uma triste realidade, mas a grande maioria das igrejas pretensamente cristãs é liderada por pastores que Deus não comissionou, que não conhecem a Deus verdadeiramente, pois não O conhecem do ponto de vista espiritual, cuja teologia não passa de teses e de concepções racionais e muitas vezes deturpadas da Palavra de Deus. Há muitos preceitos de homens passando de gerações a gerações que nada têm com a Palavra de Deus, e esses preceitos são aceitos pelos teólogos religiosos e pregados em suas igrejas como verdades insofismáveis, como teologia divina.

            WATCHMAN NEE acertadamente observa: "Não basta ter conhecimento exterior da Bíblia; tal conhecimento tem de estar também escrito no coração do homem. Tê-lo escrito no coração resulta no conhecimento de Deus. Uma condição lamentável prevalece nos dias de hoje, a saber, que poucos são os que realmente conhecem a Deus. Podemos freqüentemente ouvir conhecimento bíblico e mesmo assim não conhecer a Deus. A pessoa que apenas possui algum conhecimento bíblico é como alguém que luta tendo como arma um simples caniço: curvar-se-á para onde soprar o vento; não tem a força necessária para lutar. Permitam-me perguntar: Quem pode dizer hoje que conhece o propósito de Deus, a mente de Deus, sua vontade e seu caminho? Digo sempre que conhecer a Deus é uma preciosidade incomensurável; nada se lhe compara. Algumas pessoas podem abrir a Bíblia e falar razoavelmente bem a respeito de uma passagem, mas talvez não conheçam a Deus de maneira alguma. Podem falar bem, e no entanto serem estranhas a ele. O conhecimento bíblico deveria levar-nos a conhecer a Deus. Porém isso nem sempre ocorre" ("Conhecimento Espiritual", Ed. Vida, p. 13 e 14).
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quarta-feira, 30 de março de 2011

FÉ PARA MORRER - Parte 2 de 2

( "Não temas as coisas que estás para sofrer. Escutai: o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais provados, e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida" – Apocalipse 2:10)

            O texto base, retirado da carta ao Pastor da Igreja em Esmirna, fala sobre a “fidelidade até à morte”, que nada mais é do que a fé verdadeira. Alguns teólogos ousam afirmar que a tradução correta seria “sê fiel até para a morte” ou, em outras palavras, “creia até na hora da morte” ou “creia até diante da morte”. Isso porque o termo “fiel” é traduzido do grego PISTOS (derivado de PISTIS, que significa “fé”), uma variação de “crente”, aquele que crê. De fato, os vencedores, os verdadeiros crentes, são aqueles que diante da morte não amaram a própria vida: “Então ouvi uma forte voz dos céus que dizia:Agora veio a salvação, o poder e o Reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo, pois foi lançado fora o acusador dos nossos irmãos, que os acusa diante do nosso Deus dia e noite. Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela Palavra do testemunho que deram; diante da morte, não amaram a própria vida” (Apocalipse 12:11 - NVI). Bem por isso, Jesus já declarara: “Quem quiser salvar a sua vida, a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa e pelo evangelho, a salvará” (Marcos 8:35 – NVI, grifo nosso).

            Aqui fica claro que o Evangelho anuncia a morte do pecador em Cristo, e a fé no Evangelho implica necessariamente o reconhecimento dessa co-crucificação com Cristo por parte do crente, do contrário não há fé, mas presumida salvação e falsa crendice. Só morrendo na cruz com Cristo o homem pode ser salvo, porque a morte para o pecado é que o liberta da incredulidade, das trevas da ignorância espiritual, e produz a reconciliação com o Criador, não mais na condição de mera criatura, mas de filho. Portanto, só quem já morreu com Cristo e está vivo nEle pode ter fé para declarar-se morto (ainda que vivo no corpo desta carne), e aborrecer a própria vida em face da morte.

             SPURGEON dizia, em outros termos, que não é difícil encarar a morte (física) quem se considera morto (com Cristo) todos os dias. Esse era o testemunho do apóstolo Paulo: “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Filipenses 1:21); “Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia. Somos reputados como ovelhas para o matadouro” (Romanos 8:36); “Trazendo sempre por toda a parte o morrer de Jesus, para que a vida de Cristo se manifeste também nos nossos corpos. E assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na nossa carne mortal” (II Coríntios 4: 10 e 11). Ainda mais conhecido é o testemunho de Sadraque, Mesaque e Abednego, um dos mais notáveis do Velho Testamento, que diante da iminência da morte deram testemunho de fé incondicional e verdadeira: “Eis que o nosso Deus, a quem nós servimos, é que nos pode livrar; ele nos livrará da fornalha de fogo ardente, e da tua mão, ó rei. E, se não, fica sabendo ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste” (Daniel 3: 17 e 18). O resultado também é conhecido: Deus os livrou do dano da fornalha ardente. Criam, por isso viram o livramento, mas continuariam crendo ainda que não houvesse o livramento.

            A fé dos santos é provada todos os dias. Por isso o testemunho de morte com Cristo, e de vida nEle, é testemunho diuturno, constantemente provado para que enfim a fé seja aprovada. O justo viverá pela fé, morrerá com ela e em alguns casos por causa dela. Assim foi, assim é, e assim será na perseguição da tribulação que sobrevirá à terra: “Se alguém deve ir para o cativeiro, para o cativeiro irá. Se alguém deve ser morto à espada, necessário é que à espada seja morto. Nisso repousa a perseverança e a fidelidade dos santos” (Apocalipse 13:10). Na versão espanhola: “Aqui se verá la fortaleza y la fe del pueblo de Dios”.

terça-feira, 29 de março de 2011

FÉ PARA MORRER - Parte 1 de 2


("Não temas as coisas que estás para sofrer. Escutai: o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais provados, e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida" – Apocalipse 2:10)


            Muito se ouve falar de fé para viver: viver com prosperidade material (a erroneamente chamada “vida em abundância”); viver sem doenças; viver sem dívidas; viver sem tribulações; viver sem problemas. Essa experiência de fé certamente não é a fé bíblica, mas a crendice popular patrocinada pelo inferno que tem invadido as igrejas ditas “cristãs”, notadamente nos Países do Terceiro Mundo. Já se comentou sobre a “globalização da fé”, e o termo é adequado para descrever o que tem ocorrido no tocante a essa pretensa fé, que de fé não tem nada, e que por ser fé demais (fede mais), cheira mal.

            Nunca se tratou de assunto tão sério de maneira tão banal. Hoje, mais do que nunca, a massificação dessa crendice chamada de fé é sinal evidente da “fé de sinais”, e sinais mentirosos. O caminho do chamado “Iníquo”, que é segundo a eficácia de Satanás, está sendo preparado a olhos nus, à vista de todos aqueles que conseguem enxergar com os olhos do Alto, e discernir com a mente de Cristo. Aquele caminho, conforme diz Paulo, será revelado “com todo poder, e sinais e prodígios da mentira, e com todo engano da injustiça para os que perecem” (II Tessalonicenses 2: 9 e 10-a). Estes, que perecem, estão enredados “pela operação do erro, para que creiam na mentira, e para que sejam julgados todos os que não creram na verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade” (idem, vers. 11 e 12). Os que estão “crendo” em sinais, e exercendo a “fé para viver” obviamente fazem parte desse grupo de enganados. Para ilustrar, há igrejas com cartazes em seus muros agendando dia e hora para a operação de sinais, e ainda ousam convocar os seus “fiéis” e a todos os infiéis também para que lá compareçam “com fé”. Ou seja: para que o milagre seja feito é necessário que o incauto compareça com fé. E aí fica claro que o sujeito pode até deixar de crer fora daquele local, mas naquele lugar e hora a fé é indispensável para que os sinais sejam realizados.

            A verdadeira fé, todavia, não é para a vida, mas para a morte. Não crê quem está vivo (em si mesmo), mas quem está morto (co-crucificado com Cristo). A fé não se prova na vitória sobre os problemas, mas sim em meio aos problemas. “No mundo tereis aflições”, e a fé só é provada em meio às provações. O que fazem esses operadores de sinais, senão querer provar a fé tentando poupar os pretensos crentes das provações? Duas coisas podem ocorrer neste caso: a prova é anulada ou o resultado inexorável é a reprovação. Isto porque a fé não pode ser constatada retirando-se as circunstâncias que servem justamente para aprová-la. O que fica patente em tudo isso é que a “fé para viver”, e viver sem problemas, é fé apenas no nome. A fé, em suma, não é provada pelo apego às coisas desta vida, mas pela vocação natural (talvez fosse melhor dizer “sobrenatural”) para suportar as provações, inclusive a própria morte.
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segunda-feira, 28 de março de 2011

O PRINCÍPIO ESPIRITUAL DA VISÃO - Parte 4 de 4


("Mas se o nosso evangelho ainda está encoberto, para os que se perdem está encoberto, nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus" –  II Coríntios 4: 3 e 4)


            É mister enfatizar a necessidade de mudança: da natureza de Adão para a natureza de Cristo; da paternidade do diabo para a paternidade de Deus; do nascimento da carne para o nascimento do Espírito; do coração de pedra para um coração de carne; da vida do "eu" para a vida de Cristo; da vida de incredulidade para a vida de fé. O pressuposto dessas mudanças todas é o novo nascimento. Nascer do Alto, nascer da Palavra e do Espírito é uma necessidade de todos os homens, independentemente de nacionalidade, cor, raça, religião, profissão, nível intelectual e posição social. Todos estão, por natureza, mortos espiritualmente. É necessário que haja vivificação pelo Espírito Santo, para que esse morto creia e passe a enxergar com os olhos da fé, e a viver por essa fé.
            Em Efésios 2: 1 a 10, verificamos que não há participação humana na salvação. Até a fé é dom de Deus, e só é dada após a vivificação pelo Espírito Santo. Logo, a salvação é pela graça, não pelas obras, e tal verdade encontra-se explicitada no ensino das Escrituras como um todo.
            MARTINHO LUTERO pontuou: "Paulo declara que o evangelho é "o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê". Isso significa que, não fosse o poder de Deus conferido através do evangelho, ninguém teria forças, em si mesmo, para voltar-se para Deus. Paulo prossegue, asseverando que isso tem aplicação tanto aos judeus quanto aos gentios. A conversão de qualquer pessoa acontece quando Deus vem até ela e vence-lhe a ignorância ao revelar-lhe a verdade do evangelho. Sem isso, ninguém jamais poderia ser salvo. Parece que a justiça própria alcançada por alguns judeus ou gentios levou-os a deixarem de buscar a justiça Divina através da fé, para fazerem as coisas à sua própria maneira. Portanto, quanto mais o "livre-arbítrio" se esforça, tanto piores tornam-se as coisas. Não existe um terceiro grupo de pessoas, que se situe em algum ponto entre os crentes e os incrédulos - um grupo de homens capazes de salvarem-se a si mesmos. Judeus e gentios constituem a totalidade da humanidade, e todos eles estão debaixo da ira de Deus. Deus precisa tomar a iniciativa e revelar-Se a eles" 28.
            Cristo é o autor e consumador da fé. A fé de que precisamos para viver é a fé dEle mesmo, que só passa a ser nossa após a regeneração, após o novo nascimento. Portanto, o princípio espiritual da visão é desfeito em Cristo. Na cruz Ele morreu para o pecado, para a natureza adâmica, para a natureza de incredulidade, após atrai-la a Si. Se Ele nos der Sua vida, teremos fé. Se ainda não cremos que fomos crucificados com Ele, e com Ele ressurgimos, é porque ainda não fomos vivificados pelo Espírito Santo, ainda não fomos gerados pela Palavra e pelo Espírito. Enquanto não nos for dado crer que também fomos incluídos naquela cruz, que o nosso espírito foi atraído a Cristo, a fim de ser um com o Espírito Santo que o ressuscitou dentre os mortos, permaneceremos no pecado e na incredulidade, continuaremos escravos do princípio espiritual da visão, quer admitamos ou não. Enquanto você estiver enxergando apenas as realidades terrenas e as manifestações visíveis da realidade espiritual, necessitando ver para crer, você na realidade permanecerá cego espiritualmente. Note que Cristo é o ungido de Deus que veio para evangelizar aos pobres, apregoar liberdade aos cativos, dar vista aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos e anunciar o ano aceitável do Senhor 29. Só Ele, por intermédio do Seu Evangelho e do Seu Espírito, pode livrar-nos da morte e da cegueira espiritual, para que, em última análise, tenhamos a vida dEle em nós, e andemos por fé, e não por vista 30, pois afinal "nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: o justo viverá da fé" 31. Assim, como bem disse o apóstolo, "fixamos os olhos não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno" 32.

BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS
1 Hebreus 11:1
2 Hebreus 11:3
3  Gênesis 3:6 (grifo nosso)
4 Gênesis 2: 16 e 17
5 Gênesis 3:7
6 Romanos 5:12 e I Coríntios 15: 45 a 48
João 20:25 (o grifo não consta do original)
8 João 20:29
9 João 4:48
10 João 7: 3 e 4 (grifamos)
11 João 7:5
12 João 11:40
13  João 8:24
14 João 8: 28 e 29
15 Romanos 6:10
16 Ezequiel 18:20
17 Romanos 6:7
18 João 16: 7 a 11
19  João 16: 13 e 14
20 João 8: 31 e 32
21 João 8: 34 e 36
22 Marcos 15: 31 e 32
23 Romanos 1:16
24 Colossenses 1: 26 a 29
25 Efésios 1: 3 a 6
26 II Coríntios 5: 14 e 15
27 Romanos 6: 4 e 5; 8 a 10
28 "Nascido Escravo" (Um Resumo da Obra "Escravidão da Vontade"), Editora Fiel, 1a. edição, São José dos Campos, 1992, p. 13/14
29 Lucas 4:18
30 II Coríntios 5:7
31 Romanos 1:17
32 II Coríntios 4:18
 

terça-feira, 22 de março de 2011

O PRINCÍPIO ESPIRITUAL DA VISÃO - Parte 3 de 4


("Mas se o nosso evangelho ainda está encoberto, para os que se perdem está encoberto, nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus"  II Coríntios 4: 3 e 4)



            O princípio espiritual da visão também esteve presente entre aqueles que contemplaram a terrível cena da crucificação do Filho de Deus. Muitos zombaram dele naquele momento, dentre estes os principais sacerdotes e escribas, escarnecendo e dizendo que Jesus salvara a muitos, mas não podia salvar a si próprio: "Desça agora da cruz este Cristo, o rei de Israel, para que vejamos e acreditemos" 22. Observa-se aí nessa proposta irônica a necessidade de ver para crer. Também constituiu-se a humanista sugestão daqueles incrédulos em mais uma tentativa inócua de satanás de desviar o Cristo da cruz. É uma pena saber que não têm sido frustradas as investidas de satanás no sentido de desviar a cruz do coração de muitos que lotam as igrejas em busca de salvação, bem como do coração de muitos pregadores de um evangelho incompleto. Satanás quer que o homem continue na incredulidade e faz de tudo para desviá-lo do propósito divino da salvação. Não se pode olvidar que o princípio espiritual da visão afeta àqueles que não crêem porque permanecem estes espiritualmente mortos; não foram vivificados pelo Espírito Santo. O deus deste século, ao qual pertencem, cegou-lhes o entendimento. O evangelho verdadeiro, entretanto, não está encoberto para aqueles que foram vivificados pelo Espírito Santo; ao contrário, é o poder de Deus para a sua salvação, vez que foram regenerados para crer 23.
            É necessário, portanto, que esse evangelho seja pregado para que, mediante o ouvir dessa pregação, seja operada a vivificação pelo Espírito Santo, que produz o arrependimento e a fé pela qual perseveram os santos. Cabe ao que crê falar, o resto certamente Deus fará. Quero advertir, entretanto, que não estou me referindo aqui a este evangelho incompleto que só prega o lado substitutivo e omite o lado inclusivo da cruz. Também não me refiro a essa técnica de pregação defeituosa, na qual há uma explanação meramente intelectual, em que mal se abre a Palavra de Deus, confundindo-se pregação com peça de retórica, na qual o orador profere "palavras" de Deus misturadas com preceitos humanos, ao invés de expor a Palavra de Deus pelo que ela é. Também não me refiro à pregação apelativa peculiar ao “evangelicalismo” e ao “neoevangelicalismo” venerado por Charles Finney e seus adeptos.
            O evangelho que Paulo dizia estar encoberto aos que se perdem é o evangelho de Cristo, do qual não se envergonhava o apóstolo. É o evangelho da cruz, o evangelho da graça. Deus nos dá tudo o que é necessário à nossa salvação. Isso é graça. Ele mesmo nos regenerou por Sua Palavra e por Seu Espírito Santo, nos levando ao arrependimento e à fé pela qual vivemos, que é a fé do Seu próprio Filho, a qual passa a ser nossa quando Cristo passa a ser a nossa vida. O evangelho é Cristo em nós 24. Deus nos deu Cristo, nos deu a Sua Palavra, nos deu o Espírito Santo, de maneira que dependemos da graça e vivemos para o louvor dela 25. O homem natural não crê nesse evangelho, mas na Palavra de Deus ele está bem claro. Não crê porque seu entendimento está obscurecido, seu espírito está morto. Prefere, portanto, qualquer ensinamento que lhe dê méritos na salvação, em que a sua contribuição para o processo salvífico de Deus seja reconhecida, em que a fé seja iniciativa sua. Tal evangelho, contudo, não é bíblico, é do maligno. É humanista, como tudo o que o diabo faz, porque ele só cuida dos interesses do homem. O evangelho da graça, que é também o evangelho da cruz, ensina que "se um morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressurgiu" 26. Em outra passagem: "De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo ressurgiu dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. Se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos. Pois sabemos que, havendo Cristo ressurgido dentre os mortos já não morre; a morte não mais tem domínio sobre ele. Pois quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas quanto a viver, vive para Deus" 27. Logo, a morte de Cristo foi também a minha morte, pois Ele me atraiu a Si naquela cruz e carregou o meu pecado sobre o Seu corpo, a minha natureza pecaminosa, afinal, eu é que merecia morrer, não Ele. Eu é que sou pecador, não Ele. Isso está claro na Bíblia para aqueles a quem foi dado crer. Para os demais, infelizmente, permanece encoberto. Mas poderoso é Deus para vivificar os mortos, independentemente do grau de dureza dos seus corações.
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segunda-feira, 21 de março de 2011

O PRINCÍPIO ESPIRITUAL DA VISÃO - Parte 2 de 4


"Mas se o nosso evangelho ainda está encoberto, para os que se perdem está encoberto, nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus" –  II Coríntios 4: 3 e 4



            Ao longo do ministério de Jesus, muitos o seguiam pelo que viam, não porque criam em quem Ele era e naquilo que realizaria. Por isso, Jesus mesmo declarou: "Se não virdes sinais miraculosos e prodígios, de modo nenhum crereis" 9. Os irmãos carnais de Jesus também foram céticos, tendo-o aconselhado, certa feita: "Sai daqui e vai para a Judéia, para que os teus discípulos vejam os milagres que fazes. Ninguém que procure ser conhecido em público faz coisa alguma em oculto. Já que fazes essas coisas, manifesta-te ao mundo" 10. Nem seria preciso, mas o evangelista João conclui a narrativa do episódio dizendo que até os seus irmãos não criam nele 11. Ninguém que condicione a fé à visão pode dizer que crê. O princípio da fé é crer para ver, e não ver para crer, conforme ensinou Jesus a Marta antes da ressurreição de Lázaro 12. Aí reside a verdadeira fé, que tem como autor e consumador o próprio Cristo. Eis porque é impossível crer no Pai verdadeiramente à parte da obra do Filho.
            Não era sem razão o ensino de Jesus: "Não julgueis pela aparência, mas julgai segundo a reta justiça". Em outra ocasião: "Eu vos disse que morrereis nos vossos pecados; se não crerdes que eu sou, morrereis nos vossos pecados" 13. Mais enfático foi ao falar da obra da cruz: "Quando levantardes o Filho do Homem, então sabereis que eu sou quem digo ser, e que nada faço de mim mesmo, mas falo como o Pai me ensinou. Aquele que me enviou está comigo; ele não me deixou só, pois sempre faço o que lhe agrada" 14. Após ter dito isso, relata o evangelho de João que muitos creram nele. Mas será que creram mesmo?

            Cristo é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, conforme testificado por João, o Batista. Ao ser levantado da terra, Jesus confirmaria a veracidade das palavras de seu precursor, cumprindo assim as profecias a Seu respeito e confirmando o próprio testemunho que dava de si mesmo. Tal verdade é testificada em João 12: 31 a 33: "Agora é o tempo do juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. Mas eu, quando for levantado da terra, atrairei  todos a mim. Ele dizia isto para mostrar o tipo de morte que iria morrer". Que tipo de morte foi essa? a morte para o pecado 15. Logo, a sua obra só se completaria com a morte na cruz, pela qual Ele haveria de atrair a natureza adâmica, a natureza do pecado a Si mesmo, e destruí-la em Seu próprio corpo, cumprindo assim as exigências da lei, que estabelece que "a alma que pecar essa morrerá" 16, justificando aquele que pecava por princípio, pois "aquele que está morto está justificado do pecado" 17. A obra, conforme declara a Palavra de Deus, consumou-se. Cristo morreu, mas ressurgiu ao terceiro dia e ascendeu aos céus. A fé no que Ele era, no que Ele é, no que Ele fez e no que Ele faz, só foi dada aos que creram e aos que crêem após a manifestação do Espírito Santo, o qual convenceria (e convence) o mundo do pecado, da justiça e do juízo.
            Jesus mesmo declarou: "Convém que eu vá, porque se eu não for o Consolador não virá para vós; mas se eu for eu o enviarei. Quando ele vier convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis; do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado" 18. Esse Espírito, Jesus revela mais adiante, é o Espírito da verdade, que nos conduz a toda a verdade (que é o próprio Cristo), portanto não fala de Si mesmo, mas testifica do Filho e a Ele glorifica 19. Logo, é de se reconhecer que enquanto Jesus estava entre os homens não havia ninguém que vivesse por fé, exceto o próprio Cristo. O Espírito Santo viria (e veio) justamente para convencer o mundo de que ele não tinha (e muitos ainda não têm) essa fé não baseada na visão, ou em qualquer outro sentido, como princípio de vida. Notem: quando perguntei se aqueles "muitos" que creram, conforme relato de João 8:30, haviam de fato crido em Jesus, não levantei uma infundada dúvida, nem suscitei uma heresia, nem quis desacreditar o evangelista João. Ao contrário, ele mesmo em sua narrativa cuidou em demonstrar que aqueles que supostamente criam em Jesus na realidade professavam uma fé ilusória.
            Com efeito, está escrito: "Disse Jesus aos judeus que criam nele: Se permanecerdes no meu ensino, verdadeiramente sereis meus discípulos. Então conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" 20. Quis Jesus aí mostrar que aqueles que tinham uma pretensa fé ainda precisavam ser libertos. Mas eles indagaram: libertos de quê? Para eles não havia escravidão, porque eram judeus, descendentes de Abraão, e jamais haviam sido escravos de ninguém. Para não deixar dúvida, Jesus explica que "aquele que comete pecado é escravo do pecado". Não obstante, "se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" 21. Ora, aqueles judeus que pretensamente criam nele não criam coisa alguma! Pode alguém crer sendo escravo do pecado? Se o pecado é incredulidade, a resposta obviamente é negativa. Jesus foi bastante claro e duro ao explicar que aqueles judeus eram escravos do pecado, portanto filhos do diabo, e nessa condição não podiam crer, porque só podem ouvir e crer na Palavra de Deus aqueles que pertencem a Deus.
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sexta-feira, 18 de março de 2011

O PRINCÍPIO ESPIRITUAL DA VISÃO - Parte 1 de 4


("Mas se o nosso evangelho ainda está encoberto, para os que se perdem está encoberto, nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus" –  II Coríntios 4: 3 e 4)

            No "Aurélio" aprendemos que a palavra "princípio", por extensão, significa base. No sentido filosófico, conforme o dicionarista, "princípio" significa a origem de algo, de uma ação ou de um conhecimento. Consideremos a visão como um sentido do corpo humano que nos permite conhecer o mundo exterior, os lugares, as pessoas, a realidade que nos cerca, e teremos a visão como um dos princípios do conhecimento. Não obstante, a própria visão está sujeita a um princípio espiritual e, nesse aspecto, ela é o antagonismo da fé.
            A fé é a prova das coisas que não se vêem, nos ensina o autor da carta aos Hebreus 1. "Pela fé", explica ele, "entendemos que os mundos foram criados pela Palavra de Deus, de maneira que o visível não foi feito do que se vê 2. O visível originou-se do invisível, em cumprimento à ordem divina, à Palavra de Deus, é o que nos mostra o texto. Tudo o que é invisível, tudo o que é espiritual, está sujeito a Deus e se torna visível ou se materializa mediante a sua ordem. O próprio Deus não está disponível à visão humana. Ele é Espírito, e só podemos conhecê-lO e adorá-lO em espírito e por causa da verdade a nós manifestada em Sua Palavra.
            Quando falamos em realidade espiritual a visão passa a ser uma fraqueza. Quem precisa ver para crer é fraco, impotente, morto do ponto de vista espiritual; em última palavra, incrédulo. O exemplo clássico é o de Tomé, que tem sido seguido por gerações, mas que não foi o primeiro. No jardim do Éden temos o exemplo mais antigo da fraqueza da visão, a saber, o exemplo de Eva, que comeu da árvore do conhecimento do bem e do mal porque, além de ser enganada pela serpente, não teve fé na Palavra de Deus. Por que não teve fé? Porque se deixou levar pela visão. A visão gerou a fé na palavra da serpente em detrimento da Palavra de Deus: "Vendo a mulher que a árvore era boa para comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, que estava com ela, e ele comeu" 3. As palavras da serpente foram acreditadas porque corroboradas pelo sentido da visão, de maneira que dando ouvidos ao tentador e não crendo na veracidade da advertência que Deus dera a Adão 4, Eva abandonou a fé, desprezou a Palavra de Deus, transgrediu a ordem divina, e por isso morreu espiritualmente. Não somente ela, mas também Adão a quem ela deu de comer do fruto proibido. Surge aí o pecado original, que se expressa na iniqüidade e na incredulidade (do grego Adikias e Hamartiós), o qual gerou o princípio espiritual da visão a que estão sujeitos os que descendem de Adão. O princípio espiritual da visão é, portanto, causa e conseqüência do pecado.
            Adão e Eva sofreram imediatamente o resultado do erro: morreram espiritualmente. Passaram a conhecer o bem e o mal, conforme era de se esperar, mas não alcançaram o "ser como Deus", ilusão lançada pela serpente que certamente seduziu o coração de Eva e a motivou a transgredir. Os olhos de ambos foram abertos, e viram que estavam nus 5. É óbvio que a figura dos "olhos abertos" refere-se à consciência, que passou a ser caída, corrompida, depravada, sendo que ambos passaram a notar a própria nudez e a envergonhar-se dela. "Olhos abertos", paradoxalmente, passou a significar alma escravizada, mente fechada, entendimento obscurecido, espírito morto, coração impuro. Sem dúvida, a visão foi um dos sentidos presentes no palco da queda que influenciou a escolha de Eva e deu origem ao pecado. O estado pecaminoso passou a todos os homens, vez que em Adão todos foram feitos pecadores 6.
            Ver para crer, portanto, passou a ser a única opção do homem natural, do descendente de Adão. Tomé, o Dídimo (o "dividido") duvidou do testemunho dos outros discípulos quanto à ressurreição de Cristo. Disseram eles: "vimos o Senhor!", ao que ele replicou: "Se eu não vir o sinal dos cravos em sua mão, e não puser a mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei" 7. A incredulidade de Tomé era patente, ao ponto de não apenas duvidar da palavra dos discípulos (pessoas certamente muito chegadas a ele), mas também de sua própria visão. Tomé não se contentaria apenas com a visão do Cristo ressurreto, considerando imprescindível ver os sinais dos cravos nas mãos e tocar na ferida da lança, no seu lado. Uma fé assim condicionada certamente não é fé. De fato, embora tenha saciado sua curiosidade, extirpado a insegurança e o medo, só reconheceu que Cristo estava vivo pelos sentidos do tato e da visão, pelo que Jesus lhe disse: "Porque me viste, creste?! Bem-aventurados os que não viram e creram" 8. Felizes os que não precisaram e os que não precisam da visão para crer, porque estes são os que verdadeiramente alcançaram a fé, a qual não pode originar-se do princípio espiritual da visão, senão do próprio Deus.

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CONTINUA...

quinta-feira, 17 de março de 2011

O BANQUETE DO EVANGELHO - Parte 3 de 3


("Certo homem deu uma grande ceia e convidou a muitos. Eu vos digo que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia" - Lucas 14: 16 e 24)



         Vivificação, fé e arrependimento é Deus quem dá, através de Seu Espírito Santo, aos eleitos. Nada mais justo, pois se Cristo tivesse morrido e ressurgido, sem que àqueles fosse dado crer na extensão e na complexidade dessa salvação, Cristo teria morrido em vão. A obra de Deus tem sido revelada aos santos por inteira, e é executada de bom grado pela santa trindade: Deus escolhe, o Filho põe a mesa, o Espírito Santo traz os convidados para participar da grande ceia. Todos os que participam desse banquete são levados a crer (pela graça que lhes é revelada) em sua morte e ressurreição com Cristo (João 6: 29, 51, 53-58, 63-65; II Coríntios 5: 14 a 21; Gálatas 2:20; Gálatas 6: 14 e 15). Lemos em Filipenses 1:29: "Pois vos foi concedido, por amor de Cristo, não somente o crer nele, como também o padecer por ele" (grifamos). E, ainda no livro de Filipenses (2:13), Paulo declara que "Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade". É a Santa Trindade envolvida no processo de salvação do homem em todos os aspectos, em todas as etapas. Até o 'querer' ser salvo provém de Deus; com mais razão ainda o 'efetuar' da fé regeneradora, conquistada por Cristo (Hebreus 12:2) e manifestada pelo Espírito Santo (Gálatas 3: 22 a 25).
          No livro "A Festa de Babete", o autor Isak Dinesen retrata um jantar ofertado gratuitamente com o dinheiro ganho em um prêmio de loteria, no qual um dos convidados, um General, conclui: 'Todos nós fomos informados de que a graça deve ser buscada no universo. Mas em nossa loucura humana e nossa visão reduzida imaginamos que a graça divina seja finita... Porém, chega o momento em que nossos olhos são abertos, e vemos e entendemos que a graça é infinita. A graça, meus amigos, não exige nada de nós a não ser que a  aguardemos com confiança e a reconheçamos com gratidão'.
         O banquete do evangelho é para falidos; para indignos. A esses Deus elegeu em Cristo, segundo o beneplácito da sua vontade (Efésios 1: 3 a 6; Romanos 8: 29 a 37; Atos 13: 48; I Tessalonicenses 5: 9 e 10), fazendo-os participantes da Sua natureza  (II Pedro 1: 2 a 4) e de Seu reino (Colossenses 1: 10 a 13; I Tessalonicenses 2: 11 a 13; I Pedro 2: 9; II Pedro 1: 10 e 11; Apocalipse 1: 4 a 6; Apocalipse 5: 9 e 10), para louvor e glória da sua graça, a qual concede gratuitamente em Cristo.
         A graça não é resultado de esforço humano, nem é alcançada pela vontade do homem, mas pela vontade de Deus. Somos filhos nascidos "não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus" (João 1:13). A graça é para o salvo a mais relevante manifestação da soberania de Deus, pois por ela nos é dado, sem que merecêssemos,  arrependimento e fé para crermos na nossa morte com Cristo, a fim de que, mortos para o pecado vivamos para Deus, em Cristo Jesus (Romanos 6: 1 a 11).
         Louvo a Deus, porque eu era um desses falidos, a quem Deus quis alcançar com Sua graça, fazendo-me participante do banquete do evangelho e dessa tão grande salvação!

quinta-feira, 3 de março de 2011

O BANQUETE DO EVANGELHO - Parte 2 de 3


("Certo homem deu uma grande ceia e convidou a muitos. Eu vos digo que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia" - Lucas 14: 16 e 24)


         A graça manifestada em um convite irresistível é iniciativa de Deus; é dom dEle mesmo. Na parábola das 100 ovelhas, não é a ovelha que se dá por perdida e procura o seu dono; este, sim, é quem a procura e efetivamente a encontra e a traz de volta ao aprisco (Lucas 15: 3 a 6). O mesmo se dá com a dracma perdida, cuja dona insta desesperadamente em achá-la, festejando muito quando logra êxito no seu intento (Lucas 15: 8 a 10). Tais situações foram comparadas à do pecador que se arrepende: "Digo-vos que do mesmo jeito haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove que não necessitam de arrependimento" (Lucas 15:7). Ora, por que o pecador se arrepende? porque é o próprio Deus quem o procura, quem o visita na sua miséria, na sua falência, e lhe dá o arrependimento (Atos 5: 30 e 31; Atos 11:18; Romanos 2:4; II Coríntios 7: 9 e 10; II Timóteo 2: 24 e 25).
         Deus como dono da casa, ou melhor, do reino, fez tudo o que era necessário para que nele entrássemos: providenciou o cordeiro para ser sacrificado em nosso lugar e enviou o Espírito Santo para nos convencer do pecado, da justiça e o juízo, a fim de que tivéssemos a fé e o arrependimento necessários à salvação. De que devemos nos arrepender? do que somos (pecadores). Em que devemos crer? no Evangelho da graça, no Evangelho da cruz, que revela a morte e ressurreição de Cristo, bem como do pecador juntamente com Ele (João 12: 32 e 33; II Coríntios 5: 14 e 15). Isto é o que significa ser participante do evangelho (a grande ceia): morrer e ressuscitar com Cristo.
         Não é possível alguém entrar no reino de Deus sem ser regenerado, assim como não foi possível ao convidado, na parábola das bodas, permanecer na festa sem as vestes nupciais (Mateus 22: 11 a 13). É preciso nascer da água, que é a Palavra de Deus (o próprio Cristo) e do Espírito (João 3: 3 e 5) para podermos ver e entrar no reino de Deus. É preciso que nos revistamos de Cristo: "Todos vós sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus, pois todos vós que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo" (Gálatas 3: 26 e 27), e para isso teremos de nos despojar de nós mesmos. Note-se que nesse texto o apóstolo fala "batizados em Cristo", não batizados na água. Trata-se do batismo na morte de Cristo, a que Paulo faz constante alusão em suas cartas.
         WILLIAM R. NEWELL explica que "só a Palavra de Deus é que diz que Cristo tomou seus pecados sobre o Seu próprio corpo na cruz. E é essa mesma Palavra que diz que você morreu com Cristo em relação a Adão; que seu velho homem foi crucificado; que estando em Cristo você participou da Sua morte para o pecado, e, assim, tem de reconhecer sua presente relação com o pecado em Cristo - como alguém que está morto para ele e vivo para Deus" ("Romanos, Versículo por Versículo", p. 227).
          É cômodo pensar que Cristo morreu em nosso lugar, mas é incômodo e até impossível (do ponto de vista humano) crer que Cristo me fez morrer e ressuscitar juntamente com Ele. O homem natural não pode crer nessa verdade do evangelho porque ela só pode ser discernida espiritualmente: "Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, pois lhe parecem loucura, e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem a tudo, e ele de ninguém é discernido" (I Coríntios 2: 14 e 15). Assim, já que o ser humano nasce em estado natural, na carne, à imagem de Adão e à semelhança de sua natureza pecaminosa (Gênesis 5:3), morto espiritualmente, separado de Deus e destituído de Sua glória (Romanos 3:23), só pode ter fé e experimentar o arrependimento após a vivificação pelo Espírito Santo (Efésios 2: 1 a 10). 
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CONTINUA...

quarta-feira, 2 de março de 2011

O BANQUETE DO EVANGELHO - Parte 1 de 3

("Certo homem deu uma grande ceia e convidou a muitos. Eu vos digo que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia" - Lucas 14: 16 e 24)

         Uma leitura ainda que desatenta do texto compreendido entre os versículos 16 e 24 de Lucas 14 nos faz notar que todos os convidados, na parábola, foram chamados para participar da ceia do Senhor. Aqueles que estavam cuidando de seus próprios interesses também receberam o convite. Foram chamados, mas recusaram-se a participar da festa. O que os difere daqueles que entraram na casa e provaram a ceia? Precisamente o fato de que os outros não foram apenas chamados; eles foram também escolhidos. O convite aos últimos não foi feito em termos de "se você quiser", "queira aceitar", "por bondade", "tenha misericórdia", ou coisa parecida. Houve uma escolha definida, de maneira que o servo do senhor trouxe alguns e outros forçou a entrar para que participassem da grande ceia, ou do banquete.
         No reino de Deus é assim: muitos são chamados, mas poucos são  escolhidos (Mateus 20:16; Mateus 22:14). A parábola, sem dúvida, é um retrato do reino de Deus, o dono da casa. O servo é o Espírito Santo. A grande ceia é o Evangelho de Cristo.
         Duas coisas nos chamam muito a atenção nessa parábola: as pessoas convidadas (escolhidas) e a forma como foi feito o convite. "Sai depressa pelas ruas e bairros da cidade e traz aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os mancos. Disse o servo: Senhor, está feito como mandaste, mas ainda há lugar. Então disse o senhor ao servo: Sai pelos caminhos e valados e força-os a entrar, para que a minha casa se encha". Deus escolhe uma categoria muito interessante de pessoas: pobres, aleijados, cegos e mancos. Bem por isso, a oração de gratidão do Filho de Deus: "Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos" (Mateus 11:25). Deus não escolhe aqueles que são sábios e entendidos aos seus próprios olhos. Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes, conforme se verifica em Tiago 4: 6 e I Pedro 5:5. Lemos, ainda, em Mateus 9: 12 e 13; Marcos 2:17; e Lucas 5: 31 outras categorias de escolhidos, a saber, os doentes e pecadores. Logo, o banquete do Evangelho é servido para pobres, aleijados, cegos, mancos, humildes, doentes e pecadores, e a questão aqui não é de classe social, mas de estado da alma.
         Quanto ao convite, nota-se que os marginalizados e doentes não foram bater à porta da casa. Ao contrário, o servo do dono da casa é que foi chamá-los pelas ruas e bairros da cidade; pelos caminhos e valados. A chamada não pôde ser resistida: a ordem foi "traz aqui" e "força-os a entrar". A chamada também foi eficaz, vez que todos a quem o senhor quis buscar participaram da ceia. Estes nada fizeram para merecer o convite. Eles não realizaram portentos, não prestaram favores, não trouxeram presentes, não compraram ingressos, não bajularam o dono da festa e nem entraram de penetra. Quem os colocou lá dentro foi o servo do dono da festa, por ordem deste. Que grande ilustração da graça de Deus!
         Logo se vê que a graça é para os falidos. O convite é para muitos, mas a graça se demonstra eficaz para quem nada merece. Os justos (com sua justiça própria), os ricos (que colocam a esperança e o coração nas riquezas), os soberbos e arrogantes (com um rei na barriga), os sábios e entendidos (aos seus próprios olhos), não alcançam a graça de Deus. Até ouvem falar dela, recebem o convite para participar do banquete, mas acabam ficando do lado de fora por vários motivos, sendo o principal deles o julgar ser mais importante cuidar dos próprios interesses do que participar de uma festa para a qual em nada contribuíram. A graça é, pois, um convite gratuito, mas que só é irresistível para aqueles que são escolhidos por Deus, vale dizer, aqueles que de fato precisam dela pelo próprio estado em que se encontram: pobres, aleijados, doentes, pecadores, enfim, humilhados e abatidos por dentro, e muitas vezes também por fora, em razão do convencimento do pecado realizado pelo Espírito Santo (João 16:9).
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CONTINUA...
 

terça-feira, 1 de março de 2011

PÃO PARA QUEM TEM FOME - PARTE 2 de 2


("Por que gastais dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer?" – Isaías 55:2)



            A ausência do maná celestial nos cardápios das congregações modernas é a causa da inanição  e do raquitismo espiritual detectáveis nas multidões de frequentadores de cultos, que se arrastam famintos nos corredores dos templos. Jesus diz aos seus discípulos: "Dai-lhes vós de comer", e alguns de seus pretensos seguidores distribuem balas, doces e confetes, porque não podem dar o que não têm. No milagre da multiplicação dos pães, conforme relato de João, Jesus pergunta a Filipe: "Onde encontraremos pão para toda essa gente comer?". A pergunta tinha um efeito didático, pois Jesus em seguida daria a resposta miraculosa: "Ele perguntava isto somente para o experimentar, pois já sabia o que ia fazer" (João 6: 5 e 6). Todo o nosso esforço é vão se Cristo não for o nosso alimento. Jamais ficaremos satisfeitos e jamais satisfaremos as pessoas ao nosso redor. Cristo é o alimento completo enviado dos Céus, e todo o nosso patrimônio, tudo o que somos e temos não é suficiente para comprá-lO, principalmente porque Ele não está à venda - é dado pela graça do Pai: "Ninguém pode vir a mim se pelo Pai não lhe for concedido" (João 6:65-b).
            Pregadores que não conhecem o Deus da Palavra tentam vender a  Palavra de Deus como se fosse produto em liquidação. Barateiam o Evangelho e anulam o sacrifício de  Cristo com suas ofertas mercadológicas. Querem fazer negócio com as multidões, porque não podem dar de graça se de graça nunca receberam. Até o mais bem intencionado dos religiosos só poderá ofertar religião, ainda que a chame de evangelho. De fato, quando a graça do Evangelho e o Evangelho da graça não são anunciados, o resultado final será, quando muito, mais adeptos de um sistema religioso infrutífero, os quais descobrirão, mais cedo ou mais tarde, a ineficácia ou a inconsistência do alimento que lhes foi ministrado.
            No exemplo da multiplicação dos pães, as necessidades físicas daquela multidão foram satisfeitas, mas eles não conheceram, e nem queriam conhecer, Aquele que os saciara: "Em verdade, em verdade, vos digo que me buscais, não pelos sinais miraculosos que vistes, mas porque comestes do pão, e vos fartastes" (João 6:26). O alimento material sacia o corpo, mas não satisfaz os desejos mais profundos da alma humana. O alimento espiritual, o pão que desce do Céu, farta e satisfaz plenamente todas as nossas necessidades: "Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim jamais terá sede" (João 6:35). O que o homem precisa, praticante ou não de uma religião, não é de comida nem de bebida, mas de vida. Cristo é o pão da vida. Para nos alimentarmos dEle precisamos ir a Ele e crer para dentro dEle, o que implica identificação perfeita com Ele, em Sua morte, sepultamento e ressurreição, segundo as Escrituras (I Coríntios 15: 3 e 4). Cristo crucificado, conforme a receita  do "Chef" Divino, é o prato principal do “menu” do Evangelho da graça. Se não comermos a carne e não bebermos o sangue do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo não teremos vida em nós mesmos (João 6: 53 a 58). Se não houver identidade em Sua morte (na qual a carne foi rasgada e o sangue derramado) não ficaremos satisfeitos com qualquer outro alimento oferecido. De outra parte, se continuarmos trabalhando apenas pelo alimento que perece e que não pode saciar a alma, nosso esforço será vão, nosso viver será enfadonho, nossos projetos findarão no epitáfio.
            O alimento que permanece para a vida eterna é Cristo, e o que Ele produz em e por meio daqueles que dEle se alimentam. Cristo é o pão que sacia de graça aquele a quem Deus abre o apetite espiritual e nutre. No deserto da existência humana só o Maná de Deus dá vida, alimenta, e satisfaz completa e eternamente.
            Mas você está interessado nisto? De que você tem fome? Você tem fome de Cristo?