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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

PÃO PARA QUEM TEM FOME - PARTE 1 de 2


("Por que gastais dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer?" – Isaías 55:2)

            "Você tem fome de quê?", pergunta Arnaldo Antunes, e muita gente fina responde, fazendo coro aos anseios do cantor: "A gente não quer só comida; a gente quer comida, diversão e arte. A gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte. A gente não quer só comer, a gente quer comer e quer fazer amor. A gente não quer só comer, a gente quer prazer pra aliviar a dor". E você? Tem fome de quê? Comida, bebida, dinheiro, diversão, arte, sexo, prazer, prestígio, religião, poder, igreja, família, amizades? De que você carece? O que você tem perseguido com todo o seu esforço, labor, suor e lágrimas? O que é imprescindível para você? Não me refiro às suas necessidades básicas. Todos nós as temos. Mas, o que vem depois disso? O que é prioritário em sua vida?
            Tais perguntas não são meramente provocativas, mas indutivas de um auto-exame que ora proponho, cujo resultado poderá ter proporções eternas, no mundo invisível, na vida interior. Se os seus interesses, porém, se limitarem ao mundo material, ao presente século mau, aconselho-o a não continuar a leitura.
            A pergunta feita através do profeta Isaías cuida em colocar a questão em seus devidos termos, isto é, em termos espirituais. Deus não está aí preocupado com o destino dos nossos recursos financeiros. Deus não está nos conclamando a meditarmos sobre o que fazemos com o fruto do nosso trabalho. Não há aí uma sindicância, nem uma espécie de auditoria divina em nossas contas bancárias. Gastar dinheiro com aquilo que não é pão, e o fruto do trabalho naquilo que não pode satisfazer, é o que faz todo aquele cuja vida não esteja escondida em Cristo. É, de fato, este o triste retrato do religioso e, via oblíqua, da religião, na qual aquele investe seus recursos materiais e o próprio esforço laborativo, no entanto os rendimentos não se fazem notar. Os lucros e dividendos que a religião paga são insatisfação, canseira, enfado e morte.
            Bem por isso, no versículo anterior, a orientação do profeta é para que aqueles que têm sede se cheguem às águas, e os que não têm dinheiro comprem e comam. Sim, comprar sem dinheiro e sem preço vinho e leite. Há dois aspectos da graça muito nítidos nesse convite: a nossa incapacidade em adquirir, e o valor inestimável do objeto oferecido. Não temos dinheiro para comprar o dom da graça de Deus, nem seria possível fazê-lo, ainda que algum recurso tivéssemos, em face de seu valor inestimável e de seu caráter gratuito. Assim é a graça de Deus em Cristo. O alimento espiritual, o pão de Deus, que é Cristo, é puramente graça e inteiramente de graça, tanto porque jamais poderíamos adquirir (não há nada que possamos fazer e não há nada no mundo que sirva de moeda de troca), quanto pelo fato de que não está à venda.
            A estimativa do alimento que vem dos Céus é graça. Com efeito, Cristo é o pão que desce do Céu cheio de graça e de verdade: "O Verbo se fez carne, e habitou entre nós. Vimos a sua glória, a glória como do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade" (João 1:14); "Pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo" (João 6:33); "Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram. Mas aqui está o pão que desce do céu, do qual se o homem comer não morre" (João 6: 49 e 50). Por que há tantas pessoas morrendo de fome nas igrejas? A resposta é porque não estão se alimentando do pão que desce do Céu. E por que não fazem uso dessa dieta celestial? Ao menos por dois motivos básicos: Primeiro, porque o pão não faz parte da ceia que é ministrada. Segundo, porque as pessoas não estão com fome de pão. Muitos que se dizem cristãos estão correndo de cá para lá, de igreja em igreja, de sermão em sermão, atrás de bênçãos. Estão atrás de diversão, prazer, arte, prosperidade material e, algumas vezes, alívio da dor que invade a alma sem Deus. O pão divino não é alvo de atenção, nem as fontes de água da Palavra fazem parte da atração, até porque nem em miragem são elas vislumbradas na maioria dos púlpitos atuais - verdadeiros desertos espirituais desprovidos de oásis.
 

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CONTINUA...
 

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

FACETAS DO AMOR DE DEUS - MISERICÓRDIA - Parte 3 de 3



("Com amor eterno te amei; com benignidade te atraí" – Jeremias 31:3) 

          A misericórdia é a própria base de nossa salvação: “Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida com Cristo quando ainda estávamos mortos em transgressões – pela graça vocês são salvos” (Efésios 2: 4 e 5). Porque Deus é rico em misericórdia, por causa do grande amor que nos atraiu com benignidade, Ele nos salva graciosamente em Cristo. A misericórdia é, pois, o fulcro da nossa salvação; ela é a causa de não sermos consumidos (Lamentações 3:22), pois todos nós somos miseráveis, somos como o imundo, e nossos atos de justiça não passam de trapos de imundícia (Isaías 64:6-a). É muito significativo que os “panos sujos de menstruação” não foram comparados às nossas transgressões, aos nossos erros, aos escândalos que causamos, mas sim à nossa suposta justiça. Foi por causa do Seu grande amor, e por causa da riqueza de Sua misericórdia, não por qualquer ato que tenhamos praticado, não porque fôssemos justos, não por ter visto Ele qualquer resquício de bondade em nós. Foi por causa de nossa injustiça e de nossa miséria que Ele usou de justiça e misericórdia para conosco.
            É mister refletirmos sobre nossa conduta, mas é mais necessário ainda refletirmos sobre nossa maneira de refletir. Paulo ensina que o novo homem deve transformar-se pela renovação da mente, a qual deve conformar-se à mente de Cristo. Quantos que se dizem salvos pela graça, justificados pela fé no Evangelho, ainda trazem o ranço de uma natureza que não se compraz com o perdão e com a misericórdia?  “Tem misericórdia de nós, Senhor!”, porque quando agimos com intransigência, discriminação, indiferença, dureza de coração, estamos denunciando resquícios do nosso velho homem, o qual precisa ser despojado, se é que já foi morto.
            É muito fácil exercermos juízo sobre os outros, isto é, julgarmos os outros por seus pecados, crimes, erros, deslizes, falhas ou escândalos. Mas o que será de nós se em nosso íntimo não olharmos para eles com compaixão e misericórdia? Estamos pensando, sentindo, falando e agindo como quem vai ser julgado pela lei da liberdade ou pela lei do juízo? Deus nos livre do juízo, e nos dê um coração que se compraz com Sua misericórdia, sobretudo pela demonstração de misericórdia ao nosso semelhante. Só assim traremos em nós o testemunho de um coração miserável que foi transformado pela misericórdia do Deus de toda a graça.

INCOMPREENSÍVEL AMOR,
INCONQUISTÁVEL GRAÇA,
INCOMENSURÁVEL PERDÃO,
INCOMPARÁVEL MISERICÓRDIA,

            do Deus que me resgatou das trevas do pecado e me transportou para o Reino do Seu Filho amado. A mim, tão miserável pecador!

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

FACETAS DO AMOR DE DEUS - MISERICÓRDIA - Parte 2 de 3

("Com amor eterno te amei; com benignidade te atraí" – Jeremias 31:3)



            Olhando por esse prisma, podemos entender a importante e séria exortação de Tiago: “Falem e ajam como quem vai ser julgado pela lei da liberdade; porque será exercido juízo sem misericórdia sobre quem não foi misericordioso. A misericórdia triunfa sobre o juízo” (Tiago 2: 12 e 13). Imaginemos o publicano, antes referido, que desceu para casa justificado após ter sido alcançado pela misericórdia divina, discutindo com um próximo por uma questão (como diriam os romanos) de lana caprina, uma questão de tudo e por tudo irrelevante. Ou, então, deixando de compreender ou atender às necessidades de algum conhecido, estando ao seu alcance fazê-lo. É possível imaginarmos a lógica disso? Creio que não. Assim como também não foi lógica, nem um pouco razoável, menos ainda justa, a atitude daquele servo que não perdoou a dívida de 100 denários do seu conservo, embora tivesse sido perdoado pouco antes por uma dívida infinitamente maior (10.000 talentos) por parte do seu senhor (Mateus 18: 21 a 35). Lembrando que um talento era o equivalente a 6.000 (seis mil) denários. Portanto, apesar de dever 60.000.000 (sessenta milhões) de denários, e ter sido perdoado por tal dívida, não foi capaz de perdoar uma dívida de 100 (cem) denários do conservo.
            É fácil perceber e apontar a injustiça nos exemplos e na vida dos outros, mas quantas vezes agimos duramente ou indiferentemente para com aqueles que necessitam de misericórdia? Quantas vezes entendemos, louvamos e até pregamos a graça, mas não manifestamos graça ao próximo? Se não perdoamos àqueles que nos são de alguma maneira devedores, como seremos capazes de demonstrar o perdão de Deus? Por vezes, deixamos de perdoar aqueles que nos fizeram algum mal, ou fizeram algum mal a um conhecido, ou até mesmo a um desconhecido. Quantas vezes falamos mal daqueles que praticaram algum crime sem conhecer a vítima ou as circunstâncias do fato? Quantas vezes nos pegamos dizendo “bem feito!” quando alguém é preso ou até mesmo vingado de morte; ou então “esse aí não merece perdão”, seja ele criminoso ou não? Que espécie de cristianismo se gloria no próprio perdão, mas não admite o perdão do outro? Que vida cristã haverá em nós se conseguirmos enxergar a misericórdia e a graça divinas apenas em nosso próprio benefício? Poderemos confessar que o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo e, pari passu, fecharmos nossas entranhas ao nosso semelhante? Como bem disse o apóstolo João: “Se alguém tiver recursos materiais e, vendo seu irmão em necessidade, não se compadecer dele, como pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra, nem de boca, mas em ação e em verdade” (I João 3: 17 e 18).
            O mundo está repleto de carentes, não apenas materiais, mas também espirituais, sentimentais, sociais, afetivos, relacionais. Todos nós temos nossas carências, com variações de manifestações e intensidade. Como poderemos testemunhar do amor de Deus sem demonstrar misericórdia ou compaixão para com os que se aproximam de nós expondo suas carências e necessidades, e clamando por socorro?

            A misericórdia triunfa sobre o juízo para aqueles que são misericordiosos. Para os demais, parece óbvio, não haverá misericórdia, mas sim juízo.

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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

FACETAS DO AMOR DE DEUS - MISERICÓRDIA - Parte 1 de 3

("Com amor eterno te amei; com benignidade te atraí" – Jeremias 31:3)


            O amor de Deus é gracioso e perdoador, mas é também misericordioso. A misericórdia, que é sinônimo de bondade, benignidade, benevolência e compaixão, talvez seja a expressão primeira do amor de Deus. Por causa de Sua misericórdia, Ele agracia e perdoa. Por trás de Sua misericórdia está o amor, essência do Seu ser. Primeiro Ele nos ama com amor eterno para nos atrair com laços de misericórdia.
            A misericórdia de Deus não tem fim; renova-se a cada manhã; é a causa de não sermos consumidos; estende-se sobre os que O temem de geração a geração; é dispensada a quem Ele quer; é a causa da salvação dos pecadores; triunfa sobre o Juízo; foi a motivação da encarnação do Verbo divino. Tais nuances, ora parafraseadas, dão-nos uma noção da relevância do tema. Já se disse que misericórdia é Deus não nos dando o que merecemos; ao passo que graça é Deus nos dando o que não merecemos. Como é preciosa essa definição, e como é importante entendermos de que maneira a graça e a misericórdia nos afetam. Se é certo que graça é para os desgraçados, misericórdia é para os miseráveis. Quantas vezes encontramos o registro nas Escrituras da súplica: “Tem misericórdia de mim, Senhor!”. Diferentes pessoas, em diferentes situações e épocas, partilhando do mesmo sentimento: a miséria, ou o coração miserável (misere cordis).
            Segundo o AURÉLIO, misericórdia é a compaixão suscitada pela miséria alheia. Por isso é tão profunda a revelação de que Deus encerrou a todos embaixo da desobediência para com todos usar de misericórdia (Romanos 11:32). Vale dizer: judeus e gentios, a totalidade da humanidade, foi colocada sob a desobediência em razão do pecado comum a todos os homens. Não há um justo, nem sequer um ser humano que não transgrida a Lei. Desde que Adão pecou e transmitiu a sua natureza iníqua a seus descendentes o pecado deixou de ser uma questão regulamentar para se tornar um problema genético e relacional. Pecado é, pois, uma natureza, mas é também um estado de separação e independência de Deus, de maneira que até aqueles que supostamente cumprem as leis divinas e humanas estão destituídos da glória de Deus. Essa natureza altiva, que também é ignorante e incrédula, parece ser demasiadamente auto-suficiente para reconhecer a necessidade de Deus, o que por si só traduz a miséria do espírito e da alma do homo sapiens, que é mais homo (húmus) do que sapiens (inteligente). Deus olha para esse ser miserável com compaixão e usa de misericórdia para com aqueles que por ela clamam, de acordo com Sua soberana vontade, como fez com o publicano da parábola. Enquanto o fariseu orava de si para si mesmo, enaltecendo suas qualidades e desprezando a atitude dos outros homens, o publicano não ousava olhar para o céu, mas batendo no peito suplicava: “Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador” (Lucas 18: 9 a 14). Eis aí bem ilustrado o que o dicionarista definiu como “grito de quem pede compaixão, piedade, socorro”. É o grito dos miseráveis, que não têm mais justiça própria para se estribar, e carecem da misericórdia e da justiça de Deus.
            A misericórdia tem estreita relação com a justiça, a qual não se coaduna com a impunidade. Conta-se que Juscelino Kubitschek abafou dois levantes em seu governo oriundos da Aeronáutica. Nas duas situações puniu os oficiais responsáveis para, ao depois, conceder-lhes anistia. Não satisfeito, ainda promoveu os revoltosos. Não há como comparar a misericórdia humana com a divina, mas o caso ilustra bem a atitude de Deus para com o pecador. Deus não culpa o inocente, nem inocenta o culpado. Por isso, a condenação do pecador não deixou de ser cumprida por este, mas o foi através de um substituto perfeito, que nos incluiu em Seu corpo para que fôssemos mortos, sepultados e ressuscitados juntamente com Ele, para nossa justificação e salvação, para que tivéssemos vida nEle. O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus. Deus não nos deixa impunes, mas também não nos dá o que merecíamos (morte eterna), para nos dar o que não merecíamos (vida eterna). O que é isso? Misericórdia e graça.
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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

FACETAS DO AMOR DE DEUS - GRAÇA E PERDÃO - Parte 2 de 2


("Mas aquele a quem pouco foi perdoado, pouco ama" - Lucas 7:42-b)

            Graça e perdão são instrumentos do amor de Deus e expressões exatas de Cristo, em quem habita toda a plenitude da Divindade. Por isso a afirmação do apóstolo Paulo de que nada poderá nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus (Romanos 8:39). Diz-se que Deus não ama o pecado, mas ama o pecador. Não se pode olvidar, contudo, que esse pecador, antes de ser regenerado, nada tem do amor de Deus nele. Ao contrário, é verdadeiro inimigo de Deus. Assim, só aquele que nasce do Alto experimenta de uma maneira singular a graça, o perdão e o amor de Deus, que estão em Cristo. Só aquele que está em Cristo pode se considerar legitimamente nova criatura. Estar em Cristo implica estar morto para o pecado (natureza pecaminosa) e vivo para Deus. Fora de Cristo, sem a identificação em Sua morte, sepultamento e ressurreição, não há amor, nem graça, nem perdão; apenas presunção. Em outras palavras, qualquer pessoa que se julgue objeto do amor de Deus, sem conhecer experimentalmente a graça e o perdão de Deus manifestados na morte vicária do "Cordeiro Pascal", pode estar cheia de ilusão e de si mesma, mas não tem o amor de Deus derramado em seu coração.
            É certo que a boca fala do que está cheio o coração. Eis porque,  o testemunho e a conversa de alguém é até mais importante do que sua própria conduta. Lembre-se: "pelas tuas palavras serás justificado"; "cri, por isso falei". Aquele que busca desesperadamente cumprir à risca os ditames legais, que se esforça sobremaneira para agradar os outros, e que trabalha com afinco nas lides eclesiásticas, muitas vezes em prejuízo do amor fraternal, pode conhecer bem o que seja o esforço da religião, mas não conhece o descanso da graça. Há muitos que, de fato, são escravos da religião, não servos de Cristo. Em Cristo o escravo é liberto, e o liberto se torna escravo do Senhor. Em Cristo, todos são agraciados, mas não antes de se reconhecerem indignos. Cristo é tudo em todos os que já foram conscientizados de seu pecado, de sua incredulidade, de sua desgraça, de sua injustiça, de sua incapacidade, de sua miserabilidade. No "Tudo" de Deus nada somos. Enquanto as trevas da religião nos mantém escravizados na ilusão de nós mesmos, a luz da graça nos liberta através da revelação de Cristo em nós.
            A força da religião é a letra do mandamento. Por isso está escrito que "a letra mata, mas o Espírito vivifica". A religião nos conduz solene e friamente à morte. A graça nos manifesta a vida de Cristo por meio de Seu Espírito. Não podemos nos contentar com o esforço e o ativismo religioso, que nada produzem além de canseira e ilusão naqueles que a eles se submetem. Noutro giro, a religião se alimenta do medo. A graça é nutrida pelo amor. O medo gera obediência de escravo. O amor, obediência de filho. No amor, como nos diz a Palavra, não há medo; antes, o perfeito amor lança fora todo o medo, porque o medo supõe castigo. Como não há condenação para os que estão em Cristo Jesus, só estes agraciados podem descansar no amor do Pai. Como já se disse, "somos libertos dos fardos da religião para estarmos debaixo da graça e crescer na Lei do Amor".
            Disso tudo, podemos concluir que a religião, que se estriba na observância do mandamento (divino ou humano), escraviza seus prosélitos e os conduz veladamente à perdição. Por sua vez, a graça, como manifestação inequívoca do amor de Deus, liberta o ser humano do pecado, da religião, e do seu próprio ego, e gera uma servidão espontânea, cuja recompensa é o próprio amor de Deus que está em Cristo, e cujo fim é a salvação da alma. 
          Nada foi registrado sobre o destino do religioso pretensamente justo que convidara Jesus para jantar em sua casa. Mas o fim da pecadora agraciada foi remissão de pecados e salvação por meio da fé, e o seu testemunho foi demonstração de amor Àquele que a perdoou, derramando todo o caro perfume, que representava sua própria vida, aos pés do Salvador.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

FACETAS DO AMOR DE DEUS - GRAÇA E PERDÃO - Parte 1 de 2



("Mas aquele a quem pouco foi perdoado, pouco ama" - Lucas 7:42-b)
 
            Não é possível definir Deus em uma palavra. Ele próprio utiliza-se de vários vocábulos e diferentes atributos para revelar-se em Sua Palavra. Penso que nenhum deles é tão significativo quanto o amor, sendo a meu ver o aspecto da Divindade que mais particularmente nos atinge. Deus é amor, portanto todos os mandamentos podem ser resumidos nisso: amar a Deus de todo o coração, alma e entendimento, e ao próximo como a nós mesmos. Disso depende toda a Lei e os profetas, conforme nos revela o Filho de Deus em Mateus 22:39. O cumprimento da Lei é o amor.
            O apóstolo Paulo trata tal atributo como "um caminho ainda mais excelente". Mais excelente que todos os dons que ele conhecia muito bem, inclusive a fé e a esperança (I Coríntios 13). Que sentimento precioso e ao mesmo tempo misterioso! Como pode um Deus perfeito e todo-poderoso amar tão profundamente criaturas tão débeis e imperfeitas como nós? É uma pergunta sem resposta, ainda que nos seja revelada a natureza, a fonte, o veículo e a finalidade desse amor. Por mais que saibamos sobre ele, jamais conseguiremos explicá-lo. É algo que está infinitamente acima de nossa capacidade de compreensão.
            O amor de Deus é a um tempo intrigante e fascinante, e não obstante apresentar inúmeras facetas, as mais notáveis delas, segundo penso, são a GRAÇA e o PERDÃO. Não temos pretensão nem condição de analisá-las exaustivamente nessas poucas linhas, mas abordaremos alguns de seus aspectos que nos revelam muito claramente a natureza do amor divino.
            A Banda U2 declara em uma de suas letras: "Você nunca conheceu o amor antes de cruzar a linha da graça".  A declaração é teologicamente correta. Como conhecer o amor de Deus sem experimentar a Sua graça? Se é exatamente pela graça que Deus manifesta Seu amor, não podemos sentir nem confessar o amor se não conhecermos a graça. Por Sua graça Deus manifesta o Seu perdão. Graça e perdão estão intrinsicamente ligados, numa relação de causa e efeito. Nessa relação, o amor dá o tom.
            No contexto onde se acha inserido o texto-base, vemos uma clara manifestação da graça e do perdão de Deus, revelados em Cristo, refletindo o Seu amor. Jesus está aí relatando a experiência de uma mulher cujos pecados foram perdoados, e cuja demonstração de amor e de gratidão a Jesus era profunda, visível, inquestionável. Por fim, Jesus declara que a sua fé lhe salvou. A história verídica foi uma aplicação exata e imediata da parábola referida pelo Mestre com o intuito de provocar o assunto. Na parábola também fica claro que quem mais é perdoado mais ama. Essa é a lição aí presente que revela, no plano espiritual, que só aqueles que conhecem o verdadeiro perdão de Deus manifestado por graça em Cristo Jesus podem de fato confessar e demonstrar que amam a Deus, por terem o amor divino derramado em seus corações pelo Espírito Santo que os regenerou.
            Não por mera coincidência, a lição teve como alvo um religioso, cuja postura discriminatória em relação à mulher pecadora deixou transparecer o antagonismo entre religião e graça. Alguém já disse: "A religião é uma escada sem fim construída pelo homem para chegar-se a Deus. Graça é um elevador que Deus construiu para chegar-se ao homem. Graça é Deus dando tudo e fazendo tudo por quem nada merece, nem tem condições de merecer. Religião é o homem fazendo inutilmente de tudo para ser aceito por Deus". Há muitos religiosos que se julgam amados por Deus simplesmente porque vêem o cumprimento de algumas promessas de Deus em suas vidas, notadamente no aspecto material. É certo que a Palavra de Deus sempre se cumpre, e que Deus faz nascer o sol sobre justos e injustos. Todavia, o amor de Deus só é sentido verdadeiramente e em sua plenitude por aqueles que já experimentaram a Sua graça, que já receberam o Seu perdão em Cristo Jesus.

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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A GLÓRIA DO BOM PERFUME - Parte 2 de 2

"Mas graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo lugar o bom perfume do seu conhecimento" (II Coríntios 7:14)

          O mesmo Paulo que declarou que para ver os seus irmãos segundo a carne salvos, se fosse possível, suportaria até a separação de Cristo (Romanos 9:3), tinha plena consciência de que isso não era viável, e de que nada lhe era mais importante do que o conhecimento de Cristo: "Mas o que para mim era lucro, considerei-o perda por causa de Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como refugo, para que possa ganhar a Cristo, e seja achado nele, não tendo justiça própria, que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé. Desejo conhecê-lo, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte, para ver se de alguma maneira posso chegar à ressurreição dentre os mortos" (Filipenses 3: 7 a 11).
            Como é maravilhosa e profunda essa confissão de Paulo! Ela nos sonda e nos leva a indagar: Quanto de justiça própria ainda resta em nós? Por que nos esquecemos de dar a devida importância ao conhecimento de Deus na pessoa de Cristo? Quanto tempo perdemos preocupados com nossas atitudes ou com os erros dos outros, como se Deus não fosse capaz de perdoar e de amar até o mais vil pecador, bem como terminar a obra que em nós começou? Quanto tempo perdemos com projetos em prol da "causa" em prejuízo da comunhão com o "dono da Causa"? Devemos buscar, a cada instante, tão somente ser achados nEle, na justiça que vem pela fé dEle, gerada pela manifestação da vida dEle em nós a partir da nossa conformidade, pela fé, com Sua morte, sepultamento e ressurreição. Quantas pregações, estudos e pensamentos nós elaboramos visando comunicar aos outros o Evangelho de uma maneira às vezes fria e calculista,  esquecendo-nos de transmitir o bom perfume do conhecimento de Cristo! Deveríamos comunicar o Evangelho sem nos esquecer disto. No afã de salvar os perdidos (inclusive os da religião), apresentamos mensagens biblicamente corretas, porém destituídas de vida. Isso porque o conhecimento doutrinário não se confunde com o bom perfume do conhecimento de Cristo. Por outro lado, melhor do que proclamar que O temos é tê-lO. Melhor do que demonstrar que O conhecemos é conhecê-lO.
            Assim como o perfume não é considerado bom por causa do frasco, mas por causa da fragrância, a nossa glória não está em nós, mas em conhecer e fazer conhecido Aquele que vive em nós por Seu Espírito: "Mas o que se gloriar glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor, que faço misericórdia, juízo e justiça na terra, porque destas coisas me agrado, diz o Senhor" (Jeremias 9:24). Por fim, quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, nós nos manifestaremos com Ele em glória (Colossenses 3:4). Em outros termos: quando o perfume se tornar famoso o frasco se tornará famoso com Ele.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A GLÓRIA DO BOM PERFUME - Parte 1 de 2

"Mas graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo lugar o bom perfume do seu conhecimento" (II Coríntios 2:14).


           Há uma indescritível alegria no regenerado pela descoberta de uma pessoa: Cristo. Melhor do que isso é descobri-lO em nós. Não há dia mais significativo do que aquele no qual aprouve a Deus revelar Cristo em nós, o próprio mistério do Evangelho.
            A nova vida em Cristo, na qual o "eu" encontra-se crucificado, e Cristo, pela fé, entronizado, é a vida que tem sentido. Trata-se da vida abundante prometida por Jesus. Quando a promessa é em nós cumprida, vemos que nada está perdido; ao contrário, tudo foi ganho em nosso benefício. "Se alguém nunca nascer de novo",  como já foi dito, "melhor seria que nunca tivesse nascido". Sem o novo nascimento, sem a passagem da morte do "eu" para a vida de Cristo, nada resta, porque Cristo é o tudo de Deus, e sem Ele nada somos e nada podemos fazer. Se é certo que sem ele nada somos, de igual modo nEle somos considerados nada, porque Ele é que é tudo e está em todos os regenerados, e neste caso o pressuposto é que o "eu" seja aniquilado, assim como foi o pecado.
            Conquanto a santificação - a libertação do poder do pecado - seja um processo, é necessário que Ele cresça e que eu diminua, e todo crescimento tem seu tempo adequado ao projeto de Deus para cada um dos Seus filhos, pois só Deus sabe a que estatura estamos e em que nível de crescimento espiritual Ele nos quer fazer chegar. Nada obstante, o que considero mais precioso na experiência da vida ressurreta é a comunhão íntima com o nosso amado Salvador e Senhor, o qual se tornou a nossa vida. Muitos querem um Salvador, e até O admitem como Senhor, mas quem quer naturalmente perder a própria vida para ganhar a de Cristo? Quem pode por conta própria negar o "eu", ou reduzi-lo a nada, para que Cristo seja entronizado? A resposta é taxativa, mas alentadora: ninguém! A razão é simples: ninguém pode negar a si mesmo, e ainda que pudesse, não teria vontade própria para fazê-lo. Só a graça de Deus em Cristo pode realizar a operação da cruz em nosso interior.
            À medida em que Cristo se manifestar em nós, mais O conheceremos, mais experimentaremos de Sua vida ressurreta, e mais detestaremos a nós mesmos. É o caminho sem volta da vida cristã, no qual a manifestação de Cristo se torna mais importante que os interesses pessoais. Quanto mais longe formos levados nessa senda, mais repudiaremos a vida do "eu", a vida da alma, com suas manifestações variegadas, sutis e enganosas. Deus não nos abandona nesse caminho, que é contínuo e peremptório, e só termina no dia de Cristo. Noutro giro, só é possível manifestar por todo lugar o bom perfume do conhecimento de Cristo se Cristo for a nossa vida. Isso porque Paulo não se refere a um conhecimento intelectual, meramente teórico, quiçá oriundo do estudo sistematizado da teologia, ou de nosso convívio com teólogos do passado ou do presente, mas sim a um conhecimento pessoal, fruto de uma convivência diária, mesmo, e principalmente, em meio às adversidades. Isso é que gera fruto para Deus, que nada mais é do que a manifestação da vida de Cristo em nós, a qual certamente terá reflexo em nosso procedimento (comportamento ativo ou passivo) e em nossas obras (comportamento ativo). 
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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O FUNDAMENTO, A IGREJA E A OBRA


            Em tempos de confusão, em que o ativismo e o esforço religioso estão em voga, mister refletirmos sobre o Fundamento, a Igreja, e a obra que esta realiza. Para tanto, olhamos para o texto de Mateus 16:18, que diz: "E também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela". Cristo nos fala aí que Ele veio edificar um edifício sobre uma pedra, afinal não há nenhum edifício sem fundamento. O fundamento da Igreja, a Pedra angular desse edifício, é Ele mesmo: "Chegando-vos para ele, pedra viva, rejeitada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, vós também, como pedras vivas, sois edificados como casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, aceitáveis a Deus por Jesus Cristo" (I Pedro 2: 4 e 5).
            No edifício espiritual que é a Igreja, Cristo é o fundamento. Por isso, ao "construir" igrejas, na missão ou na obra atribuída pelo próprio Jesus a Paulo, o apóstolo não lançava outro fundamento, para que o edifício ficasse firme: "Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio construtor, o fundamento, e outro edifica sobre ele. Mas veja cada um como edifica sobre ele. Pois ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém sobre este fundamento levantar um edifício de ouro, de prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará, porque o dia a demonstrará. Pelo fogo será revelada, e o fogo provará qual seja a obra de cada um" (I Coríntios 3: 10 a 13).
            Vemos que Paulo fazia essa obra "segundo a graça de Deus". Vemos também que Cristo é tanto o fundamento da Igreja quanto o próprio fundamento da obra. Se alguém quiser acrescentar alguma coisa a esse fundamento, a obra do tal será revelada, e queimada pelo fogo.
            Cristo é a Pedra Angular da Igreja, o seu fundamento. Sem Ele, todo o edifício ruiria, desabaria, não resistiria ao dia mau, às investidas de satanás, à pressão do mundo, às tentações, às provações, aos ventos e tempestades espirituais que parecem querer nos derrubar. Nós somos, como Igreja, esse edifício, essa "casa espiritual" de Deus, que habita em nós por Seu Espírito. Não podemos nos esquecer disso, desse grande Tesouro que Deus quis colocar em "vasos de barro". Perigo é olharmos para os "vasos" e esquecermos do "Tesouro" que eles contêm (falo a respeito dos verdadeiros filhos de Deus, regenerados pelo sacrifício do Cordeiro).
            Por outro lado, a obra realizada pela Igreja só pode ter um fundamento: Cristo. Como bem disse Paulo, em sua construção, como sábio construtor, esse foi o fundamento colocado. Assim, tudo o que perca de vista esse fundamento está sendo acréscimo indevido e danoso. A obra não pode ser analisada em si mesma. Ela precisa estar sempre relacionada com Aquele que a determinou, com o alicerce sobre o qual ela precisa estar sendo levantada. DE VERN FROMKE, com muita propriedade, observou:
"Se for a nossa obra, e estivermos obtendo satisfação da obra em si mesma, significa que ainda não aprendemos que Ele deve tornar-se tanto a fonte como a alegria de nossa obra“.
            Concluímos, portanto, que Cristo é a origem, o fundamento da Igreja, assim como o fundamento da obra que, pela graça de Deus, a Igreja é levada a realizar neste mundo.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A PALAVRA - EVANGELHO E ELEIÇÃO

Aos que são chamados para serem “conformes à imagem de Cristo”, que fazem parte do egroup "A Palavra”, gostaria de esclarecer que não tratamos nem apenas de Evangelho e nem somente de Eleição. Tratamos de Evangelho, mas também de Eleição, e pretendemos abordar tudo o que seja revelado na Palavra de Deus, se Ele assim permitir, para a honra e glória dEle mesmo. Há alguns neste grupo que crêem somente no Evangelho; outros que crêem somente na Eleição; outros, tanto no Evangelho quanto na Eleição. Deus conhece o coração e a fé de cada um, porque a fé é Ele mesmo quem dá.
Precisamos atentar para o texto de Romanos 10:17 que diz que a fé vem pelo ouvir, e ouvir a Palavra de Deus. Alguns se contentam em ouvir a palavra de homens sobre a Palavra de Deus, sem muitas vezes examinar se as coisas são realmente assim. Mas, seguindo a exortação de Paulo, prefiro da minha parte "não desprezar as profecias", mas "examinar tudo e reter o que é bom". O que não for bom, prefiro esquecer. Os Bereianos não apenas ouviam o que estava sendo dito pelos apóstolos, mas diligenciavam no sentido de averiguar se o que estava sendo dito era a Verdade da Palavra de Deus.
Alguns podem agir diferentemente hoje, e na realidade não são poucos os que procedem displicente e levianamente quanto às Escrituras. Cada um faz como lhe apraz. Mas quero que Deus me revele a Verdade, que é Cristo e, mais que isso, que a cada dia revele Cristo em mim, pois para isso fui alcançado.
Não posso deixar de falar da eleição porque é bíblica. É assunto de fato antigo, mais antigo que a eternidade. Paulo diz: "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo. POIS NOS ELEGEU NELE ANTES DA FUNDAÇÃO DO MUNDO, PARA SERMOS SANTOS E IRREPREENSÍVEIS DIANTE DELE. EM AMOR NOS PREDESTINOU PARA SERMOS FILHOS DE ADOÇÃO POR JESUS CRISTO, PARA SI MESMO, SEGUNDO O BENEPLÁCITO DA SUA VONTADE" (Efésios 1:3 a 5 - destacamos). A Eleição está muito clara neste e em vários outros textos das Escrituras. Quem não aceitá-la estará rejeitando a própria Palavra de Deus. Nada obstante, só Deus pode descortiná-la aos olhos de quem quer que seja, e isso para mim, como diria meu saudoso pai, é "ponto pacífico".
De qualquer sorte, eleição e predestinação sempre estiveram na "pauta" da Trindade. Se quiserem evitar o assunto, ocorrerá o que em alguns lugares do mundo já estão fazendo com as cartas de Paulo: excluindo-as do Cânone por ele ser muito duro ao tratar da cruz. Teólogos chegam a afirmar que a doutrina de Paulo seria contrária aos ensinos de Cristo, isso no intuito de descartá-la e ignorar as duras verdades nela contidas Será que o mesmo ocorrerá com a doutrina da Eleição? Não duvido, já tem ocorrido na praxis religiosa, até porque Paulo foi quem mais descortinou essa doutrina em suas cartas. Só lamento que essa rejeição possa partir de filhos de Deus, que ao menos teoricamente foram atraídos  à mesma cruz. Já passei por muita dificuldade quanto a isso, mas sempre submisso à vontade de Deus, pois a Verdade não se empurra “goela abaixo”: Ela é revelada. E graças a Deus que tem revelado Sua Palavra a tantos de Seus filhos. Não apenas o Evangelho, mas a Palavra por inteiro, que é a Verdade, contra a qual nada podemos, pois Aquele que é a Verdade vive em nós.
Em suma, aqui se estuda e se aprende a Palavra. O nome do grupo é muito claro. Se algum escrito não fizer parte da Palavra, merece reparos... por quem quer que seja. Apolo, que era um mestre, teve que ouvir com mais exatidão de Priscila e Áquila acerca da salvação. Ele soube ouvir e certamente muito aprendeu, apesar de ter sido vocacionado para ensinar. Não ocorra que alguns tapem os ouvidos ou fechem os olhos para a Palavra. Se o sotaque e o conteúdo do que estiver sendo dito ou escrito for a Palavra, convém atentarmos e colocarmos tudo sob o exame, sob o crivo e critério da própria Palavra, não do que supostamente cremos ou do que os outros homens têm expressado, ainda que vocacionados para pregar. Se os Bereianos não tivessem o hábito de por à prova a pregação dos apóstolos, eles não teriam sido considerados mais nobres que os de Tessalônica. Talvez seja essa a razão pela qual não foram destinatários de nenhuma carta do apóstolo Paulo.
"Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor".
Grande abraço a todos.
No amor do Pai,
Em Cristo.

(Mensagem publicada no egroup "A Palavra" em junho de 2004)