GILSON
CARLOS DE S. SANTOS lançou luz sobre o tema nos seguintes termos:
"Não
há outra entrada para o céu, exceto a estreita passagem do novo nascimento; sem
santidade, ninguém jamais verá a Deus (Hb 12.14). Deus uniu a fé e o
arrependimento para serem as duas facetas de nossa resposta ao chamado do
salvador, deixando bem claro que vir a Cristo é abandonar o pecado e renegar a
impiedade. "Se falharmos em manter unidas estas coisas que Deus juntou,
nosso cristianismo será distorcido", segundo J. I. PACKER. A fé salvadora,
o arrependimento, o compromisso e a obediência são todas operações divinas,
realizadas pelo Espírito Santo no coração daquele que é salvo. Não há obras
humanas no ato da salvação. A salvação vem unicamente pela graça, mediante a fé
(Ef 2.8). Sola Gratia e Sola Fide são dois dos pilares da
Reforma. Entretanto, a verdadeira salvação não pode nem deixará de produzir as
obras de justiça na vida do verdadeiro crente. A obra de Deus na salvação
inclui uma mudança de intenção, vontade, desejos e atitudes que produz inevitavelmente
o fruto do Espírito.
Por que existem atualmente igrejas tão fracas? Por
que tantas conversões são anunciadas e tantos membros arrolados às igrejas, e
estas têm causado cada vez menos impacto sobre a sociedade? Por que não se pode
distinguir muitos crentes dos incrédulos? Não é porque muitos chamam de crentes
pessoas que na verdade não são regeneradas? Não será que muitos estão tomando
"forma de piedade", negando-lhe, entretanto, o poder" (2 Tm
3.5)?
Incrédulos fazem falsas profissões de fé em Cristo,
e aqueles que não são crentes verdadeiros podem iludir-se, pensando que estão
salvos. O diabo tem produzido muitas imitações de conversão, enganando as
pessoas, ora com isto, ora com aquilo. Ele possui tamanha habilidade e astúcia
que, se possível, enganaria os próprios eleitos.
A
Escritura Sagrada exige que a evangelização seja da parte de Deus, "por
meio dEle e para Ele" (Rm 11:36). É triste dizer, mas grande parte da
evangelização contemporânea é antropocêntrica - centralizada no homem. Com
excessiva freqüência, as luzes da ribalta focalizam o evangelista - sua
personalidade, eloqüência, a arte com que ele dispõe os argumentos, a história
de sua conversão, as dificuldades pelas quais passou, o número de pessoas que
se converteram pelo trabalho dele e, em alguns casos, os milagres que alguns
dizem que ele realizou. Às vezes, a atenção é posta nos que estão sendo
evangelizados. Ressalta-se o grande número deles, o triste estado em que se
encontram - exemplificado na pobreza, doença e imoralidade - sua suposta
ansiedade pelo evangelho da salvação e, pior de
tudo, fala-se do bem que existe neles e os capacita a exercitarem a fé
salvadora, por sua livre vontade, embora não regenerada. E quantas vezes o
bem-estar dos homens - bem-estar terreno ou eterno - é a única finalidade da
evangelização!
De
acordo com o Novo Testamento, a evangelização consiste apenas na pregação do
evangelho, as boas novas. É uma obra de comunicação na qual os crentes se
tornam porta-vozes da mensagem sobre a misericórdia de Deus para os pecadores.
Todos quantos anunciam fielmente essa mensagem, sob quaisquer circunstâncias,
tanto em numerosa quanto em pequena reunião, em um púlpito ou em conversa
particular, estão evangelizando.
"Ao
Senhor pertence a salvação" (Jn 2.9). Qualquer
meio que utilizemos para forçar nascimentos espirituais será tão eficaz quanto
Ezequiel tentando costurar os ossos secos ou Nicodemos procurando dar a si
próprio um novo nascimento. E o resultado será semelhante. Se o número de
membros de nossa igreja é notavelmente maior do que o número de presentes aos
cultos, o que se entende por conversão? Que
tipo de evangelismo tem sido praticado que resulta em tão grande número de
pessoas com baixíssimo nível de envolvimento na vida da igreja e sem qualquer
distinção dos incrédulos?" (Revista "Fé para Hoje", ed.
Fiel, nº. 2, 1999, pp. 9, 10, 12 e 14 - os grifos não constam do original).
Do
nosso conceito de salvação depende, sem dúvida, a nossa concepção de igreja.
Muitos estão preocupados em projetos para a igreja que promovam o seu
crescimento ou seu aperfeiçoamento, mas, no dizer de IAN MURRAY, o
crescimento da igreja, em quantidade ou qualidade, "não deve ser
discutido, enquanto não houver primeiramente um entendimento daquilo que a
igreja é e de como alguém se torna um de seus membros. Quando essas verdades
fundamentais não ocupam a prioridade, os conceitos sobre crescimento de igreja
seguem na direção errada". E, questiona: "O que é um crente e como
alguém se torna um verdadeiro crente? Eis a resposta do Novo Testamento: um
crente é alguém que chegou a experimentar o infinito poder do Senhor Jesus
Cristo, perdoando-o e concedendo-lhe uma nova vida. O que está impedindo as
pessoas de chegarem a tal conhecimento? O terrível poder da depravação humana.
Algo muito diferente de apenas interessar as pessoas a comprarem barras de
sabão está envolvido neste assunto. Homens e mulheres são escravos espontâneos
dos poderes demoníacos; amam as trevas, e não a luz. Quando falamos sobre
crescimento de igreja, não estamos discorrendo primariamente a respeito da vida
humana e dos interesses por coisas naturais. Estamos confrontando um adversário
sobrenatural; por conseguinte, precisamos ter poder sobrenatural. A conversão
significa ser trazido "das trevas para a luz e da potestade de satanás
para Deus (At 26.18).
Podemos organizar muitas coisas, mas não podemos organizar o crescimento espiritual verdadeiro. Conforme disse Samuel Lamb, o pastor chinês, a um jovem crente, nosso dever é testemunhar 'enquanto o Espírito nos guia. Ele não é uma arma em nossas mãos. Nós somos instrumentos nas mãos dEle'. E ele conclui citando John Nevius: 'Se, em alguma forma, estamos nutrindo um sentimento de confiança em nós mesmos, Deus provavelmente nos humilhará, antes de nos usar. Devemos sentir que, se alguma coisa for realizada para Cristo, isso acontecerá por meio da presença e do poder do Santo Espírito de Deus, e estejamos prontos para atribuir a Deus toda a glória'" ("A Igreja: Crescimento e
Sucesso", Revista "Fé para Hoje", ed. Fiel, nº. 6, 2000, p. 17 e 28).
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CONTINUA...