Estamos
nos referindo a Deus como um ser trinitário, que é a perfeita comunhão de três
pessoas em uma só. Há, de certa maneira, uma identidade do ser humano formado
no Gênesis com a Divindade, porquanto embora não fosse ele "três em
um" era um ser dotado de três partes distintas, coexistentes e
interdependentes: espírito, alma e corpo. O espírito e a alma constituem a
parte imaterial, e o corpo, a parte material. O corpo comunica-se com o meio
externo, visível e material. Ele mantém contato com o mundo criado através dos
sentidos: visão, audição, olfato, tato e paladar. O que processa as sensações dos
sentidos é a alma, ou a mente humana. Ela é a sede da inteligência, dos
pensamentos, dos sentimentos, das sensações, dos desejos, da vontade. O
espírito é a parte de comunicação com o Divino, com a realidade espiritual, com
o invisível, com o que os órgãos e sentidos naturais não podem perceber.
Com
efeito, assim registram as Escrituras: "Formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou-lhes nas narinas
o fôlego da vida, e o homem tornou-se alma vivente" (Gênesis 2:7). A
expressão "fôlego da vida" no original traz a idéia de "fôlego
de vidas", pela infusão em um só ato tanto da vida espiritual quanto da
vida almática. PEMBER explica:
"O espírito do homem não tinha nada a ver com a sua forma física.
Primeiro, Deus modelou a estrutura inerte e, depois, soprou nela o "fôlego
de vidas", pois o original da última palavra está no plural. (...)
Desejamos dar importância ao número, pois é possível que ele se refira ao fato
de que a inspiração de Deus produziu uma vida bipartida (sensitiva e espiritual),
a existência distinta de cada parte do que podemos, com freqüência, detectar
dentro de nós mesmos pelo seu antagonismo" (p. 120). ANDREW MURRAY, por
sua vez, assevera: "O espírito, vivificando seu corpo, fez do homem uma
alma vivente, uma pessoa consciente de si mesma. A alma era o ponto de
encontro, o lugar de união entre o corpo e o espírito. Através do corpo, o
homem (alma vivente) mantinha seu relacionamento com o mundo exterior dos
sentidos e podia influenciá-lo, ou ser influenciado por ele. Através do espírito
ele mantinha relacionamento com o mundo espiritual e com o Espírito de Deus, de
onde tinha sua origem e podia ser recipiente e ministro de sua vida e poder.
Permanecendo, portanto, a meio caminho entre dois mundos, e pertencendo a
ambos, a alma tinha o poder de autodeterminação, de escolher ou recusar os
objetos que a rodeavam e com os quais mantinha relacionamento" (citado por
W.N., p. 9).
O
que faz um ser assim constituído comparável à imagem do seu Criador? Como
dissemos antes, em primeira análise, a própria constituição tripartida. Apesar
de ser animal, o homem recebeu o sopro Divino e se tornou alma vivente. Era
possível, pois, ter consciência do mundo exterior (através do corpo), de si
mesmo (através da alma), e também de Deus (através do espírito), podendo
guiar-se pelos três. Um segundo ponto
digno de destaque é que o corpo do homem era revestido pelo seu espírito.
Havia, portanto, uma semelhança (embora apenas figurativa) de imagem exterior.
O homem não era espírito. O que o caracterizava predominantemente era a alma,
pois era o elemento que o distinguia dos animais e dos seres celestiais. Deus,
sendo Espírito, "cobre-se de luz como
de um vestido" (Salmos 104:2). De semelhante modo, o homem tinha um
corpo, uma alma dentro do corpo, e um espírito que irradiava luz e o cobria
exteriormente. Segundo PEMBER, o espírito que Deus soprara dentro do homem
guardava total poder e vigor antes do pecado: "Sua influência impregnável
os defendia completamente - corpo, alma e espírito - das invasões da corrupção
e morte, ao passo que, ao mesmo tempo, seu esplendor, brilhando pela forma
física, projetava uma auréola lustrosa ao redor de ambos (Adão e Eva) a fim de
que o elemento mais espesso do corpo fosse escondido dentro do véu de glória
radiante" (p. 152).
__________
CONTINUA...
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