A natureza da cruz é doação. Deus deu o
Seu Filho ao mundo para salvá-lo. O Filho deu-se à humanidade na forma de
servo. O servo deu-se à morte, e o pior tipo de morte possível: a morte de
cruz. Deus leva o Seu Filho a dar-se na cruz até à última gota de sangue,
quando, por fim, o Filho é levado a entregar o Seu espírito nas mãos do Pai,
consumando toda a obra por Ele pretendida. Que maravilhosa doação! Que natureza
admirável nos é revelada na pessoa de Jesus Cristo! Pelo princípio da cruz,
Deus entrega o Filho ao mundo, e o Filho entrega-se inteiramente ao Pai, a fim
de tornar-se fonte de doação: "Aquele
que nem mesmo a seu próprio filho poupou, antes o entregou por todos nós, como
não nos dará também com ele todas as coisas?" (Romanos 8:32).
Deus
dá o Filho, e o Filho se dá ao Pai em obediência de morte; isso para que
tivéssemos não apenas o Filho, mas com Ele todas as coisas. Através da cruz, e
por causa dela, nos tornamos filhos de Deus, co-herdeiros com Cristo do Reino
Celestial e de todas as coisas que a Ele pertencem: "O seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e à piedade,
pelo conhecimento daquele que nos chamou por sua glória e virtude. Desse modo
ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas vos
torneis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção que
pela concupiscência há no mundo" (II Pedro 1: 3 e 4). Vemos que, em Cristo, por causa de Sua morte
e ressurreição, somos chamados pela glória e virtude dEle a participar de Sua
natureza. Pelo Seu poder Divino nos são dadas todas as coisas concernentes à
vida e à piedade. É preciso alguma coisa, além disso? Pensamos que não. Nada
obstante, o Espírito nos revela algo mais, através do apóstolo Paulo, no
sentido de que toda sorte de bênçãos espirituais foram-nos dadas, desde que
Deus fez-nos assentar, em Cristo, nas regiões celestiais.
Deus
nos vê em Cristo quando nos atrai a Seu corpo, de maneira que onde Ele está nós
também somos vistos. Foi esse um dos pedidos formulados na chamada oração
sacerdotal de Cristo: "Pai, quero
que onde eu estiver, estejam também comigo aqueles que me deste, para que vejam
a minha glória, a glória que me deste, porque me amaste antes da criação do
mundo" (João 17:24). O amor de Deus pelo Filho, antes da criação do
mundo, é o amor que levou esse mesmo Filho à cruz, também antes que o mundo
fosse criado. Trata-se do amor ágape, cuja essência é dar-se, e a doação não
exige nada daquele que a recebe. Poderá haver maior expressão desse amor do que
a doação do Filho Unigênito, um Cordeiro santo e imaculado, para morrer na cruz
por pecadores sujos e indignos? Se possível fora, Deus não teria escolhido um
meio tão cruel: "Por isso o Pai me
ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém a tira de mim, mas
eu espontaneamente a dou. Eu tenho autoridade para dá-la, e autoridade para
tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai" (João 10: 17 e
18); "Ninguém tem maior amor do que
este, de dar alguém a própria vida pelos seus amigos" (João 15:13). Um
dos maiores mistérios de Deus está exatamente aí. A cruz é algo terrível, mas
que ao mesmo tempo revela o amor de Deus, a natureza doadora tanto do Pai, em
enviar o Filho para morrer, quanto do Filho, em dar-Se por seus amigos, em
obediência aos desígnios do Pai. Aqueles a quem Deus chama em Cristo,
atraindo-os à Sua cruz, já podem ser considerados amigos de Cristo, não apenas
servos. A estes, Deus dá o Filho, a Vida, a Palavra, o Espírito com Seu fruto e
dons, o conhecimento da glória do Pai pela comunhão com o próprio Filho, enfim,
toda sorte de bênçãos espirituais que emanam das regiões celestiais onde Cristo
está assentado, depois de ter sido entregue por nós.
O
resultado dessa doação é esse: que assim como Deus nos amou em Cristo, nós
devemos amar aos nossos irmãos; assim como Deus nos perdoou em Cristo, nós
devemos perdoar aos nossos irmãos; assim como Cristo se deu por nós, nós
devemos dar a nossa vida por nossos irmãos: "Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós. E devemos
dar a nossa vida pelos irmãos" (I João 3:16).
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