A natureza da cruz é humildade. Cristo
se deu, a ponto de assumir nossa humanidade; serviu, a ponto de lavar os pés
dos discípulos; e humilhou-se, a ponto de se deixar levar à cruz, como uma
ovelha é levada ao matadouro. Ele ofereceu a outra face, caminhou a segunda
milha, e entregou não apenas a túnica, mas também a capa. Ninguém jamais
demonstrou tamanha humildade. Sobre Ele caíram as injúrias dos que a Deus
injuriavam. Nada obstante, "Ele não
cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano. Quando foi injuriado, não
injuriava, e quando padecia não ameaçava. Antes, entregava-se àquele que julga
justamente. Ele mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro,
para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; pelas suas
feridas fostes sarados" (I Pedro 2: 23 e 24).
Cristo
humilhou-se até à morte, e morte de cruz. Se a cruz já era o instrumento mais cruel
e humilhante de morte, o que dizer da morte na cruz de um justo, que nenhum
pecado cometera, que nenhum crime praticara? Maior humilhação, porém, ainda
sofreu, quando, ao levar sobre Si os nossos pecados, assumiu toda a imundícia
da humanidade em Seu corpo, tornando-Se naquele momento maldição em nosso
lugar, de maneira que experimentou aquela que foi para Ele a pior das dores, a
saber, a dor da separação do Pai: "Deus
meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Marcos 15:34-b). Naquele
crucial instante, o nosso pecado, que foi atraído ao Seu corpo, fez a separação
entre o Filho e o Pai, porque é exatamente o nosso pecado que nos separa de
Deus. Aquele que não conheceu pecado, como está escrito, Deus o fez pecado por
nós, "para que nele fôssemos feitos
justiça de Deus" (II Coríntios 5:21). Sem dúvida, nenhuma atitude poderia
ser mais humilhante, nem paradoxalmente mais nobre, do que aquela de entregar-Se à
morte por nós, e atrair a nossa natureza pecaminosa a Si mesmo. Jesus Cristo de
fato o fez, sabendo que perante os homens sofria uma injustiça, mas perante
Deus estava sendo derramado como oferta pelo pecado e sacrifício de justiça e
de justificação. Por isso, embora sendo Ele próprio a Verdade, não proferiu
juízo de verdade sobre os seus ofensores: "Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas
dores levou sobre si; contudo nós o consideramos como aflito, ferido de Deus, e
oprimido. Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas
iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um
se desviava pelo seu caminho; e o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós
todos. Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a sua boca; como cordeiro
foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele
não abriu a sua boca" (Isaías 53: 4 a 7).
Vemos
aí, portanto, o que implica a operação da cruz. Ela leva não apenas à doação e
ao serviço, mas também à humilhação. Nada pode ser mais degradante do que a
cruz. Quando achamos que doação e serviço são tudo, a cruz nos leva além: a
ficarmos calados, quando somos injuriados; a não dizer a verdade, quando
rodeados de mentiras e de mentirosos, e a proferi-la no momento adequado; a não
revidar, quando atacados; a não nos vingarmos, mas a nos entregarmos Àquele a
quem pertence a vingança; a não deixar o sol se pôr sobre a nossa ira; a
irar-nos sem cometer pecado; a ficarmos quietos, quando nossa vontade nos
impele a tomar uma atitude. Na vida cristã, há momentos em que Deus nos impede
de falar e de agir, e nos leva ao silêncio e à quietude. Só assim podemos
compreender e experimentar a natureza humilde da cruz.
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CONTINUA...
Não há mais clareza da Graça misericordiosa do Abba para com os eleitos que esta: dar o seu Filho Unigênito pelos pecados de muitos. A humilhação do Santo em troca do nosso escrito de dívida. Só Deus mesmo para ter tamanho amor.
ResponderExcluirExcelente artigo Davi.
Obrigado, Santos! Concordo com você... Graça maravilhosa aos amados eleitos em Cristo. Abraços!
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