"Então
disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança"
(Gênesis 1:26).
A
idéia de que o homem é a imagem e semelhança de Deus ainda está em vigor,
infelizmente. Trata-se de um caso de “inconsciente coletivo teológico”,
daqueles que dificilmente podem ser desarraigados da mente dos que dizem
conhecer as Escrituras, ainda que tal conhecimento seja apenas de ouvir
falar. É comum e freqüente o ensino de
que o homem foi formado e permanece até hoje à imagem e semelhança do Criador,
isso para não entrarmos na questão propalada pelos gnósticos que afirmam
existir um "deus interior" em cada representante da raça humana, o
que tem apenas um tênue fundo de verdade, porquanto ao querer ser igual a Deus,
e pecar, o homem tornou-se um deus de si mesmo. O conhecimento do bem e do mal,
os conceitos de justiça, amor, bondade, ética, moral, e outros valores
transcendentais, dão-nos a falsa noção de que há algo de bom no ser humano.
O
erro desse ensino teológico parte da omissão ou do desprezo aos efeitos da queda. Adão, conforme dizem,
não é o cabeça de uma raça caída, mas apenas um mal exemplo, que fez uma
escolha indevida. Nada obstante, cabe àquele que quer aproximar-se de Deus
seguir o exemplo de Cristo ao invés de seguir o exemplo de Adão. Cabe ao homem,
mesmo na condição de pecador, escolher o caminho do bem e aborrecer o do mal,
sendo a graça de Deus mera coadjuvante nesse processo, muitas vezes até
considerada prescindível.
Há,
no "Livro do Começo" dois registros no sentido de que Adão foi feito
à imagem de Deus, e não à Sua semelhança (Gênesis 1:27 e Gênesis 9:6). Em Tiago
3:9 encontramos, por outro lado, a expressão "feitos à semelhança de Deus", como também em Gênesis 5:1:
"No dia em que Deus criou o homem, à
semelhança de Deus o fez". Afinal, o primeiro Adão, isto é, o primeiro
representante da raça humana, teria sido feito à imagem ou à semelhança de
Deus? Por que ora se diz que o homem foi feito à imagem, ora se diz que foi
feito à semelhança do Criador?
Primeiramente,
diriam alguns teólogos que "à imagem" e "à semelhança" são
expressões correlatas que exprimem a mesma realidade. Outros há que ousam
afirmar ser a semelhança uma característica da imagem. Há semelhança, para
estes últimos, quando há correlação de imagem. Assim, Adão seria semelhante a
Deus, porque feito à Sua imagem. Essas considerações são relevantes quando nos
dispomos a analisar a primeira ordem dada pela Trindade a Ela mesma. Quando o
Deus Trino resolveu restaurar o Universo, conforme o livro de Gênesis, deu
ordens para que tudo viesse a existir, como de fato veio. É característica do
Todo-Poderoso chamar à existência o que não era como se já fosse, o que decorre
do poder de Sua Palavra. Todavia, a ordem do "Façamos o homem" não foi dirigida ao Universo, ou à criação
ainda não manifestada, para que o homem viesse a existir. Deus não disse ao pó
para transformar-se em homem, nem ao homem para tornar-se alma vivente. Deus disse a Si mesmo: "Façamos o homem". Aí, o verbo no
plural indica que as pessoas da Trindade estavam envolvidas nesse conselho da
vontade Divina. A ordem não se cumpriu de imediato, pelo poder de Sua Palavra,
como aconteceu com as demais coisas criadas. A rigor, Deus não criou o homem.
Ele "arregaçou as mangas", formou o molde do ser humano do barro (pó
regado de orvalho), colocou-o em pé, e soprou-lhe nas narinas o fôlego das
vidas. A questão é: ao fazê-lo, teria Deus dado cumprimento cabal à sua ordem?
O "terra vermelha" (Adamah,
no original em hebraico), da maneira como foi formado originalmente, seria a expressão da
satisfação do desejo do Criador? Aquela feitura do Gênesis satisfez os
desígnios eternos da Trindade em relação ao homem? Cremos que não.
__________
CONTINUA...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Para comentar, questionar, criticar, sinta-se à vontade!