A natureza da cruz é obediência. A
humildade de Cristo culminou em obediência mortal. Com efeito, Sua obediência o
levou às últimas conseqüências: agonia e morte de cruz. A verdadeira humildade
produz verdadeira obediência, e esta, mais humildade. Ninguém pode declarar
obedecer legitimamente a Deus em atitude de vanglória, porque a legítima
obediência a Deus expõe a natureza da cruz e as marcas de Cristo, produzindo
exaltação e glórias a Deus em detrimento de qualquer sentimento de glória
pessoal. Na realidade, quem se gloria de ser obediente é como aquele que se
orgulha de ser modesto.
Se
o Filho de Deus, enquanto homem, aprendeu a obedecer por meio daquilo que
sofreu, quanto mais temos nós a aprender, porque nascemos em pecado. Todo
pecador é, por natureza, filho da desobediência, porque o pecado é, dentre
outras coisas, desobediência. Esse é o seu princípio, que agiu em Adão, nosso
pai segundo a carne. Adão pecou por desobediência - não porque fora iludido -
passando a ser, desde então, escravo da desobediência, condição que transmitiu
a todos os seus descendentes. Somos, por nascimento natural, filhos da
desobediência, porque descendentes de Adão - o desobediente. E somos também
escravos da desobediência, porque tal passou a ser a característica de nosso
ancestral mais remoto, que é ao mesmo tempo cabeça de uma raça escravizada pelo
pecado.
Sem
a obediência do Filho de Deus não haveria morte, sepultamento e ressurreição;
conseqüentemente, não haveria nova geração. Contudo, desde
que o projeto de Deus de fazer novas todas as coisas em Cristo - a começar pela
descendência de Adão - foi levado a efeito e consumado na Sua vicária cruz, há esperança
para o pecador alcançar a salvação; para o iníquo tornar-se justo; para o
impuro tornar-se santo; para o incrédulo tornar-se crente; para o filho e
escravo da desobediência tornar-se filho da obediência e servo da justiça.
Efetivamente, Cristo fez morrer e sepultar em seu corpo o pecado, o velho
homem, o espírito característico de Adão, cuja natureza iníqua, incrédula e
desobediente nos mantinha afastados da comunhão do Pai, do Filho e do Espírito
Santo. O novo homem, gerado na Sua ressurreição, é criado pelo poder do
Espírito Santo em justiça e santidade provenientes da Verdade. Esse ser, gerado
em nós pela Palavra viva de Deus, vai transformando todo o nosso ser interior segundo
a imagem dAquele que o gerou, isto é, à imagem de Cristo: "E todos nós, que com a face descoberta
contemplamos a glória do Senhor, segundo a sua imagem estamos sendo
transformados com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o Espírito"
(II Coríntios 3:18 - NVI); “Não mintais
uns aos outros, pois já vos despistes do velho homem com seus feitos, e vos
vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele
que o criou” (Colossenses 3: 9 e 10).
Tudo
o que diz respeito à raça adâmica foi destruído na cruz de Cristo, por isso Ele
é considerado "o último Adão". Adão foi feito alma vivente. Ele era
predominantemente alma, a qual recebia alguma influência do Espírito de Deus
através do espírito. Em estado de inocência, Adão poderia optar por obedecer ou
não a Deus, por isso pôde desobedecer-Lhe. Todavia, após o pecado original, seu
espírito ficou morto, separado de Deus, destituído de Sua glória, poder e
comunhão, incapaz de buscá-lO e de obedecer-Lhe. Esse espírito - sede, invólucro, corpo do
pecado - foi atraído e destruído na cruz no corpo de Cristo, e sepultado juntamente com
Ele. Na Sua ressurreição, Deus gera um espírito novo, unido ao Espírito de
Cristo, o qual é implantado naqueles que têm recebido a graça de nascer do Alto - não da carne, mas do Espírito - de maneira a transformá-los à imagem de Cristo,
que é Espírito vivificante. Através do profeta Ezequiel Deus já anunciara essa
grandiosa obra: "Então espargirei
água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de
todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei um coração novo, e porei
dentro em vós um espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra, e vos darei
um coração de carne. Porei dentro em vós o meu Espírito, e farei que andeis nos
meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis" (Ezequiel
36: 25 a 27). Há uma mudança radical
profetizada muitos anos antes de ser a obra consumada na cruz: de Adão
para Cristo; da morte para a Vida; do pecado para a justiça; da ignorância para o entendimento; da rebeldia para a obediência.
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CONTINUA...
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