"Ora, àquele que faz qualquer
obra não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida. Não
obstante, aquele que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua
fé lhe é imputada como justiça. Assim também Davi declara bem-aventurado o
homem a quem Deus imputa a justiça sem as obras, dizendo: Bem-aventurados
aqueles cujas maldades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos.
Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa pecado" – Romanos 4: 4 a 8
A
graça está para Deus assim como a religião está para o homem. Religião é todo
esforço humano no sentido de alcançar Deus. Graça é tudo o que Deus faz no
sentido de alcançar o homem. Nessa relação, as obras dão um tempero especial,
pois são prescindíveis à graça, mas indispensáveis à religião. Na religião, as
obras são a causa; sob o enfoque da graça, a conseqüência. O maior paradoxo de
tudo isso: na religião as obras são vistas como um meio de alcançar a graça.
Todavia, como dizia Paulo, "se é pela graça, já não é pelas obras; de
outra maneira, a graça já não é mais graça”.
Do
que estamos falando exatamente? Da justificação. . Ora,
sabemos que todos nascemos pecadores e que não há nenhum justo por natureza.
Assim, só há um meio de alcançarmos a justificação dos nossos pecados, e é pela
graça, manifestada a nós pela fé (que vem pelo ouvir; e o ouvir a Palavra de
Deus). Não é pelas obras, para que ninguém se glorie.
Portanto,
devemos tomar muito cuidado com as obras, pois por meio delas ninguém será
justificado. É conveniente examinarmos se estamos
trabalhando em razão da graça, ou em obediência aos religiosos e às ordenanças
religiosas que nos cercam. Como, porém, distinguir as obras da graça das obras
da religião? Tentaremos mostrar algumas diferenças com exemplos práticos.
A
primeira obra da religião de que se tem notícia na história foi realizada por
Adão e Eva no jardim do Éden: “Então foram abertos os olhos de ambos, e
conheceram que estavam nus; coseram, pois, folhas de figueira, e cingiram-se”. Interessante é que a noção de nudez por parte do homem
teve como causa o pecado, fruto da incredulidade: “Quem te mostrou que
estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?” .
Deus fez a pergunta para Adão porque a este fora ordenado que não comesse da
árvore do conhecimento do bem e do mal. Adão não foi
enganado pela serpente; pecou voluntariamente, porque não
creu na Palavra de Deus.
Adão
e Eva quiseram resolver o problema da sua nudez cosendo folhas de figueira para
cobrirem suas partes íntimas. O problema deles, entretanto, não era a nudez em
si, mas o que os tinha levado a conhecer que estavam nus, a saber, o pecado.
Sua consciência já não era mais livre e ingênua, mas caída e escravizada. A
solução encontrada por Adão e Eva para esconder o pecado era inócua; o pecado
já havia sido inoculado em suas mentes e corações. Assim, a tentativa deles é o
retrato da religião, que não consegue livrar ninguém do pecado.
Sem
embargo, Deus forneceu gratuitamente a solução para Adão e Eva, fazendo
vestimentas de peles para ambos e os vestindo. Foi a
primeira manifestação da graça e o primeiro sinal da solução que Deus daria
para o problema do pecado do homem, através do sacrifício de Seu Filho, o “Cordeiro
de Deus que tira o pecado do mundo”.
Outro
exemplo de obra da religião encontramos em Caim, que
pretendeu fosse aceita por Deus a sua oferta, fruto de seu esforço pessoal e de
sua vaidade. A oferta de Abel, por sua vez, apontava para Cristo, pois
sacrificou dos primogênitos de suas ovelhas, por isso tal oferta foi aceita por
Deus. Ora, Abel foi justificado pela oferta de fé, que dava testemunho da graça
de Deus. A graça é Deus dando e fazendo tudo por quem nada
merece, nem tem condições de merecer, e nenhuma oferta, nenhum sacrifício,
nenhuma obra, ainda que sob pretexto de cumprimento da lei ou da vontade de
Deus, poderá substituí-la ou suplantá-la. A graça é um princípio divino que
rege o Universo, mas quanto ao ser humano perdido, seu escopo é a justificação
e a salvação deste. Nesse processo é possível identificar a eleição, o
sacrifício do Cordeiro, a vivificação pelo Espírito, o arrependimento e a fé.
Tudo isso é dom de Deus. Quando somos envolvidos nesse processo e alcançados
pela graça, entramos no descanso e deixamos de correr atrás das obras, até
porque descobrimos que elas não podem produzir a justificação. As obras (as
verdadeiramente boas) passam a ser conseqüência da graça, porque foi o próprio
Deus quem as preparou, de antemão, para que andássemos nelas.
Logo, não é o agraciado que vai atrás das obras; estas é que o acompanham: “Bem-aventurados
os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, descansarão
dos seus trabalhos, pois as suas obras os acompanharão”.
Que maravilhosa verdade!
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CONTINUA...
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