A graça é
suficiente
Paulo
experimentou um "espinho na carne" descrito como um mensageiro de
satanás que o atormentava. Ele pediu, então, a Deus que o retirasse, mas como
resposta lhe foi dito: "Minha graça é suficiente para você, pois o meu
poder se aperfeiçoa na fraqueza" (II Coríntios 12: 7 a 9). Disso
extrai-se a importante lição de que jamais experimentaremos o poder de Deus em
nossas vidas enquanto estivermos nos considerando fortes e aptos para realizar
alguma coisa por nós mesmos. Jesus disse (e o que Ele disse deve ser tido como
verdade insofismável, do contrário é melhor retirarmos o "crachá de
cristãos") que sem Ele nada poderíamos fazer. Paulo, por sua vez, dizia
que o evangelho de Cristo é "o poder de Deus para a salvação de todo
aquele que crê" (o verbo "crer" está no presente do
indicativo, não no infinitivo). Por quê? "Porque no evangelho é
revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como
está escrito: "O justo viverá pela fé"" (Romanos 1: 16 e
17).
É
possível concluir que no evangelho há poder? Não! O próprio evangelho é o poder
de Deus para a salvação de quem crê. O poder de Deus inclui a fé. O evangelho
pode nos levar à fé. O evangelho de Cristo pode fazer isso. O evangelho diluído
da "graça parcial", não.
Muitos
pretendem realizar a obra de Deus sem saber que esta obra é levar-nos a crer
nAquele que Ele enviou (João 6:29). Cabe a Deus, portanto, fazer o homem crer;
é ofício dEle, e é o que Ele efetivamente faz por intermédio de Seu Espírito
Santo. Por que ele faz isso? Porque Sua graça é plena, é poderosa e suficiente
para nos dar a vida de Cristo e manter-nos unidos a Seu Filho, pelo poder de
Sua ressurreição. Muitos erram porque, a exemplo dos saduceus, não conhecem as
Escrituras nem o poder de Deus (Mateus 22:29). Precisam chegar ao ponto em que
chegou Paulo, quando afirmou: "Quero conhecer Cristo, o poder da sua
ressurreição e a participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua
morte para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos" (Filipenses
3: 10 e 11)
Responsabilidade e
Incapacidade
Alguém
poderá dizer: "Mas para ser salvo o homem precisa crer!". Eu direi
que sim, mas reafirmo que ele é incapaz de fazê-lo. "Então por que Deus
nos exige fé?". Justamente para que cheguemos à posição do publicano e
clamemos: "Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador!"
(Lucas 18:13).
Note-se
que, tendo chegado a este ponto de humilhação o publicano alcançou
justificação. Ele foi para casa "justificado diante de Deus"
(Lucas 18:14-a). Ora, a justiça de Deus, do princípio ao fim, é pela fé. Foi
assim com Abraão; continua sendo assim nos nossos dias. A parábola do fariseu e
do publicano, contada por Jesus, nos mostra claramente que para alcançarmos a
fé teremos de chegar a um ponto de humilhação tal que nos permita reconhecer
nossa total incapacidade para justificar-nos, para salvar-nos e,
principalmente, para crer. Esse reconhecimento, todavia, não foi alcançado pelo
fariseu na parábola, como não é alcançado pelos fariseus modernos.
Conforta-nos, todavia, a lição dada por Jesus: "Quem se exalta será
humilhado, e quem se humilha será exaltado" (Lucas 18:14-b).
Consideremos
a questão sob o enfoque da lei e da incapacidade para cumpri-la. Paulo foi
bastante claro e enfático em ensinar que a lei, embora boa, justa e perfeita,
só pode gerar o pleno conhecimento do pecado: "Sabemos que tudo o que a
Lei diz, o diz àqueles que estão debaixo dela, para que toda a boca se cale e
todo mundo esteja sob o juízo de Deus. Portanto, ninguém será declarado justo
diante dele baseando-se na obediência à Lei, pois é mediante a Lei que nos
tornamos plenamente conscientes do pecado" (Romanos 3: 19 e 20).
A
conclusão seria assustadora, se a justiça não viesse por meio da fé: "Mas
agora se manifestou uma justiça que provém de Deus, independentemente da Lei,
da qual testemunham a Lei e os Profetas, justiça de Deus mediante a fé em Jesus
Cristo para todos os que crêem. Não há distinção, pois todos pecaram e estão
destituídos da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente por sua graça,
por meio da redenção que há em Cristo Jesus" (Romanos 3: 21 a 23).
Em
suma: somos justificados pela fé, mas somos incapazes de crer. Nisso se
manifesta a graça de Deus, que por meio da redenção em Seu Filho nos
justifica gratuitamente, isto é, nos habilita gratuitamente a crer, a viver
pela fé que está em Cristo mesmo.
A
exigência da fé em um evangelho que é loucura para os homens deve levá-los a
descobrir a sua total incapacidade de compreender e crer nas coisas
espirituais. O conhecimento dessa incapacidade tem por escopo levar-nos ao
ponto de humilhação, sujeição e dependência completa da graça de Deus.
Nunca é demais lembrar as palavras de Paulo: "Minha mensagem
e minha pregação não consistiram de palavras persuasivas de sabedoria, mas
consistiram de demonstração do poder do Espírito, para que a fé que vocês têm
não se baseasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus".
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CONTINUA...
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