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quinta-feira, 16 de junho de 2011

DEVER, PODER E QUERER - Parte 4

            A Palavra de Deus revela que Ele não é homem, para que minta, nem filho de homem, para que se arrependa. Ao afirmarmos que toda norma traz subjacente o axioma do dever-ser, isso inclui a ordem divina que fez lei entre a trindade. Deus não desistiu de fazer o homem à Sua imagem e semelhança. O poder legislativo divino não produz normas ab-rogatórias nem derrogatórias. O que Deus diz se cumpre, e Ele não revoga Seus decretos. Não que não tenha poder para isso, mas porque Ele é o Deus da Palavra, que vela por sua Palavra para a cumprir (Jeremias 1:12). Cristo não veio revogar a Lei divina, mas cumpri-la (Mateus 5:17). Essa lei tem sentido amplo, abrangendo tudo o que Deus dissera no Gênesis, nas leis, e pelos profetas. Tudo aponta para Cristo mesmo, pois afinal foi do agrado de Deus-Pai fazer convergir todas as coisas para o Deus-Filho, conforme lemos em Efésios 1:10 e Colossenses 1: 15 a 23.
            Quando o apóstolo Paulo afirmou que o fim da Lei é Cristo quis dar a entender que em Cristo nos tornamos cumpridores da Lei. A Lei isoladamente nada mais é do que um instrumento de revelação da pecaminosidade humana. Todos os imperativos da lei só podem ser cumpridos em Cristo. O homem, diante das exigências inatingíveis da lei, e ciente de seu estado pecaminoso, só poderá concluir como Paulo: “miserável homem que sou”. Quer dizer que a lei santa, justa e boa tornou-se morte para mim? O apóstolo explica que não, pois “para que o pecado se mostrasse como pecado, ele produziu morte em mim por meio do que era bom, de modo que por meio do mandamento ele se mostrasse extremamente pecaminoso” (Romanos 7: 12 e 13). Há que se considerar, ainda, que a lei divina exige, ou declara, a morte da alma que pecar (Ezequiel 18: 4 e 20). Irrevogável que era, como de resto todas as leis divinas, tal lei foi cumprida em Cristo, que ao morrer fez o pecador morrer juntamente com Ele, satisfazendo cabalmente todas as exigências legais, removendo o escrito de dívida que pesava contra nós, cravando-o no madeiro. A justiça de Deus foi satisfeita na cruz. Se era morte a sentença que pesava contra mim, morto fui em Cristo e justificado estou. Bem por isso a afirmação de Paulo: “quem morreu, foi justificado do pecado” (Romanos 6:7). O Apóstolo Pedro, por sua vez, revela: “Portanto, uma vez que Cristo sofreu corporalmente, armem-se também do mesmo pensamento, pois aquele que sofreu em seu corpo rompeu com o pecado” (I Pedro 4:1). O apóstolo apela para o arrependimento, para a mudança de mente ou de pensamento do pecador. Ele alerta para o fato de que nossa natureza pecaminosa foi destruída na morte de Cristo, que rompeu com o pecado, para que no tempo que nos resta, “não vivamos para satisfazer os maus desejos humanos, mas sim para fazer a vontade de Deus” (I Pedro 4:2).
            É certo que enquanto vivermos entre os homens, estaremos sujeitos às leis dos homens ("dai a César o que é de César"). Contudo, ainda que incorramos em transgressão de alguma lei terrena, ou mesmo de uma lei divina, temos a certeza de que “nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8:1). Aqui não há antinomia, ou conflito aparente de normas, mas sim graça, e não podemos perder de vista que jamais alguém poderá justificar-se perante Deus pelo cumprimento da Lei (qualquer que seja), mas por graça do próprio Deus revelada na pessoa e na obra de Cristo. A graça é que nos mantém longe do erro. Por conta própria, não poderemos fazer o bem que queremos, mas sim o mal que não queremos. A graça não nos deixa viver em licenciosidade ou na libertinagem. Antes, é ela que produz em nós uma vida de ampla liberdade nos limites do amor. Ainda que erremos, continuamos sendo conduzidos pela amorosa graça no caminho apertado da salvação, que é Cristo, o qual está assentado à direita de Deus, não como nosso Juiz, mas como nosso advogado.
            O dever-ser antes da queda de Adão era vida, submissão, obediência e dependência. Nada mudou. O dever-ser é o mesmo, mas encerra características que só podemos obter em Cristo. Para obter Cristo, preciso perder a vida do “eu”. É mister morte, arrependimento (mudança de mente) e fé. Tudo isso não é conquistado pelo homem, mas é doado por Deus. Deus nos exige o que não podemos obter, para que nos seja dado por graça, e passemos a entender que esta é manifestação de Sua natureza. 
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CONTINUA...

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