Total de visualizações de página

quarta-feira, 15 de junho de 2011

DEVER, PODER E QUERER - Parte 3


            O dever-ser do homem é Cristo. Não se trata de uma imposição, mas de uma decisão da trindade, a qual certamente não alcança todos os homens, do contrário todos teriam de ser regenerados em Cristo. Se é certo que em Adão todos são gerados pecadores, em Cristo muitos são feitos justos (Romanos 5: 12 e segs.). Adão não se submeteu ao dever-ser divino. Antes, quis ser como Deus, conhecedor do bem e do mal. Isso efetivamente conseguiu, mas passou a conhecer e discernir o bem e o mal segundo sua própria ótica de homem caído, não segundo a ótica divina. Vale dizer, querendo ser como Deus, o homem se tornou um deus de si mesmo. Ele não admite a autoridade do bem nem do mal em sua vida. Antes, imagina-se um ser independente e poderoso, acima das forças do bem e do mal, acima de qualquer ser que lhe exija submissão. Alguém já disse que o homem é um ser iludido consigo mesmo. Sua natureza pecaminosa e pecatriz, que não apenas produz o pecado, mas que transmite o pecado aos descendentes, caracteriza-se pelo que DAVID KUYKENDALL identificou como a atitude de “sabe-tudo”. “O problema fundamental da pecaminosidade humana”, diz ele, “vem a ser um problema racional. A pecaminosidade implica uma maneira de pensar-se. E essa maneira de pensar-se consiste em atitude de presunçosa onisciência assumida pelo ser humano em qualquer instante quando lhe ocorra a responsabilidade de decidir-se em face de Deus. Talvez se possa dizer que o problema do pecado jaz no subconsciente. Mas a verdade é que todas as pessoas neste mundo admitem encontrar-se em condições de discernir entre o que seja bom e o que seja mau. E o caso é que tal atitude de “sabe-tudo”, residente em cada pessoa, nunca se contenta com uma atuação estritamente individual. É atitude que insiste em envolver outras pessoas” (“Nossa Identificação Com Cristo”, JUERP, p. 29).
            Ser como Deus, conhecedor do bem e do mal, foi o que seduziu o homem e o levou a pecar e a morrer, do ponto de vista espiritual. O que Deus espera do homem é muito mais que atitude. É mudança de mente (do grego “metanoia”) e disposição de espírito. O homem se indispôs com Deus e morreu espiritualmente porque não entendeu que o dever-ser que Deus lhe propusera implica submissão, obediência, dependência e fé, coisas que por conta própria ele jamais poderia produzir ou adquirir. São caracteres da divindade. Em última análise, Deus quer que o homem seja muito mais que criatura. Ele deseja fazê-lo (e efetivamente tem feito) participante da natureza divina.
            A natureza transmitida em Adão é uma natureza rebelde, desobediente, insubordinada e incrédula. O homem morreu espiritualmente em Adão. Assim, perdeu a comunhão com o Criador, e as relações interpessoais tornaram-se difíceis, desde que todos só conseguem perseguir os próprios interesses. Somos uma raça egoísta, que só enxerga o próprio umbigo. Ainda quando realizamos o que julgamos ser o bem ao próximo, estamos de olho nas nossas boas ações e nos benefícios delas advindos a nós, não tanto no próximo. Procuramos justificar-nos perante Deus e perante os homens por nossos feitos. O “eu” é esse ser egoísta (parece redundante), e o seu coração é enganoso. A religião é a expressão inócua de uma alma perversa, que só pode chegar-se até Deus quando este se torna propício, se revela e produz uma transformação em seu interior.
            Sob esse prisma, religião alguma é boa, porque não produz nada além de ilusão naqueles que dela se tornam adeptos. Assim foi com o primeiro casal da história, que para esconder o seu pecado, e por causa da vergonha do erro (a noção de nudez nada mais era do que a culpa do pecado em suas consciências), coseu folhas de figueira e vestiu tangas. Deus não aceitou a oferta, ou melhor, a vestimenta. Ao invés, deu-lhes de graça e por graça uma veste de pele, que poderia cobrir-lhes de verdade, trazendo à luz uma figura clara da oferta de morte do “Cordeiro que tira o pecado do mundo”. O homem não pode imitar a Cristo, mas ele precisa revestir-se de Cristo. Só assim ele poderá ser justificado, santificado e glorificado. A imagem e semelhança de Deus só podem ser adquiridas em Cristo. Uma vez quebrado o vaso original (que nem sequer havia sido inteiramente formado), outro vaso precisa ser criado. 
__________
CONTINUA...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Para comentar, questionar, criticar, sinta-se à vontade!