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sexta-feira, 18 de março de 2011

O PRINCÍPIO ESPIRITUAL DA VISÃO - Parte 1 de 4


("Mas se o nosso evangelho ainda está encoberto, para os que se perdem está encoberto, nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus" –  II Coríntios 4: 3 e 4)

            No "Aurélio" aprendemos que a palavra "princípio", por extensão, significa base. No sentido filosófico, conforme o dicionarista, "princípio" significa a origem de algo, de uma ação ou de um conhecimento. Consideremos a visão como um sentido do corpo humano que nos permite conhecer o mundo exterior, os lugares, as pessoas, a realidade que nos cerca, e teremos a visão como um dos princípios do conhecimento. Não obstante, a própria visão está sujeita a um princípio espiritual e, nesse aspecto, ela é o antagonismo da fé.
            A fé é a prova das coisas que não se vêem, nos ensina o autor da carta aos Hebreus 1. "Pela fé", explica ele, "entendemos que os mundos foram criados pela Palavra de Deus, de maneira que o visível não foi feito do que se vê 2. O visível originou-se do invisível, em cumprimento à ordem divina, à Palavra de Deus, é o que nos mostra o texto. Tudo o que é invisível, tudo o que é espiritual, está sujeito a Deus e se torna visível ou se materializa mediante a sua ordem. O próprio Deus não está disponível à visão humana. Ele é Espírito, e só podemos conhecê-lO e adorá-lO em espírito e por causa da verdade a nós manifestada em Sua Palavra.
            Quando falamos em realidade espiritual a visão passa a ser uma fraqueza. Quem precisa ver para crer é fraco, impotente, morto do ponto de vista espiritual; em última palavra, incrédulo. O exemplo clássico é o de Tomé, que tem sido seguido por gerações, mas que não foi o primeiro. No jardim do Éden temos o exemplo mais antigo da fraqueza da visão, a saber, o exemplo de Eva, que comeu da árvore do conhecimento do bem e do mal porque, além de ser enganada pela serpente, não teve fé na Palavra de Deus. Por que não teve fé? Porque se deixou levar pela visão. A visão gerou a fé na palavra da serpente em detrimento da Palavra de Deus: "Vendo a mulher que a árvore era boa para comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, que estava com ela, e ele comeu" 3. As palavras da serpente foram acreditadas porque corroboradas pelo sentido da visão, de maneira que dando ouvidos ao tentador e não crendo na veracidade da advertência que Deus dera a Adão 4, Eva abandonou a fé, desprezou a Palavra de Deus, transgrediu a ordem divina, e por isso morreu espiritualmente. Não somente ela, mas também Adão a quem ela deu de comer do fruto proibido. Surge aí o pecado original, que se expressa na iniqüidade e na incredulidade (do grego Adikias e Hamartiós), o qual gerou o princípio espiritual da visão a que estão sujeitos os que descendem de Adão. O princípio espiritual da visão é, portanto, causa e conseqüência do pecado.
            Adão e Eva sofreram imediatamente o resultado do erro: morreram espiritualmente. Passaram a conhecer o bem e o mal, conforme era de se esperar, mas não alcançaram o "ser como Deus", ilusão lançada pela serpente que certamente seduziu o coração de Eva e a motivou a transgredir. Os olhos de ambos foram abertos, e viram que estavam nus 5. É óbvio que a figura dos "olhos abertos" refere-se à consciência, que passou a ser caída, corrompida, depravada, sendo que ambos passaram a notar a própria nudez e a envergonhar-se dela. "Olhos abertos", paradoxalmente, passou a significar alma escravizada, mente fechada, entendimento obscurecido, espírito morto, coração impuro. Sem dúvida, a visão foi um dos sentidos presentes no palco da queda que influenciou a escolha de Eva e deu origem ao pecado. O estado pecaminoso passou a todos os homens, vez que em Adão todos foram feitos pecadores 6.
            Ver para crer, portanto, passou a ser a única opção do homem natural, do descendente de Adão. Tomé, o Dídimo (o "dividido") duvidou do testemunho dos outros discípulos quanto à ressurreição de Cristo. Disseram eles: "vimos o Senhor!", ao que ele replicou: "Se eu não vir o sinal dos cravos em sua mão, e não puser a mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei" 7. A incredulidade de Tomé era patente, ao ponto de não apenas duvidar da palavra dos discípulos (pessoas certamente muito chegadas a ele), mas também de sua própria visão. Tomé não se contentaria apenas com a visão do Cristo ressurreto, considerando imprescindível ver os sinais dos cravos nas mãos e tocar na ferida da lança, no seu lado. Uma fé assim condicionada certamente não é fé. De fato, embora tenha saciado sua curiosidade, extirpado a insegurança e o medo, só reconheceu que Cristo estava vivo pelos sentidos do tato e da visão, pelo que Jesus lhe disse: "Porque me viste, creste?! Bem-aventurados os que não viram e creram" 8. Felizes os que não precisaram e os que não precisam da visão para crer, porque estes são os que verdadeiramente alcançaram a fé, a qual não pode originar-se do princípio espiritual da visão, senão do próprio Deus.

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CONTINUA...

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