("Mas aquele a quem pouco foi perdoado, pouco ama" - Lucas 7:42-b)
Não é possível definir Deus em uma palavra. Ele próprio utiliza-se de vários vocábulos e diferentes atributos para revelar-se em Sua Palavra. Penso que nenhum deles é tão significativo quanto o amor, sendo a meu ver o aspecto da Divindade que mais particularmente nos atinge. Deus é amor, portanto todos os mandamentos podem ser resumidos nisso: amar a Deus de todo o coração, alma e entendimento, e ao próximo como a nós mesmos. Disso depende toda a Lei e os profetas, conforme nos revela o Filho de Deus em Mateus 22:39. O cumprimento da Lei é o amor.
O apóstolo Paulo trata tal atributo como "um caminho ainda mais excelente". Mais excelente que todos os dons que ele conhecia muito bem, inclusive a fé e a esperança (I Coríntios 13). Que sentimento precioso e ao mesmo tempo misterioso! Como pode um Deus perfeito e todo-poderoso amar tão profundamente criaturas tão débeis e imperfeitas como nós? É uma pergunta sem resposta, ainda que nos seja revelada a natureza, a fonte, o veículo e a finalidade desse amor. Por mais que saibamos sobre ele, jamais conseguiremos explicá-lo. É algo que está infinitamente acima de nossa capacidade de compreensão.
O amor de Deus é a um tempo intrigante e fascinante, e não obstante apresentar inúmeras facetas, as mais notáveis delas, segundo penso, são a GRAÇA e o PERDÃO. Não temos pretensão nem condição de analisá-las exaustivamente nessas poucas linhas, mas abordaremos alguns de seus aspectos que nos revelam muito claramente a natureza do amor divino.
A Banda U2 declara em uma de suas letras: "Você nunca conheceu o amor antes de cruzar a linha da graça". A declaração é teologicamente correta. Como conhecer o amor de Deus sem experimentar a Sua graça? Se é exatamente pela graça que Deus manifesta Seu amor, não podemos sentir nem confessar o amor se não conhecermos a graça. Por Sua graça Deus manifesta o Seu perdão. Graça e perdão estão intrinsicamente ligados, numa relação de causa e efeito. Nessa relação, o amor dá o tom.
No contexto onde se acha inserido o texto-base, vemos uma clara manifestação da graça e do perdão de Deus, revelados em Cristo, refletindo o Seu amor. Jesus está aí relatando a experiência de uma mulher cujos pecados foram perdoados, e cuja demonstração de amor e de gratidão a Jesus era profunda, visível, inquestionável. Por fim, Jesus declara que a sua fé lhe salvou. A história verídica foi uma aplicação exata e imediata da parábola referida pelo Mestre com o intuito de provocar o assunto. Na parábola também fica claro que quem mais é perdoado mais ama. Essa é a lição aí presente que revela, no plano espiritual, que só aqueles que conhecem o verdadeiro perdão de Deus manifestado por graça em Cristo Jesus podem de fato confessar e demonstrar que amam a Deus, por terem o amor divino derramado em seus corações pelo Espírito Santo que os regenerou.
Não por mera coincidência, a lição teve como alvo um religioso, cuja postura discriminatória em relação à mulher pecadora deixou transparecer o antagonismo entre religião e graça. Alguém já disse: "A religião é uma escada sem fim construída pelo homem para chegar-se a Deus. Graça é um elevador que Deus construiu para chegar-se ao homem. Graça é Deus dando tudo e fazendo tudo por quem nada merece, nem tem condições de merecer. Religião é o homem fazendo inutilmente de tudo para ser aceito por Deus". Há muitos religiosos que se julgam amados por Deus simplesmente porque vêem o cumprimento de algumas promessas de Deus em suas vidas, notadamente no aspecto material. É certo que a Palavra de Deus sempre se cumpre, e que Deus faz nascer o sol sobre justos e injustos. Todavia, o amor de Deus só é sentido verdadeiramente e em sua plenitude por aqueles que já experimentaram a Sua graça, que já receberam o Seu perdão em Cristo Jesus.
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CONTINUA...
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