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quarta-feira, 13 de julho de 2011

DEVER, PODER E QUERER - Parte 8



            O poder para realizar algo, isto é, a capacidade ou a permissão, ou ambos os fatores conjugados, não tem o condão, por si só, de tornar esse algo suscetível de realização. É mister que esteja presente o elemento volitivo. Quem nunca ouviu a frase "faltou vontade política?". Sem vontade, política ou não, o homem não se dispõe a prosseguir em seus ideais, sonhos ou projetos, pessoais ou coletivos. Sob o prisma inverso, é muito popular a idéia do "querer é poder". Há muitas pessoas que seguem esse lema de vida: se eu quero, eu posso. Se o poder não prescinde do querer, este de forma ousada propõe-se a mover as circunstâncias internas e externas em prol dos objetivos da vontade.
            Essa idealização do querer muito se assemelha à filosofia do "Príncipe" de Maquiavel, segundo a qual "o fim justifica os meios". Em outros termos, se eu quero, nada poderá me impedir de concretizar meus ideais. Nossa vontade é um fator importante de expressão da personalidade, e por isso mesmo um fator delicado e perigoso. Alguém já disse: "Tome cuidado com aquilo que deseja; você pode conquistá-lo". A lição aí é a de que nem sempre desejamos coisas adequadas e benéficas.
            No que concerne à salvação do espírito, da alma e do corpo, pois é esse o enfoque dessa série de meditações, o homem natural não exerce a vontade da maneira que convém, nem poderia fazê-lo, pois a nossa vontade é escrava do pecado desde que nascemos. É dito que o homem dispõe de liberdade de escolha, o chamado "livre-arbítrio" e, portanto, pode e deve manifestar seu desejo na direção da sua salvação. É nesse sentido que se repetem dominicalmente os apelos nos púlpitos de muitas igrejas ditas cristãs. Cumpre alertar, entretanto, que a idéia faz muito bem ao ego, mas está totalmente divorciada da verdade, pois ao arrepio da Palavra de Deus.
            É certo que o homem dispõe de liberdade para realizar muitas coisas. Contudo, não é livre para deixar de pecar. Se o fosse, para que o sacrifício do Cordeiro que tira o pecado do mundo e que nos liberta paulatinamente do poder do pecado? SANTO AGOSTINHO distinguiu muito bem a situação do homem, antes e depois de ser salvo:

ANTES DO PECADO
Posse non peccare
DEPOIS QUE PECOU
Non posse non peccare
DEPOIS DA REGENERAÇÃO, COM O CORPO TERRENO
Posse non peccare
DEPOIS DA REGENERAÇÃO, COM O CORPO CELESTIAL
Non posse peccare

            No quadro acima identificamos o homem natural na 2a. realidade, em que o pecar é uma possibilidade natural, e o não pecar uma impossibilidade.
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CONTINUA...

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