Ninguém pode ser legitimamente filho
de Deus sem morrer para o pecado em Cristo. Só assim podemos estar vivos para
Deus. Nossa posição deixa de estar no "eu" e passa a estar em Cristo.
Por isso, Paulo se gloriava na cruz de Cristo, onde o seu "eu" já
estava crucificado (ele cria nisso), e a vida, o viver na carne, era um viver
de fé pela suficiência da vida de Cristo. Isso implica vitória sobre o pecado?
Sim! Libertação do pecado? Sim! Contudo, arrisco dizer que implica, antes de
qualquer coisa, sentimento de insatisfação com o pecado. Essa é a característica
primeira (e muitas vezes não manifesta exteriormente) daquele que foi feito
nova criatura em Cristo, não se podendo olvidar que é uma característica pela
qual começamos e com a qual terminaremos a carreira que nos está proposta.
A insatisfação com o pecado é obra
de Deus por Seu Espírito vivificante. É o prenúncio de mudanças, mas também o
sintoma delas. Pedro, escrevendo aos eleitos de Deus, regenerados para uma viva
esperança pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, exorta: "Como filhos obedientes, não vos conformeis
com as concupiscências que antes tínheis na vossa ignorância" (I Pedro
1:14). A conclamação a um viver santo só pode ser feita a quem já foi
regenerado. Ofereça um prato de frutas frescas a um abutre, e ele sequer saberá do que se trata. Agora, se ele for feito uma nova criatura, se ele, de abutre, passar a
ser canário, certamente mudará seus hábitos alimentares e aceitará de bom grado a sua oferta. Quando passamos
das trevas para a luz, da ignorância para o conhecimento da verdade, da
natureza de pecado para a natureza divina, passamos da insatisfação no pecado
para a insatisfação com o pecado. Quando, pela fé, nos consideramos mortos para
o pecado, mas vivos para Deus em Cristo, passamos a abominar as manifestações
pecaminosas em nossa experiência e na experiência dos outros. Crucificados para
o mundo, desejaremos nunca mais tomar a sua forma. Não apenas não nos
conformamos, mas também não nos satisfazemos com a forma, a aparência, a
imagem, a filosofia, as religiões, os ídolos, as paixões e concupiscências
deste mundo.
Não sentimos assim por sermos bons,
ou melhores que os outros. Sentimos isso porque fomos feitos novas criaturas em
Cristo, de maneira que a glória não pode ser nossa, mas apenas dEle. Os
fracassos dos regenerados são a mola propulsora para a exaltação dAquele cuja a
graça é não apenas a razão de nossa existência, mas a nossa própria
identificação: "Pela graça, sou o
que sou". Glória a Deus, porque, como Paulo, sinto que Cristo será
sempre glorificado em minha humilhação, de sorte que posso gloriar-me em minhas
fraquezas por causa da suficiência dEle em mim (o que para a mente humana
pode parecer loucura). Uma vez regenerados, passamos a conhecer as pessoas não mais
sob a ótica humana, por isso entendemos as declarações dos regenerados como
manifestação da graça, inclusive o "miserável homem que sou" e o
"principal dos pecadores" de Paulo. Quanto mais nos conhecemos, mais nos abominamos e mais glorificamos Aquele que é digno de toda a glória.
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CONTINUA...
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