"Têm os olhos cheios de adultério, e são
insaciáveis no pecado; engodam as almas inconstantes; têm um coração exercitado
na ganância, são filhos da maldição" - II Pedro 2:14
É possível que a simples leitura do
título e do texto-base leve o leitor mais desatento e preguiçoso a pensar que
estamos desenvolvendo um raciocínio vicioso, que parte de um ponto e retorna a
esse mesmo ponto. Insaciável é, até pela etimologia, equiparável a
insatisfeito, sendo mesmo termos sinônimos, conforme Aurélio Buarque de
Holanda. Aquele que nunca se sacia é, sem dúvida, um insatisfeito. Mas, o que
dizer da expressão "insaciável no pecado"? Trata-se de característica
dos falsos mestres, no ensino do apóstolo Pedro, mas é também traço marcante de
qualquer pessoa que se encontre escravizada pelo pecado: "Prometem-lhes liberdade, sendo eles mesmos
escravos da corrupção; porque de quem um homem é vencido, do mesmo é feito
escravo" (II Pedro 2:19). Interessa notar que tal expressão aparece
uma única vez nas Escrituras, precisamente no texto indicado. Obviamente, pode
ser que apareça de outras maneiras, sob outra roupagem, em termos que exprimam
a mesma idéia, não sendo o escopo desta meditação ficarmos retidos em seu
significado, haja vista ser mais importante, como já dito, a análise de sua
associação à escravidão do pecado.
O descendente de Adão nasce nessa
condição: escravo do pecado. Por isso é impossível ao mesmo saciar-se no
pecado. Nesse pensar, entendemos que o homem natural é, ao mesmo tempo, insatisfeito,
conquanto esteja sempre buscando satisfação no pecado. O refrão da música de
Mick Jagger é uma realidade para todos os que vivem escravizados ao pecado:
"I can't get no satisfaction" (eu não consigo me satisfazer). De
fato, como conseguir paz, felicidade ou satisfação no pecado? Existem coisas
mais importantes para o homem do que essas três, isto é, paz, felicidade e
satisfação? De acordo com o padrão do mundo, o paraíso seria a conjugação
dessas três metas. Se eu tenho paz, se estou feliz, e ainda por cima
satisfeito, o que mais poderia querer? Todavia, no pecado nenhum desses três
ideais pode ser atingido. Alguém já disse que não há nada que devamos temer
mais do que a paz no pecado, ou a paz com o pecado. Isso implica dizer que se
ainda estamos no pecado, e ele em nós, não podemos estar contentes com essa
falsa paz, mas devemos temê-la. Por outro lado, se pensamos não estar mais no
pecado, mas convivemos tranqüilamente com ele, é de se indagar se não estamos
nos iludindo. Precisamos do temor do Senhor nessa questão.
Quem está morto no pecado não se
incomoda com as manifestações do pecado, mas também não se sacia com ele. Vale
dizer: não há nada que faça tal homem pleno, saciado, em paz, feliz e
satisfeito. Assim, ele sempre se aprofundará no pecado, no seu próprio ego, nas
coisas do mundo, até mesmo na religião, em busca de paz, felicidade e
satisfação, mas jamais as obterá, qualquer que seja a válvula de escape que
tenha escolhido. Trata-se de escravidão que só pode ser desfeita na cruz de
Cristo. O Cordeiro de Deus precisou morrer para o pecado (o nosso), que atraiu
a Seu corpo, a fim de que, morto para o pecado, ressuscitasse em Espírito,
levando-nos a ressuscitar juntamente com Ele, de modo que, em última análise,
andemos nós em novidade de vida, assim como Cristo agora vive para Deus. A
propósito, vale lembrar: "O Calvário mostra como os homens podem ir longe
no pecado, e como Deus pode ir longe para salvá-los" (H.C. TRUMBULL).
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CONTINUA...
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