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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

ÚLTIMOS QUE SÃO PRIMEIROS - Parte 3


Primogênitos Preteridos
 
            Todo esforço humano no sentido de alcançar Deus é inócuo. O homem só se chega a Deus quando este, por graça, se chega a ele, retirando-o de seu estado miserável e transportando-o do reino das trevas para o Seu Reino de luz. A religião, à parte da graça divina, é, portanto, ineficaz no seu propósito de "religar" o homem a Deus. É pela graça que somos salvos.
           Na primeira filiação humana vemos uma figura bem clara disso. Abel parece ter entendido que só a graça pode nos fazer chegar a Deus. Por isso sua oferta que apontava para o sacrifício de Cristo (a oferta de graça do próprio Deus) foi aceita. A oferta de Caim, um símbolo da religião, pois representava o fruto do esforço próprio, foi rejeitada. Caim, o primogênito, foi rejeitado. Abel, o mais novo, aceito.
            A herança do Reino de Deus só pode ser conquistada por graça do próprio Deus. Com efeito, não sendo nós filhos legítimos (pois desde a queda de Adão o pai espiritual do homem é o diabo), é preciso sermos adotados em Cristo, mediante a ação do Espírito Santo. Como já vimos, a lei (o filho mais velho) não pode fazer do homem participante do Reino. Pode, quando muito, ajudá-lo a levar uma vida "casta" e isenta de certos tipos de problemas. A graça (o filho mais novo) sempre esteve nos propósitos de Deus, por amor ao Seu próprio Filho, o Cordeiro que já havia sido crucificado desde antes da fundação do mundo.
            Essa questão foi muito bem representada na história da filiação do povo judeu. O primogênito, isto é, o filho mais velho, era aquele que haveria de suceder, de herdar os bens do Pai. JOHN DAVIS ensina: "Os primeiros filhos, nascidos de um casal, gozavam de certos direitos e privilégios que não eram partilhados pelos outros filhos mais moços. O filho mais velho, ordinariamente, gozava os direitos de sucessão na família de que se tornava chefe e representante". Sem embargo dessa rigorosa tradição familiar, na história dos patriarcas os mais novos, isto é, os "últimos" é que acabavam herdando. Os primogênitos eram preteridos.
            Abraão recebeu a promessa de uma grande descendência. A promessa, na realidade, apontava para Cristo, pois é em Cristo que Deus chama a Sua descendência, por meio da graça e da fé que se manifestam nEle e através dEle. O "filho da promessa" era Isaque. O "filho da carne", da incredulidade, do esforço próprio, foi Ismael, que foi o primeiro, o mais velho. Qual dos dois foi aceito? Isaque, o último, o mais novo. Ismael foi expulso porque, conforme Deus mesmo declarou a Abraão, "será por meio de Isaque que a sua descendência há de ser considerada" (Gênesis 21:12). 
            Isaque, por sua vez, teve 2 filhos: Esaú e Jacó. Quem deveria ser o herdeiro? Esaú, o primeiro, o mais velho. Qual dos dois foi aceito? Jacó, o último, o mais novo. Antes de nascerem, Deus já havia escolhido Jacó, alvo e figura de Seu amor gracioso: "Todavia, antes que os gêmeos nascessem ou fizessem qualquer coisa boa ou má - a fim de que o propósito de Deus conforme a eleição permanecesse, não por obras, mas por aquele que chama - foi dito a ela: "O mais velho servirá ao mais novo". Como está escrito: "Amei Jacó, mas rejeitei Esaú"" (Romanos 9: 11 e 12). Quem serviria quem? O mais velho serviria ao mais novo. A Lei serve à graça, e não o contrário. O propósito de Deus sempre foi manifestar a Sua graça. A Lei foi apenas um condutor para a realização de Seu propósito. É interessante que Jacó foi amado por Deus quando ainda no ventre de sua mãe. O que é isso? É graça! Pela Lei, Esaú seria o herdeiro, mas Deus moveu todas as circunstâncias de modo que a primogenitura passasse às mãos de Jacó. Mas não foi só isso. Jacó, que antes não conhecia a Deus, passou a se chamar Israel, depois de ter sido quebrantado, depois de haver lutado com um anjo do Senhor, experiência que aponta para a regeneração do pecador, operada mediante a morte e ressurreição com Cristo. Israel permaneceu por causa do propósito de Deus de chamar a Sua descendência em Cristo.
            Israel teve 12 filhos. O último, José, tornou-se o primeiro. Quem governou sobre quem? José foi posto em um alto lugar e governou sobre todos os demais irmãos.
            José teve 2 filhos: Manassés e Efraim. Ambos foram levados à presença de Israel, o avô, para receber deste a benção. Quem recebeu a benção da mão direita? Efraim, o último, o mais novo. Vejam que interessante: "Quando José viu seu pai colocar a mão direita sobre a cabeça de Efraim, não gostou; por isso pegou a mão do pai a fim de mudá-la da cabeça de Efraim para a de Manassés, e lhe disse: "Não, meu pai, este aqui é o mais velho; ponha a mão direita sobre a cabeça dele". Mas seu pai recusou-se e respondeu: "Eu sei, meu filho, eu sei. Ele também se tornará um povo, também será grande. Apesar disso, seu irmão mais novo será maior do que ele, e seus descendentes se tornarão muitos povos". E colocou Efraim à frente de Manassés" (Gênesis 48: 17 a 20).
            Parece difícil entender como os primeiros, os primogênitos, os mais velhos, foram preteridos dessa maneira. Trata-se, entretanto, de uma figura maravilhosa do propósito de Deus segundo a Sua graça, a qual está muito acima da Lei.
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CONTINUA...

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